Povos de todas as épocas, de todos os lugares, querem e esperam por grandes líderes que possam satisfazer as suas necessidades mais urgentes. Os povos querem líderes que possam conduzi-los para uma vida melhor. E de preferência que possam fazer isso sem que seja necessário algum esforço, trabalho ou algum sacrifício.
E por causa deste desejo, desta ânsia por uma vida melhor, que as pessoas se deixam levar, se deixam iludir ou enganar, especialmente em épocas de eleições, por aqueles candidatos que tem capacidade para fazer muitas promessas bonitas, ou que prometem melhorar a vida de todos.
Mas nem sempre tem sido fácil a vida de líderes que prometem aquilo que depois não podem cumprir. Muitos líderes tem sido eleitos por despertarem grandes esperanças nas pessoas. Mas quando as pessoas descobrem que aquelas promessas não são cumpridas, vem a cobrança e muitos líderes acabam no descrito e até odiados por muitas pessoas.
Hoje é o assim chamado Domingo de Ramos. Começa a semana santa. Lembramos hoje quando Jesus entrou em Jerusalém, a grande cidade dos judeus, para lá ser preso, morto, sepultado mas também ressuscitado dentre os mortos.
E segundo a narrativa dos evangelhos, Jesus também foi recebido como um grande líder. Aliás nem parece que Jesus está indo ao encontro da morte. Parece que ele vai ao encontro do triunfo, da vitória final.
Uma grande multidão o acompanhava. E outra multidão vem ao encontro dele. E as pessoas cantam: bendito é o rei que vem em nome do Senhor.
As pessoas cortavam ramos de árvores, ou folhas de palmeiras, para coloca-las no caminho. Outras pessoas tiravam suas capas, parte da sua roupa, e as colocavam no caminho por onde deveria passar o jumentinho no qual Jesus vinha montado.
No entanto, poucos dias depois, parte desta multidão que o recebera com cânticos de vitória, grita: crucifica-o! crucifica-o!
Pois Jesus não era o rei que a multidão queria, ou não era o líder que a multidão esperava. Jesus não fez aquilo que as pessoas queriam, mas fez aquilo que as pessoas mais precisavam, e continuam precisando ainda hoje. Ele foi para a cruz para salvar o mundo inteiro. Mas as pessoas não estavam interessadas nisto.
Durante todo o tempo do Antigo Testamento muitas promessas foram feitas a respeito do Salvador. Estas promessas foram feitas por Deus através dos profetas. Mas estas promessas foram entendidas erradamente. As pessoas passaram a ver neste Salvador prometido um líder que pudesse liberta-las dos seus problemas e das suas dificuldades terrenas. Especialmente muitas esperavam que Jesus fosse um grande rei desta terra, e que trouxesse libertação para o seu país, que estava sob o domínio de um governo estrangeiro.
Mas Jesus não satisfaz a expectativa popular. Jesus não faz aquilo que a multidão queria. E a multidão pede a sua crucificação, a sua morte.
Bendito é o rei que vem em nome do Senhor! Assim canta a multidão.
De fato Jesus é o Rei. Ele é o rei do universo. Como verdadeiro Deus que é, Cristo tem domínio sobre o mundo inteiro.
As Escrituras dão testemunho de que Cristo é o Rei. No Antigo Testamento, nas profecias, Jesus é anunciado como o grande rei do universo.
Também no Novo Testamento Jesus é anunciado como o Rei. Quando o anjo Gabriel anuncia para Maria que ela seria a mãe do Salvador, o anjo disse: ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim. Lc 1.33.
Pôncio Pilatos, governador da Judéia que conduziu o julgamento de Cristo, perguntou para ele: és tu o rei das judeus? E Jesus confirma que sim. 15.2.
Mas o problema é que Jesus não era o rei que as pessoas queriam. As pessoas queriam um rei que lhes desse alimento e diversão de graça. As pessoas queriam um rei que satisfizesse as suas necessidades físicas e terrenas.
Mas Jesus não havia vindo para ser um rei nesta terra. Ele mesmo disse para Pilatos: o meu reino não é deste mundo. João 18.36.
O apóstolo Paulo também escreveu: o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo. Rm 14.17.
Segundo aquele relato dos evangelhos, quando Jesus fez o milagre da multiplicação dos pães e dos peixes, alimentando aquela grande multidão faminta, eles também quiseram proclamá-lo como um rei desta terra. Jesus seria o rei que as pessoas tanto queriam. Poderia alimenta-las sem que precisassem trabalhar, ou lutar pelo pão de cada dia.
