Pois eu também não condeno você. Vá e não peque mais! (Jo 8.11)
Caros irmãos e irmãs no Salvador Jesus.
Talvez o que mais exista em todo o mundo sejam leis. Existem leis para todas as coisas, algumas delas muito estranhas, como uma existente no Estados Unidos que diz que os homens não podem pescar se estiverem montados em zebras ou girafas. Também no Brasil existem leis dos mais diferentes tipos e, quando foi redigida a nossa atual constituição federal, um brilhante deputado quis incluir nela a resguarda do direito de só a mulher poder ser mãe.
Estes são alguns itens interessantes nas leis humanas. Mas elas não são as únicas leis existentes. Muito antes dos homens criarem suas leis, Deus já as havia criado. Na verdade, as leis de Deus resumiam-se em uma única ordem: Você pode comer as frutas de qualquer árvore do jardim, menos da árvore que dá o conhecimento do bem e do mal. Não coma a fruta dessa árvore; pois no dia em que você a comer, certamente morrerá. (Gn 2.16-17)
É interessante observar que Deus deu uma única lei ao homem e, junto com ela mostrou as conseqüências da desobediência desta lei: certamente morrerá. E ao dizer que o ser humano morreria se comece do fruto proibido, Deus não quis dizer apenas que sua vida neste mundo teria um fim, mas que o ser humano ao transgredir a lei divina estava fadado à morte eterna, ao inferno.
Hoje, em pleno século XXI, nós cristãos costumamos dizer que vivemos em outros tempos. Nós desde pequenos aprendemos que Cristo veio a este mundo para morrer pelos nossos pecados e, assim, por causa do sacrifício de Cristo em nosso favor, nós não estamos mais sob o domínio da Lei. E, infelizmente, muitos cristãos interpretam isso de uma maneira totalmente errada, vendo na liberdade que Cristo nos conquistou, um motivo para a libertinagem, para viver a vida da maneira como bem entendemos. E para constatarmos isto, basta olharmos para nossa vida e fazer um balancete: quantas vezes ao dia eu deixo de cumprir a lei de Deus? Quantas vezes ao dia eu penso, falo e faço coisas que são contrárias à Lei de Deus?
É verdade que Cristo nos libertou da escravidão da Lei, por cuja obediência total e irrestrita teríamos que ser santos – perfeitamente santos – aos olhos de Deus. Mas isso não significa que a Lei de Deus deixou de ter valor. Ao contrário, o próprio Cristo nos lembra que até o final dos tempos nada será tirado da lei, ou seja, ela continua sendo valiosa para todos nós e Deus continua esperando que nós a obedeçamos. Caso contrário, teria dito claramente que a sua Lei perdeu todo o valor.
Mas então: qual a importância da Lei de Deus para nós hoje? Para que ela serve? Como devemos usa-la em nossas vidas?
Antes de mais nada é preciso lembrar que toda a Palavra de Deus é dividida em Lei e Evangelho. Pela Lei nós conhecemos nosso pecado. É ela que nos diz não roube e quando roubamos, ela nos informa que cometemos um pecado. Já o Evangelho nos lembra Cristo. Quando nós pecamos, Cristo, pelo Evangelho, nos diz: tudo bem. Eu morri por este pecado também. Você está perdoado.
A distinção correta entre Lei e Evangelho é uma das tarefas mais difíceis, já que o mesmo texto pode ser Lei num contexto e Evangelho em outro, ou vice-versa. Ou ainda, um texto do mais doce Evangelho puro pode se transformar na mais amarga Lei, dependendo da maneira como eu o emprego. Mas hoje nós queremos conhecer um pouco mais a Lei e como ela se aplica à nossa vida.
O texto base para esta meditação é, talvez, um dos mais usados para mostrar, de forma errada, que Deus não condena ninguém. Uma mulher foi apanhada em adultério e levada a Jesus para que fosse julgada por Ele. Os seus acusadores sabiam até a pena que ela deveria sofrer, mas queriam ouvir de Jesus que ela não deveria ser castigada, ou seja, queriam encontrar uma desculpa para condenar Jesus por sacrilégio.
E, depois de exposto o caso, Jesus calmamente resolve o problema com a indicação de que aquele dentre os acusadores que não tivesse nenhum pecado que fosse o primeiro a apedrejar aquela mulher. Para surpresa geral, um a um todos foram embora, até que finalmente ficaram apenas Jesus e aquela mulher. Jesus indagou sobre seus acusadores e a mulher disse que tinham ido embora sem apedreja-la. Então, dá a ela o sua sentença: Pois eu também não condeno você. Vá e não peque mais!
Nesta história podemos encontrar os três usos da Lei, ou seja, a Lei servindo como um espelho como um freio e como um guia ou norma de vida.
Espelho
Os fariseus julgavam-se mais perfeitos que o povo comum e, por isso, pensavam que tinham o direito de cuidar da vida alheia, observando quem estava ou não em pecado. Eles observavam, ao menos exteriormente, todas as regras de obediência à Lei. Mas ainda assim, apesar de toda a sua aparente correção de vida, foram repreendidos por Jesus: Quem de vocês estiver sem pecado, que seja o primeiro a atirar uma pedra nesta mulher!
Aqui Jesus usa a Lei de Deus como um espelho. Coloca a Lei diante daqueles perfeitos fariseus e faz com que eles avaliem sua vida e percebam que, apesar de tudo, são tão pecadores quanto aquela mulher.
A Lei de Deus também faz isso em nossas vidas. Sempre que nos vemos diante da Lei, nós somos levados a perceber o quanto temos pecado e, tal como num espelho vemos a sujeira de nosso rosto, no espelho da Lei de Deus vemos a sujeira de nossos pecados e as imperfeições de nossa vida cristã.
Ao olharmos nosso rosto no espelho e vermos a sujeira ou os cabelos despenteados, somos incentivados, por esta visão, a melhorar o nosso aspecto. Da mesma forma, quando olhamos nossa vida no espelho da Lei de Deus e vemos nossos pecados, somos incentivados, pela ação do Espírito Santo, a mudar nosso comportamento, corrigindo o nosso viver e vivendo de acordo com a vontade de Deus.
Freio
Vamos voltar à história narrada por João. Os fariseus queriam matar a mulher adúltera a pedradas, conforme dizia a Lei. Jesus aplica a eles a mesma Lei com a qual eles estavam condenando a mulher e faz com que vejam que sua situação não era diferente da dela. Eles eram tão pecadores quanto elas e, mais que isso, caso a matassem, estariam cometendo outro pecado. Quando avaliaram sua vida à luz da Lei de Deus, eles foram freados por esta lei.
Todos nós conhecemos as funções de um freio, seja ele do carro ou da bicicleta. Num primeiro momento, podemos imaginar que o freio serve simplesmente para parar. Mas não. Ele também tem outras utilidades, como diminuir a velocidade e evitar um acidente.
Foi isso o que aconteceu naquele momento, em Jerusalém. Os fariseus estavam embalados, prontos a cometer um pecado e Jesus aplica neles o freio da Lei. O mesmo acontece conosco, quando ouvimos a pregação ou lemos a Lei de Deus e percebemos que também nós estamos rumando em alta velocidade em direção ao pecado. O Espírito Santo então age em nós e nos freia, impedindo que o acidente aconteça.
Deus não quer que nós pequemos. Ele odeia o pecado. Por outro lado, Deus ama o pecador. Ao nos dar a Lei como um freio e o Espírito Santo como Auxiliador, Ele nos dá meios de não nos acidentarmos espiritualmente e nos ajuda a viver como santos diante de seus olhos.
Norma
Quando os fariseus foram embora, lá no pátio do templo ficaram apenas Jesus e a mulher adúltera. De cabeça baixa ela esperava a sentença final, proferida por Jesus. Mas Jesus não a condena. Ao contrário, manda que ela vá embora com uma recomendação: Vá e não peque mais. Em outras palavras: vá e viva de acordo com a vontade de Deus. E Qual é a vontade de Deus? Como Deus quer que eu viva?
Quando vamos aprender a jogar determinado jogo, a primeira coisa que aprendemos são as regras ou normas, o que pode e o que não pode ser feito. Com isso nós sabemos como nos comportar ao jogarmos.
Ao nos dar a sua Lei, Deus nos ensina a maneira como nós devemos viver. Em sua Lei Ele nos diz o que podemos e o que não podemos fazer. Assim, a Lei de Deus serve como um guia, como uma regra, como uma norma para a nossa vida. É através da Lei de Deus que sabemos como devemos nos comportar tanto em nosso relacionamento com o próprio Deus quanto com o próximo.
Pela observação e obediência às regras, ou seja, à Lei de Deus, nós vivemos de acordo com a sua vontade. É verdade que é impossível que consigamos cumprir toda a Lei. Afinal, nós somos naturalmente pecadores e, por causa disso, somos imperfeitos por natureza e incapazes de fazer a vontade de Deus sempre. Mas isso não pode, jamais, ser a desculpa para não procurarmos obedecer a Deus em toda a nossa vida. Afinal, se fosse assim, com certeza Jesus não teria dito à mulher vá e não peque mais. Cristo nos deu o Espírito Santo como ajudador e Ele sempre está pronto a os auxiliar no obedecer a Lei de Deus.
Evangelho
Finalmente, podemos retornar à pergunta: a Lei de Deus tem algum valor para o cristão hoje? A resposta, nós já sabemos: Sim, ela tem muito valor para o cristão hoje. Não como meio de obtermos salvação. A vida eterna nós conquistamos graças ao sacrifício de Cristo em nosso favor. A Lei de Deus tem imenso valor para nós cristãos hoje como espelho, para mostrar que somos pecadores; como freio, para evitar que cometamos pecados; e como norma, para nos ensinar a viver de acordo com a vontade de Deus.
Nós não precisamos viver como os fariseus viviam, com uma observação exterior da Lei. Mas também não estamos autorizados a viver de qualquer maneira. Nós somos sempre incentivados a observar a Lei de Deus e, sempre que eu deixo de fazer isso, é como se disséssemos a Cristo: olha, teu sacrifício por mim é uma bobagem e eu não estou nem aí pro meu futuro eterno. Por outro lado, se obedecemos a Lei de Deus com o intuito de comprarmos ou ganharmos a vida eterna, também estamos jogando no lixo o sacrifício de Cristo, pois é da vontade de Deus que por meio de Cristo nós sejamos perdoados e salvos eternamente.
Quando pecamos, somos acusados pelo Diabo, o mundo e pela nossa consciência. Se temos Cristo como Salvador, então vamos ouvir Ele dizer: quem estiver sem pecado que atire a primeira pedra. Uma vez que nossos acusadores também são pecadores, eles vão se retirar um a um e então Cristo nos dirá: Eu também não condeno você. Ao contrário, morri em seu lugar para pagar todos os seus pecados. Agora vá e não peque mais.
Que Deus nos ajude a viver de maneira agradável a Ele, crendo em Cristo como nosso Salvador e, com a ajuda do Espírito Santo, obedecendo á sua santa Lei. Amém.
(Rev. Éder Carlos Wehrholdt - Campo Largo)
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