BuscaPé, líder em comparação de preços na América Latina

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Curso de Formação de Líderes - Parte 6

PRINCÍPIOS PARA A INTERPRETAÇÃO BÍBLICA

Introdução: É muito importante que o estudioso da Bíblia conheça algumas regras e princípios básicos para a interpretação bíblica, a fim de que não venha a cometer erros na compreensão dos textos sagrados e para que não ensine inverdades. Para que a interpretação bíblica flua com mais transparência, seriedade e precisão, foram estabelecidos alguns princípios e regras básicas que muito auxiliarão o estudioso a melhor e mais profundamente apropriar-se das verdades bíblicas , e para melhor ensiná-las. As considerações que seguem foram sistematizadas pelo Dr. Paulo Frederico Flor, professor do ICSP - Escola Superior de Teologia, dados no curso de Hermenêutica Bíblica, ministrado no 1º trimestre de 1988.

Para ser um bom intérprete das Escrituras Sagradas, deve-se ter fé e o auxílio do Espírito Santo. Lutero disse: " É preciso que nos subordinemos às Escrituras". A interpretação bíblica deve ser um contemplar a Bíblia. Franzmann fala que foi a falta de subordinação à Escritura que tornou a interpretação de muitos teólogos em falsa e vazia. Muitos teólogos se aproximam das Escrituras Sagradas com preconceitos e pressuposições erradas, e isso desvia completamente a sua concepção das verdades reveladas pelo Senhor Deus. As regras ou princípios que norteiam a interpretação bíblica são:

1 - O Sentido Literal é Um Só - O texto só pode ter um sentido intencional. Na antiguidade, alguns teólogos (Os Escolásticos) davam quatro sentidos a um texto bíblico: O sentido literal, o alegórico, o sentido moral e o sentido anagógico. O sentido literal era o sentido evidente. O sentido alegórico determinava o que deviam crer. O sentido moral ensinava o que deviam fazer e o sentido anagógico ensinava o que deviam esperar. Exemplo: Jerusalém:

-- sentido literal: capital da Judéia
--sentido alegórico: a Igreja
--sentido moral: a alma humana
--sentido anagógico: a cidade celestial.

         Quanto a isso, Lutero disse que somente o sentido literal da Escritura constitui a essência da fé e teologia cristã. As palavras do Espírito Santo não podem ter mais de um sentido, se não o literal. Algumas observações são necessárias:

a) o fundamento desse princípio está na escritura. Se atribuimos diversos sentidos a uma palavra ou frase, obscurecemos aquele sentido correto, aquele que o Deus Espírito santo quis transmitir através do escritor bíblico.
b) esta regra ou princípio também permanece de pé em passagens menos claras, sobre cujos sentidos os intérpretes divergem.
c) Não há contradição com este princípio quando uma palavra ocorre uma só vez no texto, mas relaciona-se com dois ou mais textos, e, por isso, pode ser tomada com mais de um sentido. Exemplo: O relato de Joel 2.13 refere-se à duas situações: rasgar o coração e rasgar as vestes. É claro que, literalmente, só é possível rasgar as vestes; mas, o que Deus quer aqui é que haja uma séria postura de coração: arrependimento, o que ele chama de rasgar o coração. Também quando uma palavra se repete numa mesma passagem com sentidos diferentes, ela tem cada vez um só sentido. João 4.24.
d) este princípio não impede que a mesma palavra ou frase pode receber diversas aplicações e que seu sentido único pode ser aplicado à pessoas diferentes e à diversas circunstâncias e pessoas diferentes. 1 Coríntios 2.9 fala da grandeza do Plano da Salvação, o qual Deus preparou " para aqueles que o amam!" à princípio, o apóstolo Paulo fala aqui da revelação da Salvação em Cristo (na Graça); mas, podemos também dizer que esta revelação da graça de Deus em Cristo é tão grande que a sua só a sua consumação final (na glória) nos permitirá ver as suas inteiras proporções.
e) Para a aplicação de uma passagem que deve ser tomada no sentido alegórico, a Bíblia mesmo indica quando isso tem que ser feito. Gálatas 4.21-31.

2 - O Sentido Literal tem Preferência: O intérprete só pode afastar-se do sentido literal se a passagem o obrigar. Seguem agora algumas razões que nos obrigam a abandonar o sentido literal:

