BuscaPé, líder em comparação de preços na América Latina

quinta-feira, 3 de julho de 2008

Mt 13.1-9 e 18-23 - Comentários

O SEMEADOR SAIU A SEMEAR


Aqui temos um quadro (imagem) que qualquer pessoa da Palestina era
capaz de compreender. Aqui vemos Jesus empregando o momento (aqui e agora)
para chegar ao além e porvir. É bem provável que Jesus tenha empregado a
canoa como púlpito e que em algum dos campos vizinhos havia um semeador
semeando e neste mesmo momento Jesus tomou como texto a este semeador, que
todos podiam ver, e começou: "Olhem aquele semeador que está semeando suas
sementes no campo!" Jesus partiu de algo que podiam ver naquele momento
para abrir suas mentes a uma verdade que ainda não haviam percebido.
Na Palestina havia duas maneiras de semear. Podia-se se semear
lançando as sementes em volta, enquanto o semeador ia caminhando de uma
extremidade a outra do lavrado. É claro que se no momento havia vento,
parte da semente voaria a toda classe de terrenos e às vezes cairia fora do
campo preparado pelo semeador. O segundo método era mais cômodo, mas
raramente usado. Neste, uma bolsa de sementes era colocada sobre um burro
(mula), numa ponta de baixo era feito um pequeno furo na bolsa e logo se
fazia o burro caminhar de uma extremidade a outra do terreno enquanto caiam
as sementes. Neste caso parte das sementes caia enquanto o animal cruzada o
trilho (caminho) e deste modo não chegavam ao campo.
Na Palestina os campos eram divididos em faixas uma larga e estreita.
A terra entre uma faixa e outra podia ser usada para transitar livremente.
Era usada como caminho e por isso estava dura como cimento pelo constante
uso que lhe davam os transeuntes. A isto Jesus referiu-se quando mencionou
o caminho. Se alguma semente caia ali, e sem dúvida caiam, não importando o
método usado para semear, pois a semente não tinha oportunidade de penetrar
na terra se havia caído sobre a estrada.
O "terreno pedregoso" não eram terrenos que estavam cobertos de
pedras. Tratava-Se de algo que é muito comum na Palestina, uma fina capa de
terra sobre uma base de rocha calcária. Só havia pouca terra antes de
chegar à rocha. Sem dúvida, a semente germinaria nesta terra; e o faria com
rapidez, porque este terreno aquecia-se rapidamente com o sol. Mas a terra
não era profunda e quando enviara suas raízes para baixo em busca de
alimento e umidade, não encontraria mais do que rocha e morreria de fome,
uma vez que seria incapaz de tolerar o calor do sol.
O solo espinhoso era enganoso. Quando o semeador espalhava a semente,
o solo parecia estar bem limpo. É fácil fazer que um jardim pareça limpo,
tombando a terra; mas quando as sementes de inço e ervas e tudo o que não
devia nascer ali, se preparam para sair. Todos os jardineiros sabem que as
ervas daninhas crescem a um ritmo e com um vigor que poucas plantas
conseguem igualar. A questão é que as sementes que estavam ali em estado
dormente e as sementes lançadas pelo semeador crescem juntas. Mas as ervas
eram tão fortes que afogaram a vida das sementes e morrera, enquanto
aquelas floresceram.
A terra boa era profunda, limpa e sulcada. A semente podia penetrar,
podia encontrar alimento, podia crescer sem obstáculos e a boa terra
produziu abundantemente.

