Apocalipse – O Milênio (Estudo)

     Nenhum livro sofreu tanto na mão dos interpretes e exegetas como o livro de Apocalipse.

    Muito cedo os falsos mestres usaram o livro para introduzirem a doutrina do milênio na teologia da Igreja Cristã. Felizmente este vírus não foi incorporado nos três Credos Ecumênicos. Infelizmente hoje muitas igrejas evangélicas e também alguns luteranas falam na grande tribulação, no arrebatamento e nos mil anos ou milênio.

    Mas será que o erro do milênio é realmente um erro muito sério? Sim. Pois este ensino desvia a atenção do juízo final e do verdadeiro julgamento para uma esperança material, terrena; com isso desviam a atenção também da verdadeira obra de Jesus Cristo, dirigindo-a para coisas e esperança terrenas, uma vida feliz nesta terra, contra o que Jesus adverte em Lucas, nos capítulos 12 e 21.

     A profecia de João em Apocalipse tem um paralelismo interessante com as profecias dos profetas.

    Quando os profetas prometeram a vinda do Messias, parecia que estavam contradizendo outras profecias ou a si mesmo.

     Por um lado, eles falavam do Salvador como um rei que conquista, destrói os inimigos e domina sobre as nações da terra; por outro, eles o viam como um servo que seria ferido, açoitado e rejeitado pelas pessoas.

     De maneira semelhante o apóstolo João fala dos seguidores do Messias como reis e sacerdotes. Eles "reinarão na terra". (15.10) Quando morrerem, as almas partidas "reinarão com Cristo por mil anos." (20.6) Após a ressurreição no novo céu e na nova terra "eles reinarão com Cristo para sempre". (22.5)

    Mas Jesus só chegou ao caminho da glória e exaltação pelo caminho da humilhação e morte. (Fp 2.6-11) Por este seu sacrifício, ele nos trouxe perfeita salvação (Hb 2.10) Assim o Salvador veio à glória pela cruz.

     Quando os fiéis do Antigo Testamento contemplavam esta contradição semelhante nas profecias, que o Messias é um rei conquistador e ao mesmo tempo um servo sofredor, eles devem ter-se perguntado: Como é possível? Como harmonizar essas duas profecias. Mas, eles as aceitaram mesmo em sua perplexidade.

   Alguns dos antigos tentaram resolver o problema e falaram em dois Messias. Um da tribo de Levi, como sofredor e outro da tribo de Judá como grande conquistador. Se tivessem prestado mais atenção, notariam que tal interpretação era inconsistente.

     Mas a maioria deles procurou escapar do dilema ignorando as profecias que falavam do sofrimento, enfatizando as profecias que falavam da glória e vitória. (Chamamos esta teologia, que enfatiza principalmente a glória, de a teologia da glória. E a teologia que tem como centro a cruz, a teologia da cruz.) Com isso os judeus vieram a ser mais e mais milenaristas em suas esperanças. Mais e mais falhavam em ver que a verdadeira redenção do mundo viria pela humilhação e pelo sofrimento do Messias, pela qual o Messias tomaria sobre si "a iniqüidade de todos nós". Eles olhavam para a vitória do Messias não tanto sobre o pecado e Satanás, mas sobre os inimigos terrenos. Eles sonhavam com um reino terreno, que viria por uma vitória militarista, pela aplicação de seu poder divino.

     Quão profundo este pensamento carnal dominava os judeus, vemos nos próprios discípulos de Jesus. Quando Jesus falou pela primeira vez de seu sofrimento, Pedro, chamando-o à parte, começou a reprová-lo, dizendo: Tem compaixão de ti, Senhor; isso de modo algum te acontecerá. (Mateus 16.22 RA) Por dois anos e meio viram o poder de seu Mestre operando milagres, curando enfermos, abrindo os ouvidos aos surdos, e os olhos aos cegos, dando ordens ao vento, andando sobre as águas, etc. Eles viam nisso o cumprimento das profecias do Antigo Testamento e estavam convencidos: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivos. (Mt 16.16 RA)

     Então Jesus começou a explicar a seus discípulos que ele precisava ir a Jerusalém para sofrer e morrer (Mt 16.21) Eles não podiam compreender. Mesmo no último estágio de seu treinamento os apóstolo acharam difícil compreender o sofrimento de Cristo.

    Nos meses seguintes, Jesus falou muitas vezes sobre seu sofrimento e morte. O evangelista diz que eles nada entenderam. Somente no dia de Pentecostes, pela iluminação do Espírito Santo entenderam que Jesus se tornou o Rei do universo pelo sofrer e morrer.

     Problema similar a igreja do Novo Testamento enfrentou. O apóstolo Pedro lhes disse: Sois sacerdotes reais (1 Pe 2.9). Do apóstolo Paulo aprenderam que o universo é deles. (1 Co 3.21-23) Na noite ante de Jesus morrer, Jesus lhes prometeu o reino: Assim como meu Pai me confiou um reino, eu vo-lo confio. (Lucas 22.29 RA) Como eles entenderam estas palavras? Eles lhe perguntaram, após a ressurreição: Senhor, será este o tempo em que restaures o reino a Israel? (Atos 1.6 RA) Eles pensaram no milênio.

    Podemos simpatizar com esta ignorância, mas não desculpá-la. A jovem comunidade sofreu muito. Foram exilados, seus bens confiscados, muitos perderam a vida por causa de sua fidelidade ao evangelho. Eles tiveram dificuldade em compreender as palavras do apóstolo Paulo: Portanto, ninguém se glorie nos homens; porque tudo é vosso:  seja Paulo, seja Apolo, seja Cefas, seja o mundo, seja a vida, seja a morte, sejam as coisas presentes, sejam as futuras, tudo é vosso. (1 Coríntios 3.21-22 RA)

     Neste tempo de perseguição e sofrimento foi escrito o livro de Apocalipse. Eles foram lembrados que são sacerdotes reais, mais por enquanto eles o têm em fé, iriam ver isto somente após o sofrimento e a morte, visto que andamos por fé e não pelo que vemos. (2 Coríntios 5.7 RA)

     Esta verdade, todos nós temos que aprender ao longo de nossa peregrinação. Nossa razão não o compreende. Um filho de um rico, não pode viver pobre. Daí a pregação dos falsos profetas da "teologia da glória": "Deus é rico em poder e misericórdia, quem crer será curado, terá prosperidade, pois Deus não quer ver ninguém pobre e sofredor." Mas Jesus disse: Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom ânimo; eu venci o mundo. (João 16.33 RA) Este vencer o mundo refere-se aos que nos querem rouba a comunhão com Deus: pecado, morte e Satanás.

     Apocalipse foi escrito durante a árdua perseguição do imperador romano Nero. Sob inspiração do Espírito Santo, o apóstolo João conforta a igreja, os fiéis, e lhes diz que precisavam passar por estas perseguições e pelas aflições, mas que eles têm a vitória final no céu. Fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus. (Atos 14.22 RA) Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. (Mateus 16.18 RA)

     Apocalipse significa revelação. As correntes de interpretação são várias.