a) Quando se atribui vida a um objeto inanimado, trata-se de uma figura de linguagem: prosopopéia ou metáfora. Ex.: João 8.12 Jesus diz que ele é a " luz do mundo!" ele não é uma lâmpada, uma lamparina; mas, o que ele oferece e dá tem o efeito de iluminar a vida de quem o recebe pela fé. Em João 10.7 Jesus diz: " Eu sou a porta!" é óbvio que ele não é uma porta de madeira, com ferrolhos , marco e trancas. Ele realiza aquilo a que se serve uma porta: dar passagem. No caso citado, ele dá passagem para a vida da ovelhas no aprisco, e para alimentá-las.
b) Quando o contexto indica claramente que se trata de uma figura. Ex.: A Bíblia diz que Jesus é o " Cordeiro de Deus!" é óbvio que ele não é um cordeiro, literalmente; mas que ele é como o cordeiro que é oferecido em sacrifício para apagar, de uma só vez, os nossos pecados. (Jo 2.29). Outros exemplos: Fp 3.2; Lc 13.32; Lc.8.21
c) Quando o gênero literário o indica: a criação deve ser tomada em seu sentido literal. As parábolas têm sentido figurado.
d) Quando se impõe o usus loquendi (a maneira de falar). Um exemplo disso é quando Josué diz que o sol parou. Na verdade, o sol sempre está parado, e é a terra que gira em torno do sol.
e) A analogia da fé: deve-se abandonar o sentido literal quando este fere um artigo de fé. A analogia da fé é uma correta relação entre dois ou mais ítens num corpo de doutrina. Exemplo: Tiago 2.14,26 não quer provar a justificação pelas obras. Isso deve ser entendido à luz da doutrina da justificação pela fé.

3 - A Escritura Se Interpreta a Si Mesma - Nesta regra é observado o fato que a tradição , a razão, o consenso da Igreja, não devem definir a verdade; mas, a Palavra de Deus deve se interpretar a si mesma. Lutero enfatizou que só a Escritura deve nos guiar, e nenhuma outra regra humana. Alguns princípios derivados desse princípio:

a) as passagens mais obscuras devem ser interpretadas pelas mais claras. Ex.: Apocalipse 20 deve ser interpretado á luz de Mateus 24,25 e Marcos 13. Em Mateus e marcos Jesus fala que fará somente um julgamento e virá somente uma vez para a ressurreição. Algumas seitas pregam que o milênio envolverá mais duas vindas de Cristo.
b) Uma passagem que é sedes doctrinae (sede da doutrina) deve ser uma passagem clara. Ex.: a descida de Cristo ao inferno está claramente colocada em 1 Pedro 3.18-20.
c) Toda a interpretação deve concordar com a analogia da fé; ou seja, com tudo o mais que a Bíblia diz sobre o assunto. Romanos 12.6. (Ler o Livro de Concórdia, Apologia IV, 27,60.
d) Deve se observar cuidadosamente o paralelismo de idéias, tomando as seguintes precauções:
--Nem sempre uma palavra com determinado sentido tem o mesmo sentido no outro texto. Por isso, o exame das passagens paralelas deve sempre observar o contexto. Comparar Gálatas 3.16 com 3.29.
--As mesmas frases repetidas em textos diferentes nem sempre têm o mesmo sentido. Exemplo: Comparar Mateus 5.32, 19.9, e Marcos 10.11,12 e Lucas 16.18 e 1 Coríntios 7.10-15.
OBS.: é importante a distinção entre o paralelismo verdadeiro e o aparente. O paralelismo verdadeiro é real e o paralelismo falso é verbal; ou seja, de palavras apenas. Comparar João 12.1-8 com Lucas 7.36-50. Não há paralelismo real; mas, apenas, de palavras, pois os relatos são distintos.
e) Há uma relação estreita entre uma profecia do AT e o seu cumprimento no NT, que Deus mesmo determina, e que não pode ser determinada pelo homem. Ex.: Oséias 11.1 e Mateus 2.15; Jeremias 31.15 comparar com Mateus 2.17. Na interpretação das profecias do AT deve-se tomar alguns cuidados:
--indagar se no NT algum acontecimento foi interpretado á luz dessa profecia. Se isso ocorreu, o intérprete estará seguro sobre a correta interpretação da profecia. Ex.: Is.7.14 comparar com Mt 1.22,23
--Se não ocorrer um tal cumprimento expresso no NT, o intérprete deve examinar todos os detalhes da profecia e verificar se ela se cumpriu na vida de alguma pessoa ou num determinado acontecimento; se isso ocorreu, então o intérprete pode deduzir o seu cumprimento, se não houver outros acontecimentos históricos ou pessoas a que a profecia possa se referir. Ex.: Daniel 11.36-39, conferir com 2 Ts 2.3, 1 Tm 4.1-3.
--Onde a profecia do At. Fala da abolição do culto levítico e dos preceitos cerimoniais do AT, podemos reconhecer nisso uma profecia relativa ao tempo do NT. Ex.: Jr 31.31-34 refere-se à época do NT em Cristo.
--Os profetas do AT falam da bem-aventurança do céu em termos de bem-aventurança material; porém, elas devem ser compreendidas num sentido espiritual. Ex.: Isaías 2.2-5; 11.6-9; 60.17-20.
--O intérprete não se deve perturbar se de vez em quando as profecias que falam de Cristo são colocadas lado a lado com passagens que falam de assuntos contemporâneos. Veja o contexto de Is 7.14; Mq 2.12-13.

Tarefas para Casa:

a) Fazer os passos 3,4,5 do estudo de temas, conforme o capítulo 5.
b) Rescrever , se necessário, as partes assinaladas do Estudo bíblico

(Este material faz parte de um estudo maior, elaborado pelo pastor Sílvio, de Nova Venécia - ES. Veja as outras partes neste mesmo blog)

Nenhum comentário: