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sexta-feira, 3 de julho de 2009

A ELEIÇÃO DA GRAÇA OU DOUTRINA DA PREDESTINAÇÃO

I – A DOUTRINA DA ELEIÇÃO DA GRAÇA OU DA PREDESTINAÇÃO 

Examinando a Escritura, ficamos admirados ao notar com que freqüência aparece em suas páginas a doutrina da eleição da graça. Jesus e Seus apóstolos usaram esta doutrina seguidamente para fortalecer os fracos na fé, bem como para admoestar os levianos. Além de outras citações, podemos conferir ainda estas passagens: Mt 22:14; Mt 24:22; Lc 18:7; Jo 15:16,19; Rm 8 e 9; 1 Co 1:27,28; 1 Ts 1:4; Cl 3:12; 1 Pe 2:9; 1 Pe 1:1; Tg 2:5.

Vamos examinar esta doutrina baseando-nos especialmente na carta do apóstolo Paulo aos efésios: Ef 1:3-6, que responde com muita clareza as cinco principais perguntas sobre esta doutrina. 

1. Quais as pessoas que Deus escolheu?

Nosso texto responde: "Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênçãos espirituais nas regiões celestiais em Cristo, assim como nos escolheu" (v. 3).

Que são os "nós" a quem o apóstolo se refere? São o apóstolo e os "santos que vivem em Éfeso" (v. 1), a saber, os que crêem em Cristo como seu Salvador. Paulo chega a esta conclusão, porque vê que o "bendito Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, nos tem abençoado com toda a sorte de bênçãos espirituais em Cristo (v. 3)." Eu vejo, diz o apóstolo, que vocês tem sido abençoado com toda a sorte de bênçãos espirituais, portanto  pertenceis aos eleitos de Deus. Não sois simplesmente, com todas as pessoas do mundo, salvos por Cristo, mas fostes chamados pela palavra do evangelho, fostes iluminados com os dons do Espírito Santo, chegastes à fé e pela fé fostes justificados e santificados. Isto é prova evidente de que Deus vos escolheu. Assim também escreveu aos romanos:"Sabemos que todas as cousas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também predestinou para serem conforme a imagem do seu Filho, e afim de que seja o primogênito entre muitos irmãos" (Rm 8:28,29). Com isto o apóstolo Paulo diz aos cristãos de Roma: Amados irmãos, vós na  verdade passais por aflições, mas por isso não deveis duvidar de que Deus vos elegeu. Não fostes chamados pelo evangelho? Não fostes por ele levados à fé e pela fé justificados diante de Deus? Não sofreis também perseguições por causa do evangelho? Eis as características das pessoas que são eleitas por Deus.

Vede, a doutrina da eleição da graça não é uma doutrina que amedronta, que provoca dúvidas; pelo contrário, é uma doutrina mui consoladora, que certifica os cristãos de sua salvação. A doutrina da eleição da graça não paira sobre os cristãos como uma nuvem tempestuosa, fazendo-os exclamar amedrontados: Será que eu sou um eleito? Não! Imediatamente depois de uma pessoa ser chamada pelo evangelho à fé em Cristo, a doutrina da eleição da graça se levanta sobre esta pessoa como um sol radiante, dando-lhe certeza da graça, consolando-a na esperança da vida eterna.

Quem são, portanto, os eleitos de Deus? São todos os verdadeiros cristãos. Bem confessamos em nossas Confissões: "Todavia, a eterna eleição de Deus vel praedestinatio, isto é, a divina preordenação para a salvação, não se estende aos piedosos e aos maus, senão apenas aos filhos de Deus, que foram eleitos e ordenados para a vida eterna "antes da fundação do mundo", como diz Paulo:"Ele nos escolheu em Cristo Jesus e nos ordenou para a adoção de filhos" (Ef 1:3,4). (FC, DS XI.5). 