1. Os incrédulos. Julgam que João não poderia prever algo tão distante e, à base das revelações sobre as sete igrejas, julgavam que Apocalipse é uma crítica à cristandade em decadência e aos imperadores corruptos. Portanto, dirigida a problemas da atualidade de João.

2. Futuristas. Eles julga que são visões sobre as últimas coisas com relação ao fim do mundo. Os sete anos de tribulação, o arrebatamento, o reinado milenar de Cristo neste mundo material.

3. Luteranos.  Entre alguns luteranos, mesmo aceitando a Confissão de Augsburgo e rejeitando opiniões judaizantes, há entre eles correntes com certos desvios, que aceitam parcialmente algumas idéias dos milenaristas.

4. Textuais. Ser fiel ao texto e interpretar de forma "cristocêntrico", isto é, deixando Cristo e sua obra ser o centro, como ela realmente é tanto no Antigo como no Novo Testamento, o livro é claro. Mas criaremos problemas para nós mesmos se quisermos interpretar cada detalhe.

Capítulo 20 de Apocalipse

    Comentaristas de Apocalipse entram facilmente em erros por julgarem que o livro de Apocalipse só trata de eventos futuros. Que isto não é o caso é mostrado pela visão da mulher com a criança. (capítulo 12) Ninguém pode negar que esta visão retrata o nascimento e ascensão de Cristo e que todas as tentativas do diabo para destruir o filho da mulher, entre o nascimento e sua ascensão, fracassam, após o que o diabo é vencido.

     20.1-3. Este trecho é um retrato da vitória de Cristo sobre o diabo. O anjo(1) que vem do céu é Cristo. A palavra anjo, literalmente: mensageiro, é aplicado na Escritura várias vezes a Jesus. No Antigo Testamento é usada a expressão: o "Anjo do Senhor". Tudo o que é dito a respeito desse anjo se encaixa em Cristo. Abismo é certamente o nome do inferno e no capítulo 1º lemos que Cristo tem as chaves do Hades (inferno).

     O anjo segurou o diabo e o amarou com uma grande corrente e o lançou no abismo. Quando Jesus tratou com o diabo, ele falou nestes termos. Certa vez, quando os fariseus e escribas da lei acusaram Jesus de ter comunhão com o diabo, porque expulsava os demônios, Jesus respondeu: Se o reino está dividido entre si, ele cai. Então acrescentou: Ninguém pode entrar na casa do valente para roubar-lhe os bens, sem primeiro amarrá-lo; e só então lhe saqueará a casa. (Marcos 3.27 RA) Ou como pode alguém entrar na casa do valente e roubar-lhe os bens sem primeiro amarrá-lo? E, então, lhe saqueará a casa. (Mateus 12.29 RA) Jesus disse isto para mostrar que ninguém pode expulsar demônios; sem ter vencido a Satanás e lhe tirado o poder.  

    Alguns comentaristas levianos acham que a grande corrente é de aço. Mas o aço não pode impedir ou limitar a liberdade de um espírito. Qual é então a corrente com a qual o diabo é impedido de agir livremente? Para compreendê-lo, precisamos relembrar as palavras de Judas 9. Contudo, o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo e disputava a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a proferir juízo infamatório contra ele; pelo contrário, disse: O Senhor te repreenda! (Judas 1.9 RA)

     Portanto eles são amarrados com uma corrente eterna e só têm liberdade restrita até onde Deus o permite. A história de Jó é um exemplo disso.

   Alguns acham que ele foi lançado no ínfero e as portas seladas, de modo que ele não atua mais na terra. Mas Pedro diz que ele age como leão que ruge. Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar. (1 Pedro 5.8 RA)

   Os milenaristas acham que ele será tirado durante o milênio.

    Mas vejamos a grande corrente. O contexto mostra que é uma corrente que limita o poder do diabo. O limita para que não possa mais enganar as nações. Da Bíblia aprendemos que só uma coisa pode fazer isto, a pregação do evangelho, da boa nova de que Jesus veio para destruir as obras do diabo.

Aquele que pratica o pecado procede do diabo, porque o diabo vive pecando desde o princípio. Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo. (1 João 3.8 RA) E disse-lhes: Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. (Marcos 16.15 RA) Ide, portanto, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; (Mateus 28.19 RA)

Apóstolo João fala disse também:

Jesus, entretanto, disse: Deixa-a! Que ela guarde isto para o dia em que me embalsamarem;  porque os pobres, sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes.  Soube numerosa multidão dos judeus que Jesus estava ali, e lá foram não só por causa dele, mas também para verem Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos.  Mas os principais sacerdotes resolveram matar também Lázaro; porque muitos dos judeus, por causa dele, voltavam crendo em Jesus.  No dia seguinte, a numerosa multidão que viera à festa, tendo ouvido que Jesus estava de caminho para Jerusalém, (João 12.7-12 RA)

Foi ganha a batalha contra o diabo, por causa do sangue do Cordeiro. Assim, enquanto o evangelho é pregado às nações, o diabo é impedido de agir livremente.

    A maioria das traduções traduz este versículo assim: para que não mais enganasse as nações, no original consta gentios. (Apocalipse 20.3 RA) Enganar as nações pode confundir. Os milenaristas vêem aqui um subjugar completamente às nações do mundo ao rei do milênio. Mas "não enganar os gentios" dá outro sentido, o sentido bíblico. Os fiéis do Antigo Testamento foram incentivados a espalharem a fé entre os gentios. Esperava-se que a grande conversão dos gentios começasse com o grande comissionamento que Jesus deu a seus discípulos após a ressurreição.

     Durante seu ministério público, Jesus disse: A estes doze enviou Jesus, dando-lhes as seguintes instruções: Não tomeis rumo aos gentios, nem entreis em cidade de samaritanos. (Mateus 10.5 RA)

     A conversão dos gentios ou nações iniciaria após a ascensão de Jesus.

Em verdade, em verdade vos digo que aquele que crê em mim fará também as obras que eu faço e outras maiores fará, porque eu vou para junto do Pai. (João 14.12 RA)

Cairão a fio de espada e serão levados cativos para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles. (Lucas 21.24 RA)

Ora, àquele que é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério guardado em silêncio nos tempos eternos,  e que, agora, se tornou manifesto e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé, entre todas as nações,  ao Deus único e sábio seja dada glória, por meio de Jesus Cristo, pelos séculos dos séculos. Amém! (Romanos 16.25-27 RA)

Quando na missão os judeus rejeitarem o evangelho, Paulo lhes disse muitas vezes:

Cumpria que a vós outros, em primeiro lugar, fosse pregada a palavra de Deus; mas, posto que a rejeitais e a vós mesmos vos julgais indignos da vida eterna, eis aí que nos volvemos para os gentios. (Atos 13.46 RA)

Era o tempo dos gentios, o tempo do Novo Testamento.