Mas Jesus diz para a multidão: vocês me procuram, não porque viram sinais e prodígios, mas porque ganharam comida e encheram a barriga.
E Jesus acrescentou: trabalhem, não pela comida que se estraga, mas pela comida que dura para a vida eterna. João 6.26-27.
Que tipo de Salvador as pessoas da nossa época querem? Qual é o Jesus que as multidões da nossa época querem.
A verdade é que o ser humano de hoje é o mesmo. As pessoas não mudam.
Se num determinado lugar, numa cidade ou vila, aparece um missionário que abre um salão ou uma igreja, e começa a anunciar um Jesus que cura das doenças físicas, que cura pessoas aleijados, um Jesus que cura os cegos, que liberta de espíritos mais, muitas pessoas logo correm para lá.
No Brasil crrescem muito aquelas igrejas que pregam um Jesus que torna ricos os que nele crêem.
Quando é anunciado um Jesus que liberta das dificuldades e sofrimentos da vida aqui na terra, esta pregação alcança sucesso.
E por isso que algumas igrejas fazem tanto sucesso, e crescem tanto em nosso país também, pois pregam a Teologia da Prosperidade, Teologia da Vida Fácil.
No evangelho de João, onde está relatado que a multidão quis proclamar Jesus como rei desta terra, está também relatado que Jesus se retirou. Mas então muitos dos que o seguiam também o abandonaram, e já não andavam mais com ele.
Não acontece a mesma coisa hoje? Certamente que sim. Muitos o abandonam quando descobrem que a vida cristã não é uma vida livre de sacrifícios e abnegação. Ser um seguidor de Cristo não quer dizer estar livre de dificuldades, sofrimentos e provações. Muitas vezes o cristão sofre até mais do que o incrédulo.
Então, no Domingo de Ramos, quando Jesus entra em Jerusalém, ele é aclamado como rei. Mas Jesus não era o rei que a multidão queria. Por isso essa mesma multidão pede a sua morte, gritando: crucifica-o! crucifica-o!
Mas podemos ter a certeza, de que se Jesus não é o rei que nossa natureza humana pecaminosa quer, ele é o rei que nós precisamos.
É verdade que Jesus nem sempre faz aquilo que nós queremos, nem sempre que e satisfaz nossos desejos egoístas e pecaminosos.
Mas ele fez o que o que nós mais tínhamos necessidade.
Agora vejam de que forma diferente ele é o nosso rei. Não nasceu num palácio de rei, mas nasceu numa estrebaria. Foi deitado numa manjedoura. Diz a Bíblia que o Verbo se fez carne e habitou entre nós. Ele se fez pobre para nós fôssemos enriquecidos espiritualmente.
Veio a este mundo cumprir a maior missão: salvar o mundo, salvar a nós pecadores da condenação eterna, do inferno.
E pra nos salvar é que Ele também entrou em Jerusalém. Ele sabia que estava indo ao encontro da morte. Mas ele vai assim mesmo. Ele vai movido por amor, por misericórdia para conosco.
O Jesus cuja morte nós lembramos na semana santa é o nosso rei. Talvez não seja o Rei que nós queremos, mas é o rei que nós precisamos. É o rei que nos libertou do Reino das trevas. Pelo seu sofrimento, pela sua morte e pela sua ressurreição, nós agora podemos nos tornar filhos de Deus e herdeiros da vida eterna.
Como rei, Jesus quer também governar e dirigir a nossa vida. Mas ele quer governar nossa vida, não como um governante ditador, de quem precisamos ter medo. Ele quer governar nossa vida com amor, com o Evangelho.
Ele não quer ser um rei de quem precisamos ter medo. Ele não quer ser obedecido como um rei que castiga que não lhe obedece. Ele quer ser obedecido como um rei que nos ama.
Assim ele governa a nossa vida, a sua igreja, com o evangelho.
E acima de tudo, Ele é o rei que preparou para todos os seus súditos, para todos que nele crêem, o reino da glória, o céu.
Como rei Ele vai voltar no último dia deste mundo, para buscar todos aqueles que nele crêem, que permanecerem fiéis a Ele até o fim.
Que ele seja o rei da nossa vida. Amém.
Rev. Teofilo Timm
Espigão do Oeste – RO – 30/03/1993 – reescrito em 26.03.2004.
Esboço do Rev. Arno Bessel, no PRECISO FALAR, vol. V-A, de 1985.
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