Deve ser bem complicado para um candidato sério fazer campanha política, quando, segundo pesquisa, apenas uma entre cinco pessoas acredita naquilo que os políticos prometem. Assim como extremamente penoso para alguém com boas intenções entrar na política e manter-se íntegro sem seguir o caminho fácil dos conchavos. Não posso falar muito, pois as coisas também não andam boas para o meu lado. Quase a metade das pessoas não acredita nas promessas dos religiosos. É uma crise de credibilidade que afeta outras instituições: o casamento, a economia, a polícia, seguindo uma lista bem espichada. Interessante que a profissão que mais inspira confiança é do Corpo de Bombeiros. Isto tem explicação, afinal, eles colocam a própria vida em risco para salvar a dos outros.
Martinho Lutero (1483-1546) disse que política é “o esforço racional permanente e paciente para estabelecer e preservar uma ordem social compatível com os valores do cristianismo”. Fico matutando nesta definição: se os valores morais da igreja são os mesmos da política, e se o maior valor destas instituições é a verdade, então porque tanta mentira em nosso país onde o cristianismo abrange 90% da população? 90% dos políticos não deveriam ser honestos? Aí pode estar a resposta para a falta de fé nas promessas dos políticos: a falta de fé de muitos “cristãos” nas promessas de Deus. E quando não existe fé, não existem obras - é coisa morta (Tiago 2.17); extingue-se a luz do mundo, fica insípido o sal da terra (Mateus 5.13,14).
No século 16, Europa, a corrupção no governo e na igreja convivia sob a tolerância do povo. No escrito Da Autoridade Secular, Lutero fala dos fundamentos da ética para o o poder estatal e religioso quando os dois estavam promiscuamente acasalados. Lembra que estado e igreja são regimentos de Deus, mas com propósitos diferentes. O poder espiritual tem a função de garantir o perdão dos pecados e a salvação eterna em Cristo, e o secular exerce o propósito de manter o convívio das pessoas na sociedade e conceder seu bem-estar físico. “Por isso tem que se distinguir e separar cuidadosamente esses dois regimes e deixá-los vigorar; um que torna justo (cristão), o outro que garante a paz exterior e combate as obras más”.
Seis séculos antes de Cristo a situação não era diferente, e por isto a reclamação divina: Vocês maltratam as pessoas honestas, aceitam dinheiro para torcer a justiça e não respeitam os direitos dos pobres. Não admira que num tempo mau como este as pessoas que tem juízo fiquem de boca fechada (Amós 5.12,13).Hoje, permanecer de boca fechada continua sendo um ato prudente, mas tal tolerância pode aumentar a crise de confiança. Um joguinho cínico do “eu sei que você sabe, você sabe que eu sei, mas vamos fazer de conta que ninguém sabe”.
Sem dúvida, deve ser muito complicado hoje convencer as pessoas com promessas. O único caminho continua aquele indicado por Jesus: pelos frutos a gente conhece quem é quem (Mateus 7.16).
Marcos Schmidt
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