     Tudo isso ajuda a entender o que João quer dizer "o diabo será amarrado com uma grande corrente para que não mais enganasse os "gentios". Isso também explica melhor "o curto tempo em que será solto. A grande apostasia. Isto está em harmonia com o que Jesus disse:

Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como desde o princípio do mundo  até agora não tem havido e nem haverá jamais.  Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias serão abreviados.  Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis;  porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos.  Vede que vo-lo tenho predito. (Mateus 24.21-25 RA)

Nestas palavras Jesus fala do "tempo que será abreviado", o tempo breve, do qual João fala. Jesus fala da proliferação dos falsos profetas e falsos cristos. O diabo conseguirá enganar. O evangelho que é a única força que liberta, será por breve tempo obscurecido. Assim a interpretação dos mil anos é simples: Será um tempo completo, determinado por Deus. Um período de tempo, fixado no decreto eterno por Deus. Começou quando Cristo nos remiu, vencendo o diabo e ordenou à igreja pregar o evangelho, o grande comissionamento. 

    No Novo Testamento isto é o tempo dos gentios.  O novo tempo é para os gentios, como o afirma o apóstolo: O qual, nas gerações passadas, permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos. (Atos 14.16 RA) Ora, não levou Deus em conta os tempos da ignorância; agora, porém, notifica aos homens que todos, em toda parte, se arrependam; (Atos 17.30 RA) Este é um tempo limitado.

     Tudo isso nos ajuda a compreender o que João tinha em mente quando disse que Jesus amarrou o diabo por mil anos para que não mais enganasse as nações, isto, os gentios.

     Após pouco tempo será solto. (v.3) A Bíblia fala em diversos lugares que nos tempos finais, que antecedem ao juízo final, haverá grande apostasia. Quando a mensagem do evangelho não é mais ouvida ou obscurecida por falsos profetas. A luz do evangelho é obscurecida, e o diabo ganha novamente força para destruir as almas e conduzi-las ao inferno. Grandes segmentos da igreja cristã abandonarão o evangelho e se voltarão a cultos pagãos. Isto está em harmonia com o que Jesus disse em Mt 24.21-25, que citamos acima.

     Neste trecho o Salvador fala de um tempo que será abreviado. Este tempo ecoa aqui como "breve tempo". Jesus também fala da proliferação dos falsos profetas e falsos Cristo que enganarão as pessoas. João afirma que neste "curto tempo" o diabo mais uma vez estará em condições de enganar as nações. O acento nas palavra de Jesus está em que a mensagem do evangelho, o único que pode livrar as pessoas das garras de Satanás, será neste breve tempo obscurecido.

     Uma vez que entendemos o que é a corrente com a qual o diabo é amarrado, a interpretação dos mil anos é bem simples. Já vimos que o número mil em Apocalipse é simbólico. Não há nada no contexto que mostre de que este número aqui deve ser interpretado de forma diferente dos números neste livro. Dez é o número do completo. Por isso tudo o que podemos dizer com confiança é que mil anos representam o período completo de tempo cujo cumprimento é fixado pelo eterno decreto de Deus.

      Podemos dizer também que 1000 anos durante os quais o diabo está amarrado começou quando Cristo nos redimiu do poder do diabo por seu sacrifício expiatório e ordenou à igreja pregar a mensagem do perdão até os confins do mundo. Os mil anos chegam ao fim quando a pregação do evangelho será abafada e falsos mestres e falsos cristos se multiplicam como instrumentos de Satanás para enganar as nações. Os mil anos podem confiadamente, por isso, serem vistos como o período de todo o Novo Testamento.

     A única pergunta que fica é sobre o "breve tempo" do qual João fala.  Este breve tempo faz parte do milênio o está fora do milênio. As traduções divergem.

- Até se completarem os mil anos. Depois disto é necessário que ele seja solto pouco tempo. (Almeida, Revista e Atualizada - RA)

- Até terminarem os mil anos. Depois desses mil anos é preciso que ele seja solto por um pouco de tempo. (Nova Tradução na Linguagem de Hoje – NTLH)

- Até serem completados os mil anos. Depois de estas coisas é necessário ser solto ele pouco tempo. (textual: Novo Testamento Interlinear)

- Até que terminassem os mil anos. Depois disso, é necessário que ele seja solto por um pouco de tempo. (Nova Versão Internacional -  NVI)

- Chegam ao fim (temos aqui um aoristo subjuntivo e não perfeito: terminarem). O sentido é: Ele será solto no final dos mil anos, a saber, dentro deles.

     O único argumento é "depois de estas coisas" (meta tauta) introduz a causa final do v.3, poder ser entendido referindo-se a "anos", então será após os mil anos; mas isto não é requerido. A expressão grega "meta tauta" é usada muitas vezes, como referindo-se a eventos precedentes . (Cf.: 4.1; 7.9; 9.12; 15.5; 18.1; 19.1; 7.1) Isto pode ser o caso aqui. Ele não é de muita importância, e muda pouco. Se é a anos, os mil anos não incluem o "pouco tempo"; se isto se refere ao "amarrar a Satanás, então o breve tempo está inclui nos mil anos. A segundo interpretação é a melhor.

O reino dos mil anos. (20.4-6)

     Esta passagem é usada pelos milenaristas como prova para sua doutrina que antes do dia do juízo, Cristo retornará e estabelecerá um reino terreno, um reino visível na Palestina, que durará mil anos. Conforme esta visão "a primeira ressurreição" é a ressurreição física dos fiéis, filhos de Deus, cujos corpos ressuscitarão para governarem com Cristo no seu reino visível. Esta doutrina ensina que os incrédulos não ressuscitarão durante estes mil anos, chamada de milênio, antes do fim.

    Como evidência para dupla ressurreição muitos milenaristas citam as palavras de Paulo: Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. (1 Ts 4.16 RA) Isto é tido como prova para a dupla ressurreição, separada pelos mil anos. Mas nesta passagem nenhuma palavra é dito de que os fiéis ressuscitarão mil anos antes dos incrédulos. Antes, o que Paulo afirma é que os fiéis vivos serão tomados ao céu somente após os fiéis terem ressuscitado. O contraste aqui não é entre os mortos fiéis e os mortos infiéis, mas entre cristãos vivos e cristãos que faleceram. Paulo afirma que os cristãos vivos não terão vantagem sobre os cristãos que faleceram, quando Cristo virá. Na verdade os cristãos mortos ressuscitarão primeiro.

    Antes de seguirmos o estudo de João precisamos lembrar que esta é única passagem na Bíblia que menciona que "alguns reinarão com Cristo por mil anos". Fora de Apocalipse 20, a frase "mil anos" é usada somente em duas outras passagens:

- Pois mil anos, aos teus olhos, são como o dia de ontem que se foi e como a vigília da noite. (Salmos 90.4 RA) Há, todavia, uma coisa, amados, que não deveis esquecer: que, para o Senhor, um dia é como mil anos, e mil anos, como um dia. (2 Pedro 3.8 RA)

E estas passagens, no entanto, lidam somente com a compreensão da ausência de tempo para Deus. Portanto o que os "mil anos" representam aqui deve ser determinado somente do contexto.