2. Quando Deus elegeu estas pessoas?

Nosso texto responde: "Nos escolheu nele antes da fundação do mundo" (v. 4). A eleição da graça não aconteceu no tempo presente. Deus não esperou até que as pessoas tivessem nascido, se convertido e permanecido fiéis até ao fim. Não! Ele as escolheu muito antes de terem nascido, muito antes de terem feito algo de bom, muito antes de terem sido criado o sol, a lua e as estrelas, muito antes de ter fundado o mundo. Ele as escolheu, quando existia somente o infinito amor de Deus. Ele nos escolheu desde a eternidade.

Os homens fazem no presente muitas coisas nas quais nunca tinham pensado antes; mas o Onisciente Deus, que governa tudo não somente sabia em onisciência tudo o que faria, como também o havia resolvido fazer assim já desde a eternidade. Por isso o apóstolo Paulo afirma em sua carta a Timóteo que a graça de Deus foi dada aos eleitos "antes da fundação do mundo" (2 Tm 1:9). Jesus também dirá aos eleitos no dia do juízo final: "Vinde benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo" (Mt 25:34).  Firmados nesta palavra nossos pais confessaram: "Pois não só nos elegeu ele em Cristo antes de havermos praticado qualquer ato bom, senão mesmo antes de nascermos (Rm 9:11), na verdade, "antes da fundação do mundo" (Ef 1:4). (FC, DS, XI.88).

Que amor imenso, profundo e incompreensível teve Deus ao pensar e resolver sobre os cristãos, sobre ti e mim, já na eternidade, antes de termos nascido, antes de o mundo Ter sido criado. Quem seria capaz de medir o cumprimento e a largura, a profundidade e a altura deste amor divino (Ef 3:18,19)? Diante deste amor só podemos exclamar com o poeta sacro: "De Deus a infinda piedade/ excede a nossa compreensão;/ os braços são da caridade/ de quem acolhe e dá perdão,/ e sempre sente mágoa e dor/ ao se afastar o pecador." (HL 366.2). 

3. Para que Deus nos escolheu?

O Espírito Santo responde em nosso texto: "Para sermos santos e irrepreensíveis perante ele; e, em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos" (Ef 1:4,5).

Conforme estas palavras, são duas as razões porque Deus escolheu os eleitos: Em primeiro lugar, para que se convertam de todo o coração ao Senhor, e, por outro, para que sejam seus filhos amados. Porque ser escolhido para ser santo e irrepreensível diante de Deus, é ser escolhido para se converter de coração a Deus. Só uma pessoa que se converteu ao Senhor, que como pecador arrependido crê em Cristo, recebe o completo perdão de Deus e é santo e irrepreensível diante de Deus, porque está vestido com o manto branco da justiça de Cristo. E quando é afirmado que "em amor nos predestinou para ele, para a adoção de filhos" (Ef 1:4,5), isto significa que Deus nos escolheu para que, pela fé em Cristo, sejamos seus filhos amados. Um filho amado de Deus é somente aquele que crê em Cristo como seu Salvador. Assim o apóstolo Paulo escreve aos Gálatas: "Todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus" (Gl 3:26). O apóstolo João escreveu no seu evangelho: "A todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus; a saber: aos que crêem em seu nome" (Jo 1:12). Isto é maravilhoso. Ser escolhido por Deus já desde a eternidade para arrependimento, conversão e santificação, bem como para a adoção de filhos pela fé. Porque o fato de alguém crer é sinal de que ele é predestinado para a vida eterna, conforme a palavra de Jesus: "Quem crer e for batizado será salvo" (Mc 16:16). Assim também o apóstolo Paulo o afirma aos tessalonicenses: "Devemos sempre dar graças a Deus, por vós, irmãos amados pelo Senhor, por isso que Deus nos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito Santo e fé na verdade" (2 Ts 2:13). E as Confissões afirmam: "A eterna eleição de Deus, porém, não só vê e sabe antecedentemente a salvação dos eleitos, mas, por graciosa vontade e beneplácito de Deus em Cristo Jesus, também é a causa que cria, opera, ajuda e promove a nossa salvação e tudo o que a ela pertence. E nossa salvação está fundamentada nisso de maneira tal, que "as portas do inferno" (Mt 16:18) nada podem contra ela, como está escrito: "Ninguém me arrebatará da mão as minhas ovelhas" (Jo 10:28). Também: "E creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna" (At 13:48). (FC, DS, XI.8).

Quão segura e firme é nossa salvação a nós que cremos e somos eleitos. Podemos jubilar com o poeta sacro: "E mesmo que o demônio/ quisesse relutar,/ jamais seria idôneo/ e nem capaz de obstar/ qualquer real vontade/ do Pai celestial./ Fiel é na bondade/ e livra-nos do mal." (HL antigo: 306.5). 

4. O que moveu Deus para nos escolher e predestinar?

Nosso texto responde com clareza: "Nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade para louvor da glória de sua graça, que ele os concedeu gratuitamente no Amado" (Ef 1:5,6).

Estas palavras destacam dois motivos: 1) Primeiro motivo é o "beneplácito de sua vontade", isto é, sua maravilhosa graça que nos torna "aceitáveis" diante de Deus. 2) O segundo motivo é Jesus Cristo, a saber seu precioso mérito pelo qual conquistou a eterna salvação para todos os homens pelo seu cumprir a lei, padecer, sofrer e morrer.

É importante notar que Deus não nos escolheu porque previsse em sua onisciência algo de bom em nós, ou porque previsse que aceitaríamos sua palavra, que abandonaríamos o mundo e viéssemos a crer em Cristo, por presciência ou onisciência. Não, pelo contrário. O que ele viu em nós foram nossos pecados, nossa incredulidade e obstinação, mesmo assim nos "escolheu gratuitamente no Amado".Movido por seu infinito amor declarou: "Vós vivereis" (Jo 15:16). Ele nos deu fé, conforme confessamos no Credo Apostólico, Terceiro Artigo: "Creio que por minha própria razão e força não posso crer em Jesus Cristo, meu Senhor, nem vir a ele; mas o Espírito Santo me chamou pelo evangelho, me iluminou com seus dons, me santificou e me conservou na fé verdadeira." Deus resolveu operar, já desde a eternidade, a fé nos eleitos e conservá-los nesta fé até ao fim.

Por isso nossa igreja confessa: "Mas a palavra de Deus nos conduz a Cristo, que é o 'Livro da Vida' (Fp 4:3; Ap 3:5; Ap 20:15), no qual estão inscritos e eleitos, todos os que devem ser eternamente salvos, conforme está escrito: 'Nele (em Cristo) nos escolheu antes da fundação do mundo' (Ef 1:4). (FC, Epítome XI.7)". É falso e injusto ensinar que as causas da eleição não são somente a misericórdia de Deus e o santo merecimento de Cristo, mas que também há uma razão em nós, pelo qual Deus nos elegeu. Porque Deus nos elegeu não somente antes de termos realizado alguma cousa de bom, mas antes de termos nascido.

Nossa própria experiência confirma esta doutrina. Quem nos deu a fé? Nós mesmos ou o Espírito Santo por sua graça e força? Que fizemos de bom para chegarmos à fé? Alguém dirá: Eu fui à igreja. Mas não foi o Espírito Santo que te impeliu ir à igreja? Outro talvez dirá: Eu não resisti obstinadamente à pregação! Será que podemos atribuir à nossa natureza, julgando ser ela melhor do que a natureza dos outros? Ou devemos agradecer isto à misericórdia de Deus que venceu nossa resistência , abrindo-nos o coração, como abriu o coração à Lídia (At 16:14), para atender à palavra de Deus? Não! Não escolhemos a Deus, ele nos escolheu. Não somos melhores do que os outros, Deus quebrou nosso coração obstinado. Não nos esforçamos para sermos melhores, ele nos deu um coração novo.

Ai daquele que atribui sua eleição a si mesmo. Este furta a honra que cabe unicamente a Deus. 

5. Como devemos usar a doutrina da eleição da graça?

Nosso texto não nos dá uma resposta explícita, mas, da maneira como o apóstolo aplica esta doutrina, podemos concluir como cada cristão deve usar a doutrina da eleição da graça.

Em primeiro lugar o apóstolo usa a doutrina para consolo, em segundo lugar como admoestação.

As palavras: "Como nos escolheu", têm a finalidade de certificar os cristãos de Éfeso de que eles pertencem aos eleitos. Logo, a doutrina serve para consolo. O apóstolo não menciona esta doutrina para que os efésios tentem, pela razão, pelo uso da lei ou julgando aparências, descobrir os mistérios que moveram Deus a escolhê-los. Não! A doutrina serve para consolo. Por isso o apóstolo aponta para"toda a sorte de bênçãos espirituais" (v. 3), com os quais Deus os tem abençoado e pelas quais lhes revelou sua vontade. Disto ele os certifica para consolo.

Todo o cristão que medita nesta doutrina conclui: Deus já me abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais: Ele me chamou pelo evangelho, me iluminou com seus dons, me conservou na fé até aqui, logo, ele me escolheu, pertenço aos eleitos. Cristo me ama, me inscreveu no livro da vida. Podem, portanto, jubilar consolados com o apóstolo Paulo e dizer: "Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? É Cristo Jesus que morreu, ou antes, quem ressuscitou, o qual está à direita de Deus e também intercede por nós...Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem anjos, nem principados, nem coisas do presente, nem do porvir, nem poderes, nem altura, nem profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus que está em Cristo Jesus nosso Senhor" (Rm 8:33-39).

Quão bem-aventurados são os cristãos que podem usar assim a doutrina da eleição da graça e buscam nela consolo, especialmente nas tentações da carne, do mundo e do diabo.

O apóstolo ainda mostra aos efésios que foram eleitos "para serem santos e irrepreensíveis perante ele" (Ef 1:4). A doutrina da eleição da graça, portanto, admoesta os eleitos a procurarem com toda a sinceridade a santificação. Nestes termos admoesta também o apóstolo Pedro: "Procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição" (2 Pe 1:10).

Estas admoestações são feitas, porque existe o perigo de alguém usar esta doutrina para uma falsa segurança. Se alguém, fazendo uso dos meios da graça e vivendo em toda a sorte de pecados, pensar consigo: Se sou eleito, serei salvo de qualquer maneira. Quão  diabólica e contrária a todo o amor de Deus é este pensamento. Por isso a doutrina da eleição da graça é proveitosa como admoestação. Consideras-te um eleito, então não esqueças de que foste chamado não só para a adoção de filho, mas também para progredir no caminho da santificação. Considera de que nada poderias nem podes fazer para a tua salvação, mas que o teu persistir no pecado pode ser sinal de não seres um eleito.

Deus deseja ardentemente que todos os homens sejam salvos. Não predestinou ninguém para a eterna condenação. Os calvinistas ensinam, contrariando a Escritura, de que Deus não amou nem ama todos. Ele predestinou uma parte para o céu e outra para o inferno. A Escritura afirma claramente que Deus amou e ama a todos. Todos foram salvos por Cristo. O evangelho deve ser pregado a todos. Deus quer dar sinceramente, pelo evangelho, a fé a todos que lhe resistem obstinadamente. E a todos os que por Sua graça chegaram à fé, Deus quer dar por Sua graça o dom da perseverança até ao fim.

Quem por isso perde, perde-se por sua própria culpa. Não se perde por Deus não o ter eleito, mas devido a sua obstinada resistência e incredulidade. Por isso Deus afirma pelo profeta: "A tua ruína, ó Israel, vem de ti, e só de mim o teu socorro" (Os 13:9).

Eis o que a Escritura diz sobre esta doutrina da eleição da graça. Doutrina tão consoladora para o cristão. Fonte de grande consolo, ânimo e força, que enaltece o amor de Deus para com nós pecadores, que nos faz depor toda a ansiedade e preocupações. Que nos faz jubilar no amor de Deus, mesmo se aqui na terra, tenhamos que passar por muitas tribulações. Amém. (Baseado no sermão do Rev. Dr. Carl Ferdinand Wilhelm Walther, para o 1o Domingo após Trindade. Epistel Postille, Lutherischer Concordia Verlag, St. Louis, 1882). 

II – PRINCIPAIS PERGUNTAS SOBRE A ELEIÇÃO

 Por volta dos anos 1850, irrompeu entre os luteranos nos Estados Unidos uma forte discussão sobre a eleição da graça. A luta durou mais de 40 anos e resultou na divisão do luteranismo americano. Vejamos as principais perguntas e argumentações surgidas especialmente no debate entre os Sínodos Luteranos de Missouri e Ohio.

1. Causa da eleição.

LCMS – Só há duas causas: a) A misericórdia de Deus e b) Os méritos de Cristo.

OHIO – Concordo, mas há ainda uma terceira: em vista à fé e sua perseverança até ao fim.

LCMS – Impossível. Esta doutrina chama-se A Eleição da Graça, que exclui qualquer mérito ou dignidade de nossa parte.

OHIO – Não queremos afirmar que a fé é a razão da eleição, mas o caminho pelo qual se chega à eleição. As provas bíblicas são: Rm 8:28: Os que conheceu...; Hb 11:6: Sem fé é impossível agradar a Deus.

LCMS – Que Deus previu a fé, não negamos, mas que os escolheu por causa da fé, rejeitamos. Em Rm 8:29 a palavra "conhecer" foi muitas vezes mal interpretada. É um conhecer poderoso, um propor. E em Hb não se trata da eleição, mas só da fé. A fé não dá nada, nem é causativa. Deus é o "autor e mantenedor da fé" (At 13:48; Rm 8:29-30).

OHIO – Não posso concordar. Então a eleição é absoluta, infalível. A pessoa eleita pode fazer o que quiser e será salva de qualquer forma, se quer ou não quer? Isto é forçar a salvação.

LCMS – O caminho pelo qual o eleito alcança a eleição é o caminho da fé.

OHIO – Não posso concordar. Na vossa doutrina, a fé brota da eleição. Faltando a eleição, a pessoa não chega à fé. Vossa doutrina é calvinista e contrária à graça universal de Deus, 1 Tm 2:4.

LCMS – Afirmar que nossa doutrina da eleição é absoluta e incondicional, e que por isso os eleitos podem fazer o que querem, não é verdade. Isto perturba a doutrina da eleição da graça e não é a nossa doutrina. Cristão se consolam com a doutrina no sentido de crerem e confessarem a graça de Cristo, conforme a explicação do Terceiro Artigo do Credo Apostólico. Por isso todo o cristão se apega aos meios da graça e luta por vida santificada. Por outro se consola de que Deus fará tudo para preservá-lo na fé e levá-lo ao lar celestial. Deus é claro: Nenhum eleito se perderá (Mt 24:24). Os não eleitos não foram predestinados para a condenação. Este ensino nossa razão não consegue harmonizar.

Por esta razão rejeitamos a argumentação de que nós estamos ensinando uma "salvação forçada". Se a Escritura afirma que Deus elegeu uma parte da humanidade para a eterna salvação, isto não é outra cousa do que afirmar que Deus determinou desde a eternidade, que estes pecadores, em determinada ordem, pela ordem da salvação serão salvos e ele só quer salvá-los por esta ordem. Falar aqui de uma eleição condicional e incondicional não convém. Pois uma eleição condicional, na qual o homem deve realizar algo, para ser eleito, não existe. Mas em se tratando na eleição da graça, falar aqui de uma realização humana em contraposição ou resposta, destoa da eleição. Então esta doutrina não poderia ser mais chamada de eleição da graça, porque a pessoa merece a graça por sua ação. E o que o homem poderia realizar para ser eleito?

Mas, por a eleição da graça não ser ou acontecer simplesmente assim que Deus salva as pessoas sob qualquer condição, mas por uma determinada ordem, a saber a ordem da salvação, como confessamos na explicação do Terceiro Artigo do Credo Apostólico: "Creio...que o Espírito Santo me chamou pelo evangelho, iluminou com seus dons, santificou e conservou na fé verdadeira." – assim ela deve ser descrita conforme a palavra de Deus e apresentada assim, que esta decisão e decreto compreendem, que Deus fará nos eleitos tudo o que for necessário e pertence à sua salvação. Não faltará nada. Ele os quer salvar completamente por seu Filho Jesus Cristo e completa tudo o que sua santificação requer, até que alcancem a vida eterna. Mas por estarem no mundo, cercados de inimigos: Satanás, mundo e carne, que procuram destruir a fé, Deus não colocou a salvação em suas fracas mãos, como se dissesse: Eu vos coloquei de pé, agora cuidem para prosseguirem e alcançarem a salvação final. Não, ele tomou a salvação, princípio e fim, em suas próprias mãos. Ele gera a fé e conserva até ao fim. 

2. Decisão e Conversão

OHIO – Conforme a Escritura, o mundo se divide em duas classes de pessoas: os eleitos e os não eleitos. Os eleitos são aqueles que se posicionam corretamente diante da graça de Cristo e se convertem. Deus ordenou a todos que se arrependam e convertam. Os que dão lugar ao Espírito Santo, reconhecem e lamentam seus pecados e deixam de resistir obstinadamente ao Espírito Santo, estes se posicionam corretamente diante da graça. Estes comportam-se corretamente diante da graça, isto não acontece por forças naturais próprias, mas pela graça de Cristo; quando uma pessoa ouve a palavra e pelo ouvir recebe forças para poder tomar a posição correta, dar lugar ao Espírito Santo e atender ao chamado divino, tomar sua decisão.

LCMS – Não posso concordar. Em primeiro lugar, a Bíblia não conhece uma eleição para a eterna condenação, confere Os 13:9. Em segundo lugar a pessoa espiritualmente cega, morta e inimiga de Deus não tem condições de tomar uma decisão a favor de Deus, ou valer-se da graça para então decidir. Ela está espiritualmente morta e é escrava de Satanás. O morto não pode tomar decisão. Nós não nos damos a vida, mesmo tendo o triste poder de nos suicidar e estragar ou arruinar a vida que recebemos como um dom.

OHIO – Não posso concordar. Veja em Jo 3:16 diz: "Para que todos os que nele crêem." Logo, é uma decisão da pessoa. No convite para casamento, fica muito claro que alguns aceitaram outros não. (Mt 22:1-14). E Deus acolheu aqueles que aceitaram como hóspedes. Assim é a eleição da graça.

LCMS – Quero lembrar que a Escritura interpreta a Escritura. Quando a Escritura fala da eleição da graça, ela é muito clara em afirmar que a causa da eleição é a graça, do começo ao fim. (Cf.: 2 Tm 1:9; Ef 1:3-6; At 13:48; Rm 8:29-30). A passagem de Jo 3:16, não fala da eleição, nem como alguém é eleito, mas do amor universal de Deus. Por isso não serve para expor a doutrina da eleição da graça. Antes mostra que Deus ama a todos e não quer a morte do pecador.

OHIO – Por isso insisto de que a pessoa deve se posicionar corretamente diante da graça. Ela deve valer-se da lei e da graça divina, o que causa a conversão.

LCMS – Conforme a palavra de Deus, toda a obra da conversão é obra exclusivamente divina. Diz o profeta: "Converte-me e serei convertido" (Jr 31:18). E o apóstolo Paulo afirma: "Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade" (Fp 2:13). Pela lei o Espírito Santo opera o reconhecimento de nossos pecados, a contrição e desespero. Pelo evangelho opera a fé, a alegria no perdão, a confiança na graça, a nova vida. O apóstolo Paulo diz: "ele nos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados" (Ef 2:1). Conforme a palavra de Deus a conversão é obra do Espírito Santo. Nisto somos puramente passivos. Depois da conversão cooperamos porque e enquanto o Espírito Santo opera. 

III – UMA AFIRMAÇÃO ESCRITURÍSTICA E CONFESSIONAL SOBRE A DOUTRINA DA ELEIÇÃO DA GRAÇA. 

A Statement of Scriptural and Confessional Principles of the Election of Grace. Trad. Rev. Horst Kuchenbecker. 

