Revelação é o título do Apocalipse. Na Bíblia, este termo significa "uma revelação sobrenatural de verdades divinas desconhecidas dos homens e impossíveis de ser descobertas por eles."[i] Nós sabemos muito bem o que Deus revelou aos homens, que não conheciam: Jesus Cristo, o salvador da humanidade. Portanto, todo o conteúdo da Bíblia traz esta revelação de Deus. João mesmo diz isto, quando afirma que esta revelação procede de Jesus Cristo, que Deus lhe deu. Jesus traz a revelação de Deus e ele mesmo é a revelação.
A revelação é direcionada aos seus servos. A palavra grega para servos, no NT, significa um "escravo". "Um 'servo' tornava-se propriedade daquele que o havia comprado. Cessava, neste momento, de viver segundo sua própria vontade. Sua existência dependida totalmente do seu senhor."[ii] Jesus os comprou com seu próprio sangue.
O conteúdo da revelação são as coisas que devem acontecer em breve (ou rapidamente). O verbo dever é uma ordem de Deus e ninguém pode impedir que isto aconteça. É Deus que faz a história. As coisas que Deus irá fazer acontecer serão reveladas a João e elas ocorrerão em breve. O breve de Deus está fora do nosso tempo; portanto, precisamos estar preparados para a manifestação do senhor, pois ninguém sabe nem o dia nem a hora (Mt 24.42-44).
Quem traz esta revelação é um anjo (cf. 22.6,16). Deus tem seus mensageiros especiais, quando em ocasiões especiais quer revelar algo diretamente do céu aos seus servos. E ela é demonstrada ao seu servo João. João não se chama de apóstolo, mas servo para demonstrar seu estado pessoal em seu relacionamento com seu Senhor. João é instrumento que irá copiar e escrever o que o seu Senhor lhe revelou.
João é aquele que testemunhou a palavra de Deus e o testemunho de Jesus. João conheceu pessoalmente a Jesus e conheceu o que Deus havia revelado através de Jesus enquanto esteve na terra.
Para aquele que lê, ouve e observa o que está sendo revelado, é considerado bem-aventurado (ocorre mais sete vezes no livro). Aqui temos uma linguagem de culto, visto que o texto era lido em um ambiente público e litúrgico.
Mas há pressa em se guardar (viver o conteúdo da revelação), visto que o tempo está próximo. Não é o tempo do homem, mas o de Deus que se aproxima. João aqui se refere ao momento de estarmos eternamente com Deus nos céus (cf. 21 e 22). Por isso, bem-aventurado é aquele que se prepara para ser recebido por Deus para entrar no novo céu e na nova terra. Para preparar os servos é que Deus revela a João a mensagem escrita no Apocalipse, a fim de que todos aquele que se agarram às promessas de Deus sejam encontrados fiéis no momento decisivo.
1.4-8 O destinatário das revelações
Temos a indicação a quem são dadas estas revelações. Aqui temos toda as indicações de uma correspondência nos moldes do NT: apresentação do autor; a indicação dos endereçados; a saudação; a doxologia.
João se apresenta com muita simplicidade – apenas João. Todos o conheciam (o nome dele aparece 4 vezes no Apocalipse: 1.1,4,9; 22.8).
O destinatário aparece como sendo às sete igrejas, às que se encontram na Ásia. Ásia era uma província romana, que era governada por um procônsul, nomeado a cada ano pelo senado romano. Mesmo que o número das sete igrejas aparecem em 1.11, precisamos entender que o destinatário da carta não se restringe às sete, mas sim a toda a igreja. "As sete igrejas são simplesmente representativas de todas as igrejas, não só na Ásia, mas sim de todas as igrejas – de todas as partes do mundo e de todas as épocas da história humana. As características dessas igrejas podemos achar sempre de novo nas igrejas através do mundo e dos tempos. As advertências, portanto, e as palavras de consolo escritas para essas igrejas são também direcionadas e próprias para as igrejas deste fim do século XX."[iii]
A saudação comum nas cartas era: graça e paz. A base da saudação tem origem na ação de Deus pelo homem pecador. A graça e paz que provêem de Deus fazem parte da saudação do povo que se identifica como sendo de Deus.
João identifica a origem da graça: o Deus Triúno. Deus Pai é caracterizado como o Deus que é eternamente Presente: aquele que é hoje e era o mesmo no passado. Os Sete Espíritos são o Espírito Santo: "é o Espírito de Deus em sua manifestação pela palavra às igrejas, ao povo de Deus aqui na terra. Pelo seu Espírito Deus se comunica com o seu povo mediante a sua palavra."[iv] E Jesus Cristo, que aparece em terceiro lugar, que é a testemunha digna e de confiança, o primogênito dos mortos e o soberano dos reis da terra. Nesta tríplice característica de Jesus, João antecipa o conteúdo do livro: Jesus é o conteúdo do livro pois ele é a testemunha da parte de Deus, revela-se que ele ressuscitou e ele será vitorioso sobre tudo no final.
A obra de Cristo em nosso favor trouxe conseqüências: o amor de Cristo nos trouxe liberdade sobre o pecado e este amor aparece em forma concreta: o seu sangue.
Assim como no êxodo, onde Deus proporciona a libertação do povo de Israel, constituindo-o em reino de sacerdotes (Êx 19), assim também são os cristãos. Aqueles que crêem na obra de Cristo em seu favor, são chamados para fazerem parte de um reino que representa Deus na terra.
Quem vem nas nuvens? É Jesus, pois assim como subiu pelas nuvens, do mesmo modo retornará no grande dia (At 1.11).As nuvens não o encobrirão, pelo contrário, "todo o olho o verá" – todos estarão perante Jesus, inclusive aqueles que o mataram e que àquela altura já estavam mortos. Mas muitos lamentarão pelo fato de estarem perante ele e não houver mais tempo para salvação. Naquele momento não haverá mais oportunidade para arrependimento e fé em Jesus; eis que ele está diante de todos.
No v. 8, João nos apresenta o verdadeiro autor da revelação: o próprio Deus. O Alfa e o Ômega, o princípio e o fim de todas as coisas. Deus é aquele que é, que era, e o que vem vindo.
Portanto, o Todo Poderoso é o autor da revelação a João e aos cristãos, ele é o Deus dos Exércitos, aquele que tem autoridade absoluta e poder de exercer essa autoridade em todos os eventos e acontecimentos, seja no mundo, seja no céu, seja no submundo.[v]
===============
Notas de Rodapé
[i] LADD, George. Apocalipse – introdução e comentário. p. 17.
[ii] ROTTMANN, p. 33.
[iii] ROTTMANN, p. 42.
[iv] ROTTMANN, p. 44.
[v] ROTTMANN, p. 57.
[i] LADD, George. Apocalipse – introdução e comentário. p. 17.
[ii] ROTTMANN, p. 33.
[iii] ROTTMANN, p. 42.
[iv] ROTTMANN, p. 44.
[v] ROTTMANN, p. 57.
(Rev. Clóvis Prunzel)
Nenhum comentário:
Postar um comentário