     Mas, mesmo pessoas que rejeitam o milenismo têm o habito de falar dos "mil anos do reino de Cristo em conexão com este capítulo". Os que negam o milênio são acusados, muitas vezes de não crerem nas palavras de João. Em resposta a isto, muitos afirmam que estas palavras precisam ser entendidas figurativamente. Mas esta não é uma defesa correta contra esta acusação. O fato e que João não diz uma palavra sobre um reino de Cristo de mil anos, nem literal nem figurativamente.

     Ele escreveu: Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. (Apocalipse 20.4 RA) Não é Cristo que é visto aqui. Estas palavras ainda não identificam as pessoas sentadas nestes tronos. Podemos concluir das palavras "tronos" que estas pessoas estão de fato numa posição de um tipo de governo, julgamento, mas a palavra "tronos" não é necessariamente uma cadeira de um rei.

     João continua: e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. (Apocalipse 20.4 RA) Aqui está claramente dito que eles ocupam uma posição de autoridade. Julgar é função de governadores e reis. Isto está em acordo com muitas outras passagens da Escritura que nos falam que nos últimos dias os fiéis participação com Cristo no julgamento final: Jesus lhes respondeu: Em verdade vos digo que vós, os que me seguistes, quando, na regeneração, o Filho do Homem se assentar no trono da sua glória, também vos assentareis em doze tronos para julgar as doze tribos de Israel. (Mateus 19.28 RA) Não sabeis que havemos de julgar os próprios anjos? Quanto mais as coisas desta vida! (1 Coríntios 6.3 RA)

   No final destes versos é dito que João viu "sentados nos tronos, reinando com Cristo por mil anos." Isto mostra que tronos são símbolos da autoridade real. O reinar, que está nas palavras de introdução, não é a atividade de julgamento de Cristo, mas antes dos que estão sentados nos tronos.

     A cuidadosa leitura do texto mostra claramente que este é o caso. Se alguém, por exemplo, diz: Eu vivi na fazenda com meus pais por 14 anos, antes de deixar a casa e sair para a universidade, isto não nos dá nenhuma idéia de quanto tempo os pais vivem nesta fazenda. Quando João diz que os que estão sentados nos tronos reinam com Cristo por mil anos, é óbvio para qualquer intérprete que esta passagem não pode ser usada como prova que Cristo colocará um reino especial por mil anos em algum lugar. O livro de Apocalipse mostra que Cristo reina de eternidade a eternidade (11.15). Há muitas passagens que falam que Cristo reina eternamente, e que seu reino é eterno, mas nenhuma passagem diz que seu reino será de mil anos.

    As passagens não falam do milênio, nem que este reino tenha por capital Jerusalém. Milenaristas insistem que o reinar, do qual se fala aqui, se realizará neste mundo, após a volta visível mil, antes do juízo final. A estas pessoas devemos dizer: Preste atenção a estas palavras e então as dirigimos para as palavras de Jesus, ditas a Pilatos: Replicou-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; mas, se falei bem, por que me feres? (João 18.23 RA)

     Milenaristas apelam para passagens do Antigo Testamento que descrevem o reino do Messias em termos de um rei terreno, onde haverá paz perfeita entre inimigos naturais, onde o leão habitará com o cordeiro e nações não levantarão sua espada contra outras nações. (Is 65.25) Nenhuma dessas passagens, no entanto, diz que isto tem a ver com o reino temporal e terreno do Messias. Os milenaristas afirmam que após o milênio haverá uma grande movimento militar no qual o mundo incrédulo procurará rebelar-se contra o Messias que suportou sua maldade. Estes deveriam lembrar o que Isaías diz, por exemplo, em sua descrição do "reino de paz". Isaías ao falar deste tempo, afirma: Ele julgará entre os povos e corrigirá muitas nações; estas converterão as suas espadas em relhas de arados e suas lanças, em podadeiras; uma nação não levantará a espada contra outra nação, nem aprenderão mais a guerra. (Isaías 2.4 RA) Milenaristas não dão atenção a estas palavras. Eles ensinam que no fim do milênio as nações se prepararão novamente para a guerra.

     Estas passagens do Antigo Testamento não falam de uma paz temporal e física, mas espiritual que o Messias trará para seu povo. O Novo Testamento ensina com muita clareza que este reino foi firmemente estabelecido antes que os apóstolos morreram. (Mc 9.1) Pela conquista do perdão conquistada por Cristo e a proclamação do evangelho ao mundo pelos apóstolos, é a paz que excede a todo o entendimento. (Fp 4.7) Esta passagem mostra também o perfeito reino de Deus, que dura para sempre e será visível e tangível quando toda a criação será redimida do cativeiro da corrupção, para liberdade da glória dos filhos de Deus. (Rm 8.21) Mas este reino não durará simplesmente mil anos. E os que são de Cristo reinarão com ele por toda a eternidade. (22.5)

    Então João identifica os que estarão sentados nos tronos. Eles são as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus. (v. 4) O acusativo "tas psuxas" (as almas) é objetivo do verbo: eu vi. Se ainda havia uma dúvida sobre se João está falando de um reino terreno ou celestial, estas palavras não deixam mais lugar para tal incerteza. João não vê corpos ressuscitados, ele vê almas, sem corpos, almas de pessoas que morreram pelo testemunho de sua fé.

     João realmente não diz nada que possa surpreender aqueles que conhecem bem a sua Bíblia. A Escritura diz quando os filhos de Deus morrem, eles vão para viverem com Cristo na glória do céu. Na passagem simbólica dessa passagem, João ensina a mesma verdade. Paulo proclama esta verdade quando escreve aos romanos:

Quem nos separará do amor de Cristo? Será tribulação, ou angústia, ou perseguição, ou fome, ou nudez, ou perigo, ou espada?  Como está escrito: Por amor de ti, somos entregues à morte o dia todo, fomos considerados como ovelhas para o matadouro.  Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. (Romanos 8.35-37 RA)

   Quando os gentios em Roma, durante a perseguição de Nero, viram a cabeça de Paulo rolar na areia da arena, eles indubitavelmente pensaram que Paulo foi derrotado e destruído pelo imperador. Mas os que morreram pela espada na perseguição e tiveram suas cabeças cortadas não foram separados do amor de Cristo. Eles podiam dizer em todo seu sofrer: Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou. (Romanos 8.35-37 RA) Quando Paulo contemplou este momento no fechar o último dia de sua vida, ele escreveu: 

Quanto a mim, estou sendo já oferecido por libação, e o tempo da minha partida é chegado.  Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé.  Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda. (2 Timóteo 4.6-8 RA)

Ele olhou para frente, o viver e reinar com Cristo quando morrer.

     Agora nos dias de Nero, quando João escreveu, cristãos eram decapitados por causa de sua fé. O genitivo nesta frase "o testemunho de Jesus" é  um genitivo objetivo; que traduzimos assim: "o testemunho deles a respeito de Jesus." Pois não há no original grego um pronome possessivo, o artigo definido no grego, como no alemão, muitas vezes tem a força do pronome possessivo.

     Como os fiéis no tempo de João viam como seus amigos e parentes eram presos martirizados, parecia muitas vezes a eles, cuja fé era severamente provada até o sangue, que o anticristo secular estava ganhando a batalha e a igreja parecia que iria perecer. Quando lamentavam os corpos assassinados e decapitados de seus irmãos, eles necessitavam de encorajamento e conforto.

    A visão de João fala para estes necessitados. Quando João diz que viu as almas dos decapitados, é a mesma coisa que dizer que ele estava vendo a igreja sofrida. O governante do império decapitava nossos irmãos e irmãos em Cristo. Parece que os inimigos da igreja triunfaram e a igreja está sendo derrotada. Nossos amigos estão mortos. Mas o governo só matou seus corpos. E é isto o que vemos com os olhos mortais. Mas Deus me deu uma visão na qual vi suas almas. Suas almas não estavam ali onde seus corpos estão na terra. Elas estavam sentadas em tronos nos céus. Elas não estavam mortas. Elas estavam vivas reinando com Cristo. Que mensagem para encorajar e firmar a esperança.

      Milenaristas acham que aqui a palavra "almas" deve ser uma linguagem figurativa em lugar de "pessoas", como na frase: Toda a alma (pessoa) esteja sujeita às autoridades. (Rm 13.1) É verdade que esta palavra grega "alma" (psuxe) pode ser usada neste sentido. Mas João não diz que "as almas que foram decapitadas", poderia ter este sentido. Mas ele diz: vi as almas das "pessoas" que foram decapitadas, o que só pode significa que estas almas foram separadas de seus corpos decapitados.

   Um outro argumento por vezes ouvido é que o corpo deles deve ter estado lá porque João viu as pessoas, pois almas são invisíveis. Mas este argumento é fútil, é argumento dos chiliastas. Isto era uma "Visão" na qual João viu muitas coisas que ordinariamente são invisíveis. Dizer "eu vi as almas" é realmente não mais surpresa, do que dizer: eu vi um anjo. Anjos são tão invisíveis como almas.

     Quando os mártires são descritos como aqueles que não adoraram a besta ou sua imagem e não receberam sua marca, alguns comentaristas vêem nisso uma referência à ordem do governo de que os cristãos deveriam queimaram incenso diante de estátua do imperador. Isto pode ser correto, mas se refere mais, conforme o contexto, àqueles que permaneceram fiéis a Cristo e perseveraram na fé cristã.

     João diz destas "almas que elas estavam vivas e reinavam com Cristo." Muitos tradutores traduzem "exeesan", eles viveram novamente, reviveram. Mas reviver ou viver novamente seria "anexeesan". Mesmo que Bauer-Arndt-Ginrich Lexicon afirmam que o "textus receptus" tenha esta leitura assim, nem o Novo Testamento de UBS nem Nestlé dão esta variante, que certamente está errada, mesmo se for achado num novo manuscrito.

    É obviamente errado porque o sujeito deste verbo é "almas". Almas, especialmente dos fiéis, e delas não se pode dizer que reviveram ou viveram novamente. As almas que João vê aqui nunca morreram. Em seu evangelho, João nos ajuda a compreender o que isto significa. Ali ele relata o que Jesus disse na sepultura de Lázaro. Disse-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá;  e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente. Crês isto? (João 11.25-26 RA) O apóstolo Paulo falou de sua morte dizendo:

Segundo a minha ardente expectativa e esperança de que em nada serei envergonhado; antes, com toda a ousadia, como sempre, também agora, será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte.  Porquanto, para mim, o viver é Cristo, e o morrer é lucro.  Entretanto, se o viver na carne traz fruto para o meu trabalho, já não sei o que hei de escolher.  Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor. (Filipenses 1.20-23 RA)

O apóstolo Pedro descreveu sua própria morte assim: Também considero justo, enquanto estou neste tabernáculo, despertar-vos com essas lembranças. (2 Pedro 1.13 RA) quando o corpo morre, o espírito retorna a Deus que o deu. (Ec 12.7 RA) Para os filhos de Deus sua existência continua e é um viver com Cristo. Suas almas não voltam a viver, elas permanecem vivas.

     Falando gramaticalmente é possível tomar "exesan" como um aoristo ingressivo. A tradução NVI fez isto: Eles ressuscitaram, mas isto é seguido de um acusativo de tempo durável. Se João quisesse expressar aqui a idéia de um ressuscitar no sentido de passar para a vida, ele seria forçado a usar a palavra "anexesan". Mas o que ele está dizendo é que durante o período dos mil anos, as almas, sem interrupção, vivem e reinam com Cristo.

     Quanto aos incrédulos, João diz: Eles não vivem até que os mil anos chegaram ao fim. Aqui a NVI traduz novamente: Não voltaram a viver. Os tradutores parece que foram enganados pelo "até", que introduz a clausula dependente neste versículo. A interpretação deles supõe que incrédulos mortos voltam a viver no final dos mil anos. Mas por os incrédulos continuam a existir após sua morte, mas sua continuação nunca é chamada de "Zooé", ou vida.

     A definição de vida derivada da Bíblia nos ajuda a compreender o que João realmente está dizendo aqui. Vida, no sentido bíblico, pode ser definida com a "alegria ou participação nas bênçãos de Deus". Esta definição não necessita ser essencialmente mudada quando falamos dos três tipos de vida que distinguimos usualmente. A vida temporal ou física é o prazer e ou participação nas bênçãos temporais ou físicas de Deus. Vida espiritual é o prazer nas bênçãos espirituais de Deus e o prazer na vida eterna das bênçãos eternas de Deus. No entanto, neste mundo os incrédulos são por sua incredulidade incapazes de participar em qualquer uma dessas bênçãos de Deus. Por isso a Bíblia diz que eles estão mortos em delitos e pecados. Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, (Efésios 2.1 RA) e quando morrem em seus pecados, eles permanecem espiritualmente mortos. Suas "almas" não vivem no sentido de "em comunhão com Deus". Eles não voltam a viver no sentido bíblico, quando ressuscitarão, sairão de suas sepulturas, pois eles ressuscitam para a condenação. O que isto significa, torna-se claro do contexto no qual isto é dito. João escreve da ressurreição: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo. (João 5.29 RA) Aqui nos é dito que eles serão condenados. Eles serão lançados no lago de fogo que é a "segunda morte". Assim como vida é mais do que existência, assim como é participação das bênçãos de Deus, assim a morte não é não existência. Antes é uma existência na qual as pessoas são cortadas das bênçãos de Deus, quer sejam físicas e espirituais, e eternas. Os incrédulos mortos estão conscientes de seu sofrimento e tormentos, eles continuam existindo. Sua vida é chamada de "bios" (vida), no sentido puramente físico, mas não pode ser chamada de Zooé, vida num nível superior.