A PALAVRA E AQUELE QUE A ESCUTA
NA realidade, esta parábola tem um impacto dobrado; dirige-se dois
grupos de pessoas.
Se dirige a quem escuta a palavra. Com freqüência os estudiosos
sustentam que a interpretação da parábola que aparece nos versículos 18-23
não pertence a Jesus, e sim aos pregadores da Igreja primitiva. Afirmam,
além disso, que não é uma interpretação correta. Diz-se que transgride a
lei segundo qual uma parábola não é uma alegoria, e que é demasiado
detalhada para que os ouvintes a compreendê-la ao escutá-la pela primeira
vez. Se Jesus apontou para um semeador que estava esparramando suas
sementes naquele momento, a objeção não parece válida. E, de todos os
modos, a interpretação que identifica os diferentes tipos de solo com os
distintos ouvintes sempre tem ocupado um lugar de preferência dentro da
Igreja, e deve proceder de uma fonte autorizada, e se é assim, por que na
do próprio Jesus?
Se tomamos esta parábola como uma advertência aos ouvintes, significa
que há diferentes maneiras de aceitar a palavra de Deus, e o fruto depende
do coração daquele que a aceita. O destino de qualquer palavra falada
depende do ouvinte. Alguém disse: "A sorte de uma piada não depende da
língua de quem a conta, e sim do ouvido de quem a escuta." Uma piada tem
êxito quando é contada a alguém que tem sentido de humor e que está
disposto a rir. Fracassará quando quem escuta não está bem humorado ou se
está pré-disposta a não se divertir. Quem então são os ouvintes que recebem
uma advertência nesta parábola?
Está o ouvinte de mente fechada. Estão aqueles em cuja mente a
palavra tem tão poucas possibilidades de penetrar como a semente que cai
sobre um terreno pisoteado por muita gente. São muitas as coisas que podem
fechar a mente de uma pessoa. O preconceito pode fazer que um homem se
cegue diante de tudo o que não quer ver. Num espírito que não pode ser
ensinado, não é possível construir uma barreira para que não engula
doutrina qualquer. Pode vir de duas coisas. Pode ser o resultado do orgulho
que não sabe que necessita conhecimento. E pode ser o resultado de temor à
novas verdades ou negar-se a novas maneiras de pensar. As vezes um caráter
imoral e a forma de vida de um homem podem fechar sua mente. Pode tratar-se
de uma verdade que condena aquilo que ele ama sua forma de vida e as coisas
que faz. E há mais um que se nega a escutar ou reconhecer a verdade que o
condena, porque não há melhor surdo do que aquele que não quer ouvir.
Está o ouvinte cuja mente é semelhante ao solo rochoso. É o homem que
se nega a pensar as coisas e a refletir sobre elas a fundo. Há gente que
está a mercê de todas as modas. Adota rapidamente algo e com a mesma
rapidez o abandona. Sempre devem estar no último grito. Começam com
entusiasmo um novo passatempo, ou a adquirir uma nova habilidade. Assim que
as coisas se tornam difíceis as abandonam, ou o entusiasmo decresce e o
deixam de lado. A vida de algumas pessoas está abarrotada de coisas que
iniciaram e jamais terminaram. Alguém pode ser assim com a Palavra. Quando
à escuta podemos sentir que treme até os pés de emoção; mas ninguém pode
viver de uma emoção. O homem tem uma mente e é uma obrigação moral possuir
uma fé inteligente. O cristão tem suas exigências e há que enfrentar-se com
elas antes de poder aceitá-las. A oferta de Cristo não é apenas um
privilegio, também é uma responsabilidade. Um entusiasmo repentino sempre
pode converter-se com a mesma rapidez em um fogo moribundo.
Está o ouvinte que tem tantos interesses na vida que algumas coisas,
e em geral as mais importantes, são afogadas. O que caracteriza a vida
moderna é que cada vez está mais cheia de coisas (atividades) e cada vez
está mais acelerada. O homem está ocupado demais para orar. Preocupa-Se com
tantas coisas que se esquece de estudar a palavra de Deus. Amarram-Se tanto
a comissões de caridade, obras beneficentes e trabalhos de caridade que não
lhes sobra quase tempo para dedicar a Aquele de quem procede todo amor e
todo serviço. O trabalho deles os absorve de tal maneira que se sentem
demais cansados para pensar em qualquer outra coisa. As coisas perigosas
não são aquelas que evidentemente são más. São as coisas boas, porque "o
bem é o pior inimigo do melhor." Não se trata de que o homem faça
desaparecer de sua vida a oração , a Bíblia e a igreja, e sim que pense
nelas com freqüência e desejaria poder dedicar –lhes algum momento, mas, de
alguma maneira, nunca chega a fazê-lo porque sua vida está muito ocupada.
Sempre devemos ter cuidado de não fazer desaparecer Jesus do lugar mais
alto na vida.
Está o homem que é como a terra boa. Em sua recepção da Palavra
dão-se quatro estágios. Como a boa terra, sua mente está aberta. Sempre
está desejando aprender. Está disposto a escutar. Nunca é tão orgulhoso nem
está ocupado demais para escutar. Muitos já teriam se poupado de dissabores
se tivessem parado para escutar a voz de um amigo prudente, ou a voz de
Deus. Compreende. Há pensado todo o assunto e sabe o que significa para
ele, e está disposto a aceitar. Traduz em ações o que escuta. Produz o bom
fruto da boa semente. Ouvinte autêntico é aquele que escuta que compreende
e que obedece.

