BuscaPé, líder em comparação de preços na América Latina

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Mt 16.13-20 - O Ofício das Chaves

Houve certa vez uma festa numa igreja do interior. O culto foi ao ar livre. Havia gente de toda parte participando da festa. Tudo ia muito bem, até que o céu escureceu e começou a trovejar. Alguém, levantando-se do lugar em que estava, disse: “É, eu preciso ir embora. O São Pedro está brabo e não vai demorar que ele vai mandar chuva”. E realmente choveu, e muito.

Segundo a crença popular, é São Pedro quem controla o tempo, mandando chuva e fazendo trovejar. Quando está chovendo, diz-se que ele está lavando os céus; e, quando troveja, acredita-se que ele esteja arrastando os móveis pelo céu afora.

A Bíblia nos diz que Pedro era um dos discípulos de Jesus. Certa vez Jesus perguntou aos discípulos quem o povo achava que ele era. E Pedro, tomando a frente, respondeu dizendo: “Tu és o Cristo, o Filho de Deus”.

Jesus elogiou a resposta de Pedro e acrescentou, dizendo: “Tu és Pedro, sobre esta pedra [a confissão que Pedro fez] edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus. O que ligares na terra terá sido ligado nos céus. O que desligares na terra, terá sido desligado no céu” (Mateus 16.18,19).

A base desse versículo, muitos acham que Pedro seja o porteiro do céu. É ele quem decide quem deve ou não deve entrar no céu. Mas isso é uma idéia errada a respeito de Pedro, que não tem base bíblica.

Quando Jesus estava entregando as chaves do reino dos céus para Pedro, Jesus estava dando para ele o poder de perdoar pecados e reter o perdão. Mais adiante Jesus daria esse mesmo poder também aos outros discípulos ao explicar como a igreja deve tratar a um irmão culpado, dizendo: “Se ele [o irmão culpado] não os atender, dize-o à igreja; e, se recusar ouvir também a igreja, considera-o como um gentio e publicano. Em verdade vos digo que tudo o que ligares na terra, terá sido ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, terá sido desligado no céu” (Mateus 18.17,18).

Em João, capítulo 20, Jesus explica melhor o que isso significa, ao dizer: “Recebei o Espírito Santo. Se de alguns perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; se lhos retiverdes, são retidos”.

Hoje quem exerce esse poder de perdoar pecados e reter o perdão é a igreja. E, publicamente, o exerce através do seu pastor. Ele o faz, por exemplo, quando no culto público, após a confissão de pecados, diz: “Em virtude desta sua confissão, na qualidade de ministro da Palavra, chamado e ordenado, lhes anuncio a graça de Deus; e da parte e por ordem de Jesus Cristo, meu Senhor, lhes perdôo todos os pecados, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém”.

Esse trabalho do pastor é chamado de Ofício das Chaves, que segundo Lutero: “É o poder peculiar que Cristo deu a sua igreja na terra para perdoar os pecados aos pecadores penitentes, e retê-los aos impenitentes, enquanto não se arrependerem”.

Mais adiante, explicando o que significam essas palavras, Lutero diz: “Creio que tudo quanto os ministros de Cristo, devidamente chamados, fazem conosco, é tão certo e válido no céu, como se Cristo tratasse pessoalmente conosco, especialmente quando excluem da congregação cristã os pecadores impenitentes e absolvem aqueles que se arrependem dos seus pecados”.

Pedro, em Pentecostes, mostrou como isso funciona. Primeiro ele apontou o dedo para aqueles que mataram a Jesus, dizendo que eles iriam pagar caro pelo que fizeram. Quando aquela grande multidão se mostrou arrependida pelo que fez, Pedro os perdoou, dizendo: “Arrependei-vos e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para o perdão de vossos pecados e recebereis o dom do Espírito Santo” (Atos 2.38).

Aqui Pedro, como ministro de Cristo, abriu a porta da graça do céu para os convertidos e lhes apontou o perdão de Deus. Num outro momento, quando Ananias e Safira tentaram enganar a igreja, mentindo com as suas ofertas, Pedro fechou os céus diante deles e os fulminou com a maldição de Deus, dizendo: “Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, reservando parte do valor do campo? Conservando-o, porventura, não seria teu? E, vendido, não estaria em teu poder? Não mentiste aos homens, mas a Deus” (Atos 5.3,4).