    A clausula "até" que os mil anos estão no fim, não significa que eles começaram a viver quando os mil anos chegam ao fim. Quando a Bíblia diz que Mical não teve filhos "até" o dia de sua morte (2 Sm 6.23), não significa que tenha tido filhos após a sua morte. A clausula ou frase "até" não conta por si só o que acontece quando o ponto designado é alcançado. Isto sempre depende do contexto. E aqui o contexto diz que quando os mil anos terminaram os incrédulos ressuscitarão para a morte eterna, para a separação eterna das bênçãos de Deus. Assim João diz que por os fiéis mortos viverem durante os mil anos, isto é, participarem das bênçãos de Deus que é aplicado a eles, no seu estado sem o corpo; assim os incrédulo mortos não viveram durante este tempo, pois existem num estado de separação de todas as bênçãos de Deus.

   Eles reinaram e governaram com Cristo. Os crentes martirizados, isto é, chamado de "a primeira ressurreição." Esta palavra tem sido objeto de muitas especulações desnecessárias. Alguns luteranos ensinam à base dessas palavras que antes do fim do mundo haverá uma ressurreição física separada dos mártires. Muitas vezes isto é acoplado a certas formas mais brandes do milenarismo. Parece que João fala aqui somente dos mártires porque o destino deles foi bastante inquietante durante suas peregrinações. A Bíblia afirma em toda a parte que os fiéis continuam a viver. Declarou-lhe Jesus:

Então, ele respondeu: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.  Ora, os que haviam sido enviados eram de entre os fariseus.  E perguntaram-lhe: Então, por que batizas, se não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?  Respondeu-lhes João: Eu batizo com água; mas, no meio de vós, está quem vós não conheceis, (João 1.23-26 RA)

Além disso, o que foi dito em relação às "almas" que João viu, proíbe qualquer referência milinarista a pensar na ressurreição dos corpos.

     Os milenaristas vêem nesta "primeira ressurreição uma alusão a duas ressurreições, uma no início e outra no fim do milênio". A primeira é a ressurreição dos fiéis e a segunda a ressurreição do resto dos mortos. Eles se baseiam para isso nas palavras de Paulo aos tessalonicenses: Porquanto o Senhor mesmo, dada a sua palavra de ordem, ouvida a voz do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus, descerá dos céus, e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiro. (1 Ts 4.16 RA) Estas palavras, dizem eles se refere à primeira ressurreição. Este ensino de duas ressurreições é claramente contradita pelas palavras de Jesus:

E a vontade de quem me enviou é esta: que nenhum eu perca de todos os que me deu; pelo contrário, eu o ressuscitarei no último dia.  De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia. (João 6.39-40 RA)

Se estas palavras representam duas ressurreições, ensinadas pelos milenaristas, então o "um dia antes do juízo final do mundo" deve ser chamado de "o último dia". Mas esta interpretação viola a lei da lógica, pois o último dia não é um dia ante do último. Se os fiéis são ressuscitados mil anos antes do fim do mundo, então eles não ressuscitam "no último dia".

     Não há na Bíblia nenhuma outra passagem que fala de "duas ressurreições" nestes termos. Há, no entanto uma passagem de especial importância porque ela nos ajuda a estabelecer a visão do centro de Apocalipse. No evangelho de João, o apóstolo recorda as palavras de Jesus:

Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora e já chegou, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão... Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão:  os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo. (João 5.25, 28-29 RA)

Nestas palavras Jesus fala de duas ressurreições distintas que estão separadas no tempo. Mas quando fala de duas ressurreições, ele não fala de um momento distinto entre uma ressurreição dos fiéis e outra dos infiéis. Na segunda ressurreição "todos os que estão nos túmulos" virão para fora ao mesmo tempo. A linguagem não fala de duas ressurreições separadas como os visionários milenaristas.

     A primeira ressurreição da qual Jesus fala é a ressurreição espiritual. Ela já tem lugar enquanto Jesus vivia neste mundo e continua no futuro (que vem a hora, e já chegou). Esta é a ressurreição que tem lugar quando aqueles que são espiritualmente mortos, dando ouvidos à voz do Filho de Deus, quando vem a eles a pregação do evangelho, quando esta pregação é feita pelo próprio Cristo ou por aqueles a quem Cristo disse: Aquele que vos ouve a vós, ouve-me a mim. (Lc 10.16)

     A conversão de um pecador, pelo qual ele vem à fé, é chamada na Bíblia de ressurreição. Paulo, por exemplo, fala da ressurreição que experimentamos quando fomos ressuscitados a uma nova vida pelo batismo.

Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que seja a graça mais abundante?  De modo nenhum! Como viveremos ainda no pecado, nós os que para ele morremos?  Ou, porventura, ignorais que todos nós que fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte?  Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida.  Porque, se fomos unidos com ele na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição,  sabendo isto: que foi crucificado com ele o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos;  porquanto quem morreu está justificado do pecado.  Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos,  sabedores de que, havendo Cristo ressuscitado dentre os mortos, já não morre; a morte já não tem domínio sobre ele.  Pois, quanto a ter morrido, de uma vez para sempre morreu para o pecado; mas, quanto a viver, vive para Deus.  Assim também vós considerai-vos mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. (Romanos 6.1-11 RA)

Ele fala dos cristãos como povo que foi ressuscitados com Cristo (Cl 3.1; 2.12) Em Efésios, ele cita o que se tornou parte de um dos antigos hinos: Desperta, ó tu que dormes, levanta-te de entre os mortos, e Cristo te iluminará (Ef 5.14) Antes, na mesma carta, ele escreveu que Deus nos deu vida juntamente com Cristo (Ef 2.4,5) As pessoas estavam mortas em delitos e pecados, (Ef 2.1) receberam vida espiritual, quando elas vieram à fé em Cristo. Esta é a primeira ressurreição, que todo o cristão experimenta.

     A segunda ressurreição da qual Jesus fala em João 5 é a que está no futuro. Nesta ressurreição todos os que "estão nos túmulos ouvirão a voz do Filho de Deus. Esta é a ressurreição do corpo que terá lugar no "último dia". É a ressurreição de ambos: crentes e descrentes, para alguns será a "ressurreição para a vida, para outros a "ressurreição para a condenação. Visto que nesta condenação os incrédulos serão sentenciados para a eterna separação de Deus, podemos chamá-la de a "ressurreição para a morte."

    A primeira ressurreição em Apocalipse 20, por isso, é a conversão do pecador. No dia de sua conversão o pecador vem à vida espiritual. Ele nasceu de novo. E a vida que começa neste dia de sua conversão e é a vida eterna, que não é interrompida pela morte do corpo. A alma continua a desfrutar esta nova vida, mesmo estando separada do corpo. Esta é a simples explicação bíblica que João nos dá quando diz que as almas dos mártires vivem e reinam com Cristo nos mil anos.

    Deste contexto é muito simples determinar o que significam os "mil anos". Para cada cristão individual, sua vida real cósmica com o dia de sua conversão e quando ele morre, sua alma continua a viver e reinar com Cristo até o dia em que seu corpo será ressuscitado e de corpo e alma desfrutar de todas as eternas bênçãos de Deus. Com os mártires do tempo de João nós podemos dizer da mesma forma que a verdadeira vida começou no dia em que se tornaram cristãos. Quando foram decapitados, João viu suas almas vivendo e reinando com Cristo por mil anos (um tempo determinado por Deus). No final dos mil anos, como João conta nos versos que seguem, os corpo mortos serão ressuscitados para serem reunidos com suas almas. Os mil anos, por isso, são o termo simbólico para todo o tempo entre os primeiros dias da igreja e o dia da ressurreição. Portanto, nesta breve visão, os mil anos são o tempo de todo o Novo Testamento. Isto fica claro do contexto. Assim podemos usar esta passagem como evidência de que na linguagem de Apocalipse o número simbólico que significa um conceito completo.

    João conclui esta visão com a quinta das sete bem-aventuranças: Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos. (Apocalipse 20.6 RA)

     A palavra traduzida por "bem-aventurança" é novamente a palavra "makarios", feliz. A palavra aponta para a felicidade daqueles que foram torturados e mortos por causa de sua fé. A palavra é por isso uma outra reafirmação da afirmação de Paulo de que mesmo se formos torturados, perseguidos e mortos por amor a Cristo, nós somos mais que conquistadores (vencedores) através dele. (Rm 8.37)

    Daqueles que tiveram parte na primeira ressurreição, é dito que não estão simplesmente alegres, mas são também santos. Esta afirmação e evidência adicional de que nossa interpretação acima, da primeira ressurreição, está correta. Através desta 1ª ressurreição desfrutamos e participamos das bênçãos do sofrimento vicário e da promessa do perdão de Cristo. Cremos nesta promessa e nossa fé nos coloca fora do poder do diabo. Pelo perdão somos feitos santos e livres de culpa.

     Por o povo de Deus ser santo, a segunda morte não tem poder sobre ele. A primeira morte é indubitavelmente a morte que sofreram na mão dos governos que os perseguiram. Esta morte não foi capaz de roubar-lhes a verdadeira vida, a vida eterna que eles receberam quando renasceram. Jesus disse: Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma. (Mt 10.28 RA) Porque eles tiveram parte na 1ª ressurreição, pela qual eles ressuscitaram para a vida eterna, a segunda morte, a eterna condenação ao inferno não pode tocá-los. Assim eles estão sempre além do alcance da corrente do diabo, a quem é atribuído o poder da morte, (Hb 2.14) e que é chamado de assassino deste o início. (Jo 8.44)

    Traduzimos "esontai iereis", "eles serão sacerdotes de Deus e de Cristo, e reinarão com ele os mil anos" (v.6), eles continuarão sacerdotes", porque eles são sacerdotes desde o dia de sua conversão. Pedro diz que todos os cristãos "são sacerdotes reais" (2Pe 2.9), e no início de Apocalipse João escreveu a seus leitores que Jesus nos fez sacerdotes de Deus (1.6). Na luz disto vemos que o seu sacerdócio continua durante os mil anos. Em que este sacerdócio consiste não nos é dito. Uma das principais funções é oferecer sacrifícios. Podemos dizer que à base dos cantos dos remidos, que cantam aqui em Apocalipse, que estes sacerdotes provavelmente trazem seus sacrifícios de louvor e agradecimento ao trono. Visto que orações e intercessões são também uma das funções dos sacerdotes, podemos nesta palavra a afirmação da Apologia da Confissão de Augsburgo: "que os santos nos céus oram por nós." (CA XXI)

     Mais uma vez, então, somos informados de que os santos decapitados reinam com Cristo durante os mil anos. Alguns manuscritos não têm o artigo definido na palavra "mil anos", mas parece que o contexto chama por um artigo para própria referência.

    O governar dos santos nos céu deve ser de grande conforto para a igreja sofredora. As autoridades que se opuseram à igreja o que são agentes da besta do mar, parecia terem poder sobre o povo de Deus. Assim parece especialmente em tempos de perseguição ativa. Por essa razão o Espírito Santo, que inspirou a João para escrever estas palavras. Evidentemente consideram que isto vale a pena lembrar a igreja pela segunda vez, pois seus irmãos falecidos, que sofreram tal ignomínia entregues aos que governam sobre eles, são na verdade os que governam o universo com Cristo.

    A Escritura não nos explica este governar com Cristo em detalhes, mas podemos dizer à base do que João diz que estes sacerdotes no céu, na igreja triunfante, com suas orações pela igreja ajudam a ultimar a batalha da igreja militante.

Satanás é solto e julgado (Ap 20.7-10)

     Em seu discurso escatológico no Evangelho Sinóptico (Mt 24; 13; Lc 21), o Senhor Jesus falou da grande tribulação que virá antes do fim sobre o mundo e os muitos falsos cristos e falsos profetas que enganarão a muitos e se fosse possível os próprios eleitos. Esta visão apresenta a mesma profecia de Ap 20.7-10 em viva imaginação.

     No final do tempo do Novo Testamento, quando os mil anos chegam ao fim, Satanás, que estava amarrado desde o início dos mil anos, será novamente solto. Vimos que o diabo estará livre para enganar as pessoas. Isto acontecerá quando a mensagem do evangelho será emudecida e obscurecida pelo crescimento de falsos cristos e falsos caminhos da salvação. Se olharmos para nosso mundo moderno parece que estamos vivendo neste último período da história do mundo. Nunca antes o mundo viu o desenvolvimento de tantos cultos anticristãs. Nunca antes o evangelho tem sido tão amplamente negado pela igreja apostólica. Teólogos de nosso tempo falam da era "pós apostólica". Parece que Satanás foi solto de sua prisão.

     Tendo sido solto, o Diabo passa a comandar as forças anticristãs deste mundo para a batalha final contra a Igreja Cristã. Ele ajunta as pessoas dos quatro cantos do mundo para levá-las à batalha. As nações, que ele desencaminha por uma batalha aberta contra a igreja, são chamadas de Gogue e Magogue. (Ez 38-39) Nada podemos dizer a respeito de Gogue e Magogue, exceto que na profecia de Ezequiel esses são os grande inimigos do povo de Deus. Ali Gogue é descrito como o príncipe e chefe de Mesgue e Tubal. Os milenaristas identificam Mesgue e Tubal com as cidades de Moscou e Bobalsk da Rússia. Mas isto é pura fantasia e suposição. Magogue é a terra de onde Gogue vem. A identificação com a Rússia e o comunismo russo é uma imaginação. Mesmo que possamos dizer que as forças do comunismo ateu são parte desta arma satânica que o diabo reúne para destruir a igreja.

     A batalha que é descrita aqui é indubitavelmente a mesma batalha de Armagedom do capítulo 16 e a batalha feita pelo falso profeta contra o cavaleiro branco do capítulo 19. Nesta profecia Ezequiel pinta a derrota das forças anticristãs nos mesmos termos como João as descreve no capítulo 19, a saber, como uma grande festa de sacrifícios no qual os pássaros e os animais selváticos comem a carne do exército derrotado. (Ez 39.17-20). Por esta visão a igreja é lembrada que até o fim dos tempos, o mundo permanece seu inimigo e que o diabo usará todas as forças do mundo numa tentativa final para destruir a Igreja. Os recursos são formidáveis. João vê como eles marcham como areia do mar em multidões. João vê como eles marcham através das vastas extensões de terras para cercar o campo dos santos e a cidade amada. O campo dos santos e a cidade amada é a Igreja. A palavra "amada" aqui no grego é um particípio perfeito, caracterizando o infalível e eterno amor de Deus por seu povo. Os exércitos descritos aqui não são exércitos primários, uma representação simbólica de todos os males espirituais e morais contra os quais a Igreja precisa lutar. As forças cívicas e políticas da igreja são pequenas e fracas em comparação aos milhares que lutam conta os eleitos. Como Paulo diz: Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes ficar firmes contra as ciladas do diabo; porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes. (Efésios 6.11,12 RA)

     Mesmo que a situação pareça desesperadora e a cidade amada cercada de todos os lados, não há perigo para a Igreja. Ela não está firmada em sua própria força e poder, pois quem batalha por ela é Jesus. Na visão de Ezequiel com respeito a Gogue e Magogue diz: Meterei fogo em Magogeu e nos que habitam seguros nas terras domar, e saberão que eu sou o Senhor. (Ez 39.6) Em descrição similar João vê vir do céu fogo que destrói os exércitos de Satanás. O registro da vitória, como na breve batalha contra a besta e o falso profeta, é muito breve. No mesmo momento inicia o julgamento dos inimigos da igreja. Fogo vem do céu e os devora. Vejam com que facilidade Deus pode dar um fim a todos os sofrimentos do seu povo, quando iso lhe apraz.

    Tendo suas forças de apoio destruídas, o diabo é lançado no lago de fogo. Com este evento todos os inimigos da igreja são postos fora de ação. Sua vitória é agora completa. As duas bestas do capítulo 13 e o grande dragão que encontramos no capítulo 12 foram vencidos e lançados no lago de fogo, assim que não são mais capazes de ameaçar a Igreja.

    João assegura a seus leitores que a promessa de Cristo de que as portas do inferno não prevalecerão contra a Igreja finalmente se cumpriu. Aqueles que atormentaram e torturaram o povo de Deus no período temporal por perseguições serão punidos pelos séculos dos séculos. (v.10)

    A razão humana considera este conceito de um castigo eterno ofensivo e perguntam muitas vezes: Como pode um pecado cometido num período finito ser castigado por um período infinito. Tal argumento não pode ser defendido diante da estreita razão humana. O espaço de tempo usado para cometer um pecado não pode ser levado em conta na avaliação do castigo que o pecado merece. Muitas pessoas têm sido sentenciadas com uma condenação para toda a vida por causa de um crime cometido em segundos.

     Testemunhas de Jeová argumentam muitas vezes dizendo: O diabo e seus seguidores são lançados no lago de fogo, logo, a punição não pode ser eterna, pois o fogo não pode  durar por toda a eternidade. Pois não haverá combustível suficiente no universo para manter tal fogo. Mas Deus diz: Deixe isto comigo. Criei o mundo do nada e poderei manter o fogo eternamente. Além disso, o fogo que causa o tormento a Satanás e aos espíritos maus não precisa ser do tipo de fogo que nós conhecemos, mas é um fogo realmente atormentador.

   Todos estes argumentos só mostram, infelizmente, a má vontade de crer nas simples e claras palavras da Escritura, que dizem que o diabo será atormentado pelos séculos dos séculos.

     Um outro argumento mais plausível afirma que a punição não será eterna, porque a palavra "aioon" não significa necessariamente eternidade. Isto é verdade. Ela pode significa também "um longo tempo". No entanto, neste lugar, o contexto não o permite e requer que seja interpretado: "pelos séculos dos séculos." Essas palavras só podem significa: por toda a eternidade. Também a frase abreviada "pelos séculos", só pode ter este significado. Estas palavras "pelos séculos dos séculos", usadas para descrever o tormento do diabo, são usadas 8 vezes em outros livros do Novo Testamento (Rm 16.27; Gl 1.5; Fp 4.20; 1Tm 1.17; 2Tm 4.18; Hb 13.21; 2Pe 4.11; 5.11) Cada uma destas passagens é uma doxologia que afirma que a glória é dada a Deus "pelos séculos dos séculos", e nenhuma delas diz que a glória lhe será dada a ele somente por um longo tempo.

    Em Apocalipse esta frase é usada doze vezes. Três vezes ocorre na doxologia similar às passagens citadas acima (Ap 1.6; 5.13; 7.12). Em quatro delas Jesus ou Deus é descrito como vivendo "pelos séculos dos séculos." Nenhuma delas pode ser reconciliada com a idéia na Bíblia de que Deus só queira viver por um longo tempo. Uma das passagens diz que Jesus governará "pelos séculos dos séculos", que novamente significa: por toda a eternidade. Note cada uma das passagens citadas é usada em conexão com a afirmação feita a respeito de Deus.

    Três destas passagens falam da punição que dura "pelos séculos dos séculos". As primeiras palavras sobre a punição são sobre os que adoraram a besta (14.11), a segunda, a punição da Babilônia (19.3) e a terceira a condenação eterna do diabo (20.10). As passagens restantes dizem que os santos reinarão "pelos séculos dos séculos".

    Mesmo que a frase curta "pelos séculos", usada neste contexto, nos força a concluir que o escritor tem na mente a eternidade e não um longo período de tempo. Igual às frases longas, ela é usada na doxologia (Mt 6.13; Rm 1.25; 11.36; Jd 25). O restante destas passagens é especialmente significante, pois descreve a glória e majestade e poder e autoridade de Deus "antes dos tempos, agora e para sempre". Uma vez ela descreve a duração do reino do Salvador (Lc 1.33). As passagens restantes nas quais ela é usada – mostram claramente que a palavra denota eternidade e não somente um período longo de tempo. Elas dizem que Jesus é o mesmo ontem, hoje e por toda a eternidade, que no contexto pode unicamente significa para sempre. (Hb 13.8; 2.10-12)

    Não há dúvida, por isso, de que estas passagens ensinam a punição eterna do diabo. Somente aqueles se recusam a crer o que a Bíblia diz, mas nós não queremos seguir os incrédulos e ler algo diferente do que as palavras dizem.

(1) Becker, W. Siegbert, Revelation. The distant Triumph Song. Northwestern Publishing House. Milwaukee, Wisconsin. 1985.

Rev. Siegbert W. Becker. Foi pastor da Igreja Luterana Synodo de Wisconsin (1914 – 1984). Resumo das páginas: 1-20. Tradução e adaptação e resumo das páginas 1 a 20 e  296 – 319, para uso particular. Horst R. Kuchenbecker. Fevereiro de 2008.

São Leopoldo, 27/02/2008

Horst R. Kuchenbecker