NÃO DESESPERAR
Ao iniciar nosso estudo desta parábola dissemos que teria um duplo
impacto. Analisamos o efeito que devia ter sobre aqueles que escutam a
palavra. Mas também devia exercer impacto sobre aqueles que pregam a
palavra. Não só devia dizer algo às multidões que escutam, também devia
dizer algo ao círculo íntimo dos discípulos.
Não é difícil perceber que, alguns momentos, os discípulos deviam
experimentar certa desilusão no espírito. Para eles Jesus era tudo; o mais
sábio e mais maravilhoso de todos os homens. Mas, do ponto de vista humano,
não tinha muito êxito. As portas das sinagogas estavam se fechando para
ele. Os lideres da religião ortodoxa eram seus mais ferrenhos críticos e
havia a menor dúvida de que projetavam sua ruína. Era certo que as
multidões saiam a escutá-lo, mas eram tão poucos os que realmente mudavam,
e eram tantos os que se aproximavam dele com um único propósito; receber
alguma vantagem de seu poder de cura e que, uma vez que o haviam recebido,
se afastavam e o esqueciam. Havia tantos que se aproximavam de Jesus
somente pelo que podiam extrair dele. Os discípulos encontravam-se diante
de uma situação na qual Jesus parecia limitar-se a provocar hostilidade
entre os lideres religioso e nada mais que uma efêmera resposta da
multidão. Não devemos nos surpreender que em certos momentos os discípulos
sentissem certa frustração e desalento. O que então é que a parábola diz
ao pregador que se sente desanimado?
A lição da parábola para os desalentados é muito clara – o
ensinamento é que a colheita é segura. Para eles a lição está no momento
culminante da parábola, na imagem da palavra que produz frutos abundantes.
Parte da semente pode cair em caminho e ser comida por pássaros. Parte dela
pode cair em solo rochoso pouco profundo e nunca chegar a madurar. Uma
porção da semente pode cair entre espinhos e morrer sufocada. Mas apesar de
tudo isso a colheita é segura. Nenhum agricultor pretende jamais que cada
uma das sementes que semeou germine e dê fruto. Sabe perfeitamente bem que
algumas o vento levará e outras cairão em terreno onde não podem crescer.
Mas isso não lhe impede semear, nem lhe faz abandonar toda esperança de
colher. O agricultor semeia com a esperança de que, ainda que parte da
semente se perca, chegará a colheita.
De maneira que esta parábola estimula aqueles que semeiam a semente
da Palavra.
Quando alguém semeia a semente da Palavra não sabe o que faz e que
efeito tem a semente. H. L. Gee relata uma história em um de seus livros.
Em uma igreja entre os que assistiam havia um ancião solitário, o idoso
Tomás. Tomás havia vivido mais que todos seus amigos e quase ninguém o
conhecia. Tomás morreu H. L. Gee tinha o pressentimento de que ninguém iria
a seu funeral e decidiu assistir para que pelo menos uma pessoa o
acompanhasse até sua última morada. Não havia ninguém. Era um dia
desagradável e úmido. Chegaram ao cemitério. Isto aconteceu durante guerra
e na porta do cemitério havia um soldado esperando. Era um oficial, mas não
tinha nenhuma insígnia sobre a capa impermeável. O soldado aproximou-se da
tumba para assistir a cerimônia. Quando havia terminado deu um passo à
frente, deteve-se diante da tumba e fez uma saudação digna de um rei. H. L.
Gee afastou-se do local junto com o soldado. Enquanto caminhavam, o vento
fez que se lhe abrisse a capa de chuva e Gee pode ver suas insígnias. Era
nada menos que um general-de-brigada. O soldado disse a Gee: "Talvez você
se pergunte que eu faço aqui. Faz muitos anos Tomás foi meu mestre na
escola dominical. Eu era um menino muito travesso e o torturava. Nunca
soube o que fez por mim, mas ao velho Tomás, devo tudo o que sou e o que
talvez chegue a ser, e hoje tinha que vir e saudá-lo." Tomás não sabia o
que fazia. Nenhum mestre ou pregador jamais o sabe. Nossa tarefa é semear a
semente e, sem desalentar-nos, deixar o resto nas mãos de Deus.
Quando alguém semeia a semente não pode e não deve esperar resultados
imediatos. Na natureza o crescimento nunca tem pressa. Passa muito, muito
tempo antes que uma glande se transforme em um carvalho; e pode passar
muito, muito tempo antes que a semente germine no coração de um homem. Mas
uma pequena palavra que caiu no coração de um homem quando era menino
permanece dormente até que um dia desperta e o libera de uma grande
tentação e salva sua alma da morte. Vivemos em uma época que esperamos
resultados imediatos, mas ao semear a semente devemos fazê-lo com paciência
e esperança, e as vezes devemos esperar a colheita durante anos.

Rev. Cildo Miro Schmidt

Nenhum comentário: