Queridos irmãos e irmãs no Salvador Jesus.
"Certo homem saiu para semear". No tempo de Jesus não havia semeadoras
mecânicas como hoje, que plantam econômica e eficientemente as sementes no
solo com pouca chance de serem levadas pelo vento ou espalhadas em outros
lugares. Hoje a semente vai exatamente onde o agricultor quer plantá-la.
Semear naquele tempo era andar pela lavoura, de ponta a ponta, jogando
sementes sempre no mesmo ritmo e jeito. Algumas sementes seriam levadas
pelo vento, e como as sementes eram levadas nas mãos, algumas simplesmente
cairiam em lugares que não eram a boa terra recém preparada pelo
agricultor. O jeito do agricultor semear suas sementes na parábola que
Jesus conta leva a um grande desperdício. Algumas sementes caem ao longo do
caminho, algumas sobre o solo cheio de pedras e algumas entre os espinhos.
Que desperdício!
Hoje em dia nós estamos cada vez mais conscientes da necessidade de
economizar e reciclar. Somos incentivados a separar lixo seco e molhado,
garrafas, vidro, latas e papel para serem reciclados. Somos lembrados a não
desperdiçar os recursos não renováveis como água, energia elétrica,
combustível e etc. Nossa sociedade brasileira está sendo ensinada a
preservar, economizar e reciclar o máximo possível. Quem tem filhos, por
exemplo, tem que se acostumar estar sempre apagando luzes, fechando
torneiras e controlando o uso da TV para economizar energia.
Quando olhamos para a Bíblia, vemos vários exemplos que nos parecem
desperdícios. A mulher que derramou um perfume caríssimo sobre a cabeça de
Jesus, que os próprios discípulos acharam um desperdício e preferiam que
fosse vendido e dado o dinheiro aos pobres; o samaritano que gastou seu
tempo e dinheiro, e arriscou sua vida para ajudar o homem caído na estrada;
o pastor que arriscou o bem-estar de 99 ovelhas para buscar uma que se
perdeu, até encontrá-la.
Podemos imaginar quantas pessoas realmente viram e ouviram Jesus
pregando e contando parábolas como essa do semeador, e ainda quantas dessas
creram nele e o seguiram. Podemos dizer que uma boa parte das palavras e
esforços de Jesus foram "desperdiçados", à toa. Muito do que ele disse caiu
em ouvidos mortos, surdos. Muitos dos seus milagres foram oferecidos a
corações incrédulos. E apesar de todo o seu amor, suas palavras e seus
atos, a grande maioria pediu sua morte, gritando: "crucifiquem-no!" E o que
poderia ser maior desperdício que a morte de homem gentil, caridoso,
amoroso e, acima de tudo, inocente como Jesus? Ele entregou sua vida por
gente como essa! Que desperdício!
E aí temos essa parábola de Jesus hoje. Muito se pode dizer do
desperdício que há nela – algumas sementes caíram no caminho onde os
pássaros as comeram; algumas caíram sobre as rochas, onde germinaram mas
por causa das raízes fracas logo morreram queimadas pelo calor do sol;
algumas caíram entre espinhos, onde as plantinhas foram sufocadas. Que
desperdício de boa semente!
Jesus era muito realista. Ele sabia que haveria muito desperdício
quando viesse o evangelho e a vida cristã. Das milhares de palavras que são
lidas e faladas em um culto, quantas são ouvidas, levadas em consideração e
aplicadas à nossa relação com Cristo e à nossa vida na igreja? Nós estamos
distraídos, nossas mentes estão presas a tantos problemas e preocupações. O
que Deus tem a nos dizer é tão grande e nossa mente é tão pequena! Alguém
tem idéia de quantas palavras são desperdiçadas e ditas à toa aqui em
nossos cultos e estudos bíblicos? Deus fala, mas nós não ouvimos. Que
desperdício!
Mas este não é o final da história. A palavra do semeador não fala só
de desperdício, de sementes improdutivas, mas também de uma maravilhosa
colheita. Jesus tira a sua história exatamente do dia a dia de um
agricultor da Palestina de dois mil anos atrás. Sem exageros, aqui existe
um milagre. O agricultor semeia e uma grande parte das sementes é perdida,
mas algumas das sementes caem em terra boa e, fantástico, criam raiz,
crescem e produzem colheitas de 30, 60 e 100 por um!
O que aconteceria se o agricultor decidisse não semear por saber que
muitas das suas sementes seriam desperdiçadas? E se ele decidisse não
plantar por imaginar que haveria uma tormenta, granizo ou uma forte geada
naquele ano? O agricultor é um arrisca-tudo. Mas, ele tem expectativas
razoáveis de que a natureza está do seu lado. O semeador trabalha de acordo
com a sua esperança de fazer uma boa colheita. Ele não faz as sementes
germinarem, não é responsável pela sua fotossíntese, não carrega as espigas
de grãos. Mas ele semeia com a expectativa de que vai haver uma colheita,
uma compensadora colheita.
A parábola termina em alegria, na celebração de uma grande colheita. Há
desperdício sim, há esforço e sementes desperdiçadas, há decepção. A
semeadura não foi eficiente, mas a história termina com um grande sucesso e
uma memorável colheita.
Muitas vezes o desperdício nos dá uma desculpa para não fazer nada. Por
que entregar folhetos bíblicos às pessoas, se vai haver um grande
desperdício? Por que dedicar tempo, leitura, pesquisa, meditação e esforço
para escrever um sermão quando somente uma pequena parte dele será
realmente ouvida e guardada no coração, ou quando somente 30 ou 40% dos
membros da igreja vão vir ao culto para ouvi-lo? Para que ajudar aqueles
que vêm à igreja pedindo comida ou roupa, se isso não traz nenhum resultado
para nós? Por que continuar tentando falar de Jesus para meus parentes e
amigos, quando isso parece um desperdício de tempo e esforço, que não leva
a nada?
O desperdício em tudo isso, os poucos resultados podem nos dar uma boa
razão para ficar de braços cruzados. Mas Jesus não nos deixa neste ponto.
Ele promete uma colheita. Nosso trabalho, a sua Palavra e o testemunho da
igreja não são em vão. Há desperdício, há falhas, mas há também a promessa
de uma grande colheita. Tudo o que Deus nos pede é que nós continuemos a
pregar a Palavra de Deus sempre e em toda parte onde ela possa criar raízes
nos corações e vidas das pessoas.
Seguir a Cristo e semear a semente da sua Palavra é como plantar um
jardim. Nós colocamos as sementes no solo com a convicção de que há uma
força para crescer dentro delas que nós mesmos não podemos criar de modo
algum. Nós podemos plantá-las muito fundo ou muito raso. A falta de chuva
pode fazer o chão ficar duro, as pedras podem impedir algumas sementes de
criar raízes, as ervas daninhas podem sufocar algumas, mas um dia um
pequeno raminho verde rompe a terra escura e aparece, e nosso coração pula
de alegria!
Cristo chama cada um de nós como seus discípulos para simplesmente
semear as sementes, e fazer isso com amor e satisfação pela graça que temos
recebido dele. Ele nos chama como seus discípulos para pregar a Palavra que
fala do amor de Deus, para servir nosso próximo em necessidade, para
trabalhar com paciência, para fazer nosso melhor para ajudar os
necessitados, para fazer o que nós pudermos com as habilidades e dons que
nos foram dadas. E quando tivermos feito nossa parte, ele promete que nosso
trabalho nunca será em vão. Haverá resultados!
Algumas sementes cairão em boa terra e produzirão frutos. Nós não temos
que nos preocupar com o tamanho da colheita, ou quanto ela vai demorar para
crescer, ou mesmo se nós vamos viver para vê-la. Podemos deixar os
resultados para Deus.
Existe, é verdade, muito desperdício, frustração e falhas no reino de
Deus. É verdade que nós ficamos desanimados porque não vemos os resultados
da Palavra de Deus na obra imediatamente nas vidas das pessoas. Temos que
admitir que não nos firmamos mais em Deus e no seu amor semeando as suas
sementes e deixando os resultados com ele. Mas pela persistente graça de
Deus há uma colheita. Nós agradecemos a Deus que a sua Palavra nos declara
a alegre notícia do perdão em Jesus Cristo para nossas falhas em ser
semeadores da Palavra de Deus, para o monte de desculpas que damos por não
cumprirmos nosso chamado de discípulos.
Que Deus possa nos dar a sabedoria para responder ao chamado de Jesus
para ser semeadores fiéis e dividir com outros a Palavra de Deus que diz
que tanto nós como eles podem estar lá no dia em que Jesus fizer a sua
colheita para a vida eterna. Amém.
Rev. Lendro Daniel Hübner, 13.07.2002, adaptada
quinta-feira, 3 de julho de 2008
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