Não roube (Êx 20.15).
Depois de nos dizer como devemos nos relacionar com Ele, como devemos nos relacionar com nossos pais e superiores, como devemos tratar da nossa vida e da vida de nosso próximo e de como deve ser nosso relacionamento conjugal, agora, no sétimo mandamento Deus nos diz como devemos tratar os bens materiais, tanto nossos, quanto do próximo. E Deus faz isso com apenas duas palavras: não roube. Vamos ver hoje o que isso tem a ver com nossa vida.
Nesta última semana gastei várias horas pensando sobre este mandamento. Lendo textos correlatos na Bíblia e também jornais, vendo notícias na TV e ouvindo notícias no rádio. Sabem o que descobri? Roubar é algo que é comum a quase todas as pessoas. São os políticos inescrupulosos, os assaltantes, e até juízes de futebol, além de muitos, muitos outros. Roubar, poderíamos dizer, é quase que uma instituição nacional.
Antes de prosseguirmos, é preciso definir roubar ou furtar. O dicionário nos diz que furtar é roubar, surrupiar. Já roubar é arrebatar bens alheios mediante violência ou grave ameaça à vítima, ou ainda, subtrair fraudulentamente bens alheios. Lutero define furto como sendo apropriação injusta de bens alheios, o que, em poucas palavras, compreende toda espécie de vantagens, para desvantagem do próximo, em toda sorte de negócios. E o reformador vai adiante, dizendo que furtar é vício amplissimamente difundido e muito comum que se fossem enforcados todos os que são ladrões, - embora não queiram que assim lhes chamam -, o mundo em breve ficaria deserto e haveria insuficiência de carrascos e forcas. É bom lembrar que Lutero escreveu isso em 1529, na Alemanha e não em nosso Brasil atual.
Quando falamos em furtar e roubar, imediatamente pensamos em um assalto ou no arrombamento de um carro ou casa. Pensamos em alguém com uma arma na mão, tirando dinheiro à força, ou numa quadrilha cavando um túnel para roubar o dinheiro de um banco. Mas isso é apenas uma pequena amostra da amplidão que este mandamento possui. Ao nos dizer não roube, Deus estava incluindo aí todas as espécies possíveis e imagináveis de roubo e furto. De fato, nestas palavras estão incluídos os grandes assaltos, as falcatruas dos homens públicos, e também os pequenos roubos que acontecem diariamente e dos quais, muitas vezes, somos os protagonistas ou ao menos exercemos um papel secundário. Lutero diz que não se chamará de furto apenas o ato de limpar cofres e bolsos; estender-se-á ao mercado, a todas as lojas, açougues, adegas de vinho e cerveja, oficinas; em suma, onde quer que haja transações comerciais e se dê e receba dinheiro por mercadorias ou trabalho.
Olhando desta forma, podemos perceber que todos nós – inclusive eu – de alguma maneira roubamos e praticamos furtos. Isso acontece sempre que causo dano à propriedade de outra pessoa, como por exemplo, quando vejo que algo está mal nos bens de meu próximo e não me preocupo em ajudar a melhorar. Isso é muito comum num supermercado, por exemplo. Quantas vezes vemos um determinado produto cair (ou derrubamos sem querer) e o deixamos lá no chão, para ser pisado ou chutado por outros. É também comum em nosso trabalho, quando fazemos corpo mole, ou fazemos nosso serviço de qualquer maneira, só pra cumprir tabela. Nestes dois casos estamos pecando contra o sétimo mandamento. Por isso, não podemos ficar assombrados quando vemos os grandes golpes praticados por um Maluf, um Severino ou um juiz de futebol. Afinal, eles apenas fazem em larga escala aquilo que fazemos pensando que não é errado.
Quando olhamos para o cenário político brasileiro, constantemente nós somos informados de desvios de verba pública. Ficamos indignados quando vemos os milhões de reais, que deveriam ter sido investidos em saúde, educação ou outras obras necessárias, sendo desviadas para coisas desnecessárias ou para o bolso de algum espertalhão. Porém, não nos assombramos quando nós mesmos praticamos, ou um de nossos familiares pratica o desvio de verbas. Muitas vezes alguém desvia o dinheiro do alimento para comprar cigarros ou bebida alcoólica. Muitas vezes alguém desvia o dinheiro da oferta para Deus para usa-lo para outro fim. Muitas vezes nossos filhos desviam o dinheiro que lhes demos para um lanche, comprando qualquer outra coisa. E por aí vai.
Ao assistirmos um noticiário na TV, ficamos assombrados com as imagens de pessoas morrendo nos hospitais por falta de um leito, ou com o desperdício de alimentos ao final do dia nos Ceasas do Brasil. Porém, quando alguém bate à nossa porta, pedindo socorro para um caso de doença, como reagimos? E quanto alimento nós colocamos fora porque não os usamos enquanto podiam ser consumidos, ou simplesmente porque não comemos comida requentada. E mais, se alguém bate à nossa porta pedindo um pedaço de pão, quantas vezes dizemos que não temos nada.
Enfim, ao observarmos com mais cuidado este mandamento, vemos que temos infringido a ordem de Deus constantemente, pois são muitas as ocasiões em que nós descuidamos de nossos bens e também dos bens de nosso próximo.
Tudo bem, pastor. Eu concordo com tudo o que você disse. Mas daí a querer me comparar com um Maluf ou esse juiz de futebol, é muita coisa. Eles são muito piores que eu. E eu não acho que os meus "desvios" de verba sejam assim tão graves. Esse pode ser o pensamento de alguns ou de todos neste momento. E, realmente, diante de nossos olhos, nossos pequenos deslizes no cuidado com os bens, podem parecer insignificantes diante dos milhões roubados diariamente. Mas o mesmo não vale diante dos olhos de Deus.
Deus nos diz apenas: não roube. Ele não estabeleceu valores, mas deixou claro que não devemos roubar, furtar ou desviar um centavo que seja. O mandamento abrange desde o apanhar uma fruta no quintal do vizinho sem autorização, até o desvio de centenas de milhões de reais das verbas públicas. O mandamento abrange desde o não devolver algo que pedi emprestado até o mal uso do dinheiro que ganhei com a ajuda de Deus. Portanto, aos olhos de Deus nós somos tão maus quanto os ladrões que aparecem nos noticiários, merecedores do mesmo castigo, ou seja, da condenação eterna.
Felizmente, nós temos Cristo. E em Cristo, Deus nos dá o perdão para todos os nossos pecados, inclusive aqueles que cometemos contra o sétimo mandamento. Ao morrer na cruz do Calvário, Cristo carregou consigo todos os nossos pecados. E ao ressuscitar ao terceiro dia, nos garantiu que Deus aceitou seu sacrifício em nosso lugar. E agora, promete a todos nós que, ainda que tenhamos pecado muito contra seus mandamentos, contra Ele ou contra nosso próximo, ainda assim temos o seu perdão. E junto com o perdão, Ele nos dá o Espírito Santo, que nos capacita a viver uma nova vida, uma vida onde queremos fazer sempre a vontade de Deus.
Agora, queridos irmãos, que sabemos a vontade de Deus, e sabemos também que Cristo morreu pelos nossos pecados, vamos, com a ajuda do Espírito Santo, viver de acordo com a vontade de Deus. Vamos viver a nova vida que Ele nos dá em Cristo. Vamos glorificar a Deus com nossa vida e, assim, espalhar a luz de Cristo para todos. Que Deus nos ajude. Amém.
(Rev. Éder Carlos Wehrholdt - Campo Largo/PR)
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