E os dois morreram no mesmo instante: primeiro Ananias, depois Safira. E diz-nos o evangelista Lucas que sobreveio grande temor sobre todos os que ouviram este acontecimento.

Em 1 Coríntios 5 nós encontramos um exemplo de como o apóstolo Paulo usava o Ofício das Chaves em conjunto com a congregação, dividindo a responsabilidade. Na congregação de Corinto havia um homem vivendo em pecado e que não queria deixar se corrigir. Paulo então orienta a congregação que se reúna e, em nome de Jesus, expulsem do meio deles o malfeitor. Diz ele: “Eu, na verdade, ainda que ausente em pessoa, mas presente em espírito, já sentenciei, como se estivesse presente: que o autor de tal infâmia seja, em nome do Senhor Jesus, reunido vós e o meu espírito, com o poder de Jesus, nosso Senhor, entregue a Satanás para a destruição da carne, a fim de que o espírito seja salvo no dia do Senhor Jesus” (1 Coríntios 5.3-5).

Em Mateus 18 Jesus nos ensina como proceder com alguém que caiu em pecado. Primeiro devemos tratar pessoalmente com a pessoa que cometeu algum pecado, procurando recuperá-la. Se ela não nos quiser ouvir, devemos levar duas ou mais pessoas juntas a fim de convencê-la do seu erro. Só depois, após todas as tentativas possíveis sem resultado, é que o caso deve ser levado à igreja. Seguindo esses passos, se o membro faltoso não quiser se corrigir, apenas aí a igreja deve excluí-lo do seu meio.

Todas as vezes em que procuramos reerguer um irmão que caiu em pecado, em que praticamos a disciplina cristã, em que ouvimos as palavras da absolvição depois da confissão de pecados, em que é anunciada a palavra de Deus na igreja, em que levamos nossos filhos ao batismo, em que participamos da Santa Ceia e recebemos a bênção do Senhor no final do culto, estamos, juntamente com a igreja, exercendo o Ofício das Chaves. Nessas horas os céus estão se abrindo ou fechando para nós. Abrindo para quem se arrepende dos seus pecados e quer corrigir a sua vida, e fechando para quem quer continuar vivendo no pecado.

Foi para isso que Deus estabeleceu a sua igreja aqui na terra: para nos anunciar esta verdade, de que os nossos pecados estão perdoados graças a obra redentora de Cristo. Que, agora, pela fé em Jesus, o maior pecador pode vir à presença de Deus para o adorar, louvar e agradecer. Ele pode vir a Cristo para receber dele perdão dos pecados, vida e salvação.

Esta igreja, estabelecida por Cristo aqui na terra, conforme as palavras de Jesus, irá permanecer até o fim dos tempos; as portas do inferno não prevalecerão contra ele. Enquanto durar o mundo, ela continuará a pregar o evangelho, que é o poder de Deus para a salvação de todo o que crê.

E esta palavra não volta vazia, mas fará aquilo para o que Deus a designou. Para os que a aceitarem, redundará em alegrias eternas; mas para os que a desprezarem, resultará em condenação eterna. Diz Jesus no último capítulo do Evangelho de Marcos: “Ide pregai o evangelho a toda a criatura: quem crer e for batizado, será salvo; quem, porém, não crer [no evangelho], será condenado” (Marcos 16.15,16).

O fim do mundo está atrelado ao objetivo do evangelho. O mundo não acabará enquanto o evangelho não for pregado a todas as nações. Quando o último eleito chegar ao conhecimento da salvação, então virá o fim; só então e não antes.

Por isso, sabendo da importância da igreja, que tem o poder de abrir e fechar os céus, de perdoar e reter pecados, valorizemos a igreja: participando dos cultos, da Santa Ceia, batizando os filhos, dando testemunho da nossa fé, orando e contribuindo para a sua manutenção –  para o nosso bem estar espiritual e para o engrandecimento do reino de Deus aqui na terra. Em nome de Jesus. Amém.

Pastor Lindolfo Pieper

piperlin@uol.com.br


Nenhum comentário: