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quinta-feira, 3 de julho de 2008

Mt 13.1-9(18-23) - Sermão

Mateus 13.1-9 (18-23)

Introdução
Mateus relata no capítulo anterior que Jesus expulsou um demônio de uma
pessoa que era ao mesmo tempo cega, muda e surda, - que sofrimento - e fez
com que o homem voltasse a enxergar, ouvir e falar. O povo ficou
maravilhado e as pessoas diziam: Não é este o filho de Davi, o Messias que
haveria de vir. (Mt 13.23) Mas os fariseus acusaram Jesus de que ele estava
fazendo isto pelo poder de Belzebu, isto é, pelo poder do diabo. (v.24)
Jesus lhes mostrou que isto era impossível, pois se um reino está dividido
entre si, perecerá. Assim, sua pregação em alguns corações gerou fé, mas
outros a rejeitaram.
Então Jesus se retirou dali e foi para sua residência em Cafarnaum, no mar
da Galiléia. No outro dia levantou cedo e foi para o mar. Grande multidão
se aglomerou em torno dele. Para poder falar melhor ao povo, Jesus entrou
num barco, à beira do mar. Fez do barco o seu púlpito e começou a ensinar a
multidão. Um dos primeiros ensinos foi a parábola do semeador. Isto nos
leva à pergunta: Por que a palavra de Deus é rejeitada por muitos e em
alguns produz os frutos desejados?
Que tipo de solo a palavra de Deus encontra em nós?

Uma parte caiu no caminho
Uma parte caiu em solo rochoso,
Uma parte caiu entre espinhos
E uma parte caiu em terra fértil.

1 – Uma parte caiu no caminho
Jesus inicia a parábola dizendo: Eis que o semeador saiu a semear. E, ao
semear, uma parte caiu à beira do caminho, e, vindo as aves a comeram.
(v.3,4) O próprio Jesus explicou a parábola. A semente é a palavra de Deus.
(Lc 8.11) O semeador é o próprio Jesus. Ao pregar a palavra de Deus, ele
realiza a mesma ação que o semeador ao lançar a sua semente, só num sentido
espiritual. Ele espalha a semente, a palavra de Deus, no coração de seus
ouvintes.
E o que Jesus diz nesta parábola, ele o diz em primeiro lugar a seus
ouvintes. O que ele lhes diz? Ele lhes diz que a pregação não opera frutos
em muitos de seus ouvintes. O pregador faz a mesma experiência que um
semeador. Este lança boa semente, mas uma parte da semente cai no caminho,
cuja terra é dura, a semente não pode penetrar. E vêm os passarinhos e a
roubam. Assim é o pregador. Ele tem a boa e poderosa semente da palavra de
Deus que ele lança, claramente pregada. Mas como o semeador, ele não tem o
poder de fazer esta semente germinar, lançar raízes e frutificar. Este
poder está na semente. Assim o pregador lança a poderosa palavra de Deus,
mas não tem o poder de fazer esta palavra operar vida nova, a fé e produzir
o fruto das boas obras. Mesmo tendo a Palavra este poder, muitos corações a
rejeitam e não trazem os frutos desejados.
É importante notar que nesta parábola, Jesus não está falando de pessoas
que não tiveram a oportunidade de ouvir a palavra de Deus, mas de pessoas
que ouvem a palavra de Deus, que querem ser cristãos. Destes Jesus está
falando nesta parábola. A culpa de não terem chegado à fé, não é do
semeador, nem da semente, mas dos corações endurecidos.
Jesus menciona aqui dois fatores: Não a compreenderam e vem o maligno e a
arrebata. O compreender é um processo. A palavra, que é poder de Deus, (Hb
4.12) entra em seus ouvidos, mas eles não permitiram a esta palavra
penetrar no coração. Sua consciência, que sentiu o ferrão da palavra de
Deus, se fecha diante dela. Ou a razão a despreza como loucura, não
permitindo que a Palavra penetre. Seus corações são como chão batido e
duro. Eles não permitem que a semente penetre. Então vêm as aves e roubam a
semente. Estas aves são as forças pelas quais Satanás atua, para roubar a
semente e impedir que ela penetre e germine. Por isso Estevão diz a seus
inimigos: Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos,
vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais,
também vós o fazeis. (Atos 7.51 RA)
Na verdade, todos os corações humanos são por natureza como solo duro.
Confessamos na explicação do Terceiro Artigo do Credo Apostólico: "Creio
que por minha própria razão ou forço não posso crer em Jesus Cristo, nem
vir a ele." Mas a palavra de Deus é poder. O escritor aos Hebreus afirma: A
palavra de Deus, no entanto, é poderosa para penetrar e dividir medula.
Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer
espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir alma e espírito,
juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do
coração. (Hebreus 4.12 RA)
E nós, que solo somos nós? Damos lugar à palavra de Deus em nosso coração,
para que esta germine, nos conduza e mantenha em diário arrependimento e
fé, nos fortaleça para toda a boa obra? Importa que cada um se examine?
Há ainda uma outra classe de ouvintes.

II - Como que em rocha dura.
Outra parte caiu em solo rochoso onde a terra é pouca, e logo nasceu, visto
não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol a queimou; e porque não
tinha raiz, secou-se. (v.5,6) Todo o agricultor conhece tal solo. Entre as
pedras se a ajuntam folhas que apodrecem e formam uma terra muito boa e
retém boa umidade. A semente que cai ali germina logo, mas não pode
aprofundar suas raízes. Por isso, vindo o sol, a planta seca e morre. Jesus
explica: O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a
recebe logo, com alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de
pouca duração; em lhe chegando a angústia ou a perseguição por causa da
palavra, logo se escandaliza. (Mateus 13.20-21 RA) São pessoas, digamos,
sentimentais, que, quando ouvem a palavra, logo a aceitam. Jubilam. Crêem
por um tempo, mas depois caem da fé.
Jesus diz que eles não têm raízes. Não permitiram que a palavra lance
raízes. Foram levianos com a palavra de Deus. E vindo as tentações:
desprezo, perseguições, problemas, eles abandonam a fé. Caem da fé.
A história da Igreja cristã está cheia de tais exemplos. Nos primeiros anos
do cristianismo muitos que aceitaram a fé, judeus e gentios, jubilaram, mas
provindo as perseguições, caíram da fé. No tempo de Lutero, dois anos após
sua morte, quando o imperador Carlos V invadiu Wittenberg para derrotar o
luteranismo, muitos abandonaram a fé.
Quantos confirmandos abandonam cedo a fé cristã. Cada ano as estatísticas
das Comunidades e da Igreja registram abandonos. Seja isto um alerta para
todos nós. Aproveitemos o tempo para crescer no conhecimento e na fé, para
sermos firmados e estabelecidos.
Há ainda uma outra classe mencionada por Jesus.

III - Como que entre espinhos.
Outra caiu entre os espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram. Jesus
explica: O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém
os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica
infrutífera. (Mateus 13.7,22 RA) A boa semente caiu num coração e era a fé.
Mas a pessoa deixa que o inço, espinhos e outras ervas daninhas continuem
crescendo. São as preocupações pela vida, o amor ao dinheiro e aos prazeres
da vida. Ali a fé não pode se desenvolver. Ela é sufocada. Muitos querem
ser bons cristãos, mas não abrem mão do amor ao mundo. Eles se iludem com
uma falsa liberdade cristã, para continuarem vivendo em pecados. E não
permitem que a palavra de Deus os conduza a uma compreensão melhor da lei
de Deus, ao arrependimento, à fé e amor ao próximo.
Finalmente Jesus menciona a quarta classe:

IV - Em terra fértil.
Outra, enfim, caiu em boa terra e deu fruto: a cem, a sessenta e a trinta
por um...
Mas o que foi semeado em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende;
este frutifica e produz a cem, a sessenta e a trinta por um. (Mateus
13.8,23 RA)
O que é esta terra fértil. De primeira vista parece que o mérito é da
terra, que estes ouvintes são por natureza melhores. Mas sabemos que por
natureza somos todos igualmente corrompidos pelo pecado, espiritualmente
cegos, mortos e inimigos de Deus. Se não fosse lançada ali a boa semente,
nada produziriam.
Nestes ouvintes, para assim dizer, a lei fez o seu trabalho com
profundidade. Penetrou. Quebrou a resistência natural. Lavrou como um arado
que quebra a terra dura e arranca os espinhos, e o evangelho, a boa
semente, pôde penetrar, germinar, criar a vida, a fé, e levar a planta da
fé produzir os frutos.
Tais pessoas não ouviram somente com os ouvidos, mas também com o coração.
E, uma vez levados à fé, se apegam à palavra, vivendo diariamente em
arrependimento e fé, produzindo frutos dignos de arrependimento. Amando a
Deus e ao próximo. Ainda em fraqueza, mas crescendo em amor, paciência,
cordialidade e renúncia ao pecado e as tentações de nosso tempo.
Jesus termina esta sua parábola dizendo: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
(v.9) Com isto nos exorta: Provai-vos, examinai-vos se estais na fé. (2 Co
13.5) Que coração é o meu: duro como um caminho pisado? Como uma rocha que
não permite a semente lançar raízes, cheio de espinhos de amor ao mundo que
sufoca a fé? Ou estamos apegados à sua palavra, crescendo na fé, trazendo
os devidos frutos.

Oração: Abre, Senhor, os nossos ouvidos e nosso coração, para não sermos
somente ouvintes, mas praticantes da mesma, (Tg 1.22) para trazermos muitos
frutos. Amém.

São Leopoldo, 28/06/2008
Rev. Horst R. Kuchenbecker

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