35 Por eleição da graça entendemos a verdade de que todos os que são trazidos à fé o são somente pela graça de Deus, por amor a Cristo, pelos meios da graça, assim são justificados, santificados e preservados na fé aqui no tempo. Todos estes foram, na verdade, desde a eternidade agraciados por Deus com fé justificação, santificação e preservação na fé, e isto pela mesma razão, a saber, somente pela graça, por amor a Cristo, e pelos meios da graça. Que isto é doutrina da Escritura é evidente das seguintes passagens: Ef1:3-7; 2 Ts 2:13; At 13:48; Rm 8:28-30; 2 Tm 1:9; Mt 24:22-24. Confere ainda: FC DS Art. XI. 

36 Conforme isto, rejeitamos como contrário à Escritura o erro de que não somente a graça e o mérito de Cristo são a causa da eleição da graça, mas que Deus tem, em adição, achado ou levado em conta algo de bom em nós, que o levou ou moveu a nos eleger, estas coisas podem ser designados como "boas obras", "conduta correta", "correta decisão própria", "não resistir obstinadamente", etc. A Escritura, porém não conhece uma eleição em vista à presciência de Deus, como se a fé viesse através da eleição; conforme a Escritura, no entanto, a fé que os eleitos têm no tempo repousa sobre as bênçãos espirituais que Deus lhes concedeu por sua eterna eleição. Por que a Escritura ensina: "E creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna" (At 13:48). Nossas Confissões testificam: "A eterna eleição de Deus, porém, não só vê e sabe antecedentemente a salvação dos eleitos, mas por graciosa vontade e beneplácito de Deus em Cristo Jesus, também é causa que cria, opera, ajuda e promove a nossa  salvação e tudo o que a ela pertence. A nossa salvação está fundamentada nisso de maneira tal, que "as portas do inferno" (Mt 16:18) nada podem contra ela, como está escrito: "Ninguém me arrebatará da mão as minhas ovelhas" (Jo 10:28). Também: "E creram todos os que haviam sido destinados para a vida eterna" (At 13:48) (FC, DS, Art. XI.8) 

37 E, com a mesma seriedade com que mantemos que há uma eleição da graça ou uma predestinação para a salvação, também ensinamos decididamente que não há uma eleição para a morte, ou para a eterna condenação. A Escritura claramente afirma que o amor de Deus ao mundo é universal, isto é, abraça todas as pessoas sem exceção, que Cristo reconciliou toda a humanidade com Deus, e quer sinceramente levar todos à fé, preservá-los nesta fé e assim salvá-los, como a Escritura afirma: "O qual (Deus) deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade" (1 Tm 2:4). Ninguém se perde porque Deus o predestinou ao inferno. A eleição eterna é a causa porque o eleito, no tempo, chega à fé, At 13: 48, mas a eleição não é a causa porque alguém permanece incrédulo mesmo ao ouvir a palavra de Deus. A Escritura mostra que a razão de sua incredulidade é o fato de que esta pessoa julga a si própria indigno da vida eterna, rejeitando a palavra de Deus e resistindo obstinadamente ao Espírito Santo, que sinceramente quer levá-la ao arrependimento e à fé pelos meios a palavra de Deus, At 13:46; At 7:51; Mt 23:37. 

38 Para termos clareza, é preciso observar a clara distinção que a Escritura faz entre a eleição da graça e a graça universal. Conforme a graça, Deus abraça todas as pessoas; na eleição da graça, no entanto, não se refere a todos, mas somente a um número definido, que "Deus (vos) escolheu desde o princípio para a salvação" (2 Ts 2:13). E a Escritura fala em "remanescente que será salvo" "se o Senhor não tivesse deixado descendência" (Rm 9:27-29), "a eleição" (Rm 11:7). Esta graça universal é rejeitada na maioria dos casos, Mt 22:14; Lc 7:30, mas a eleição da graça alcança o seu objetivo com todos os que ela abraça. Isto não coloca os dois grupos em oposição de um ao outro, pelo contrário, ensina que a graça age, naqueles que estavam tão perdidos como todos, de forma sincera e eficaz, operando a conversão. Nossa razão cega, na verdade, declara estas duas verdades como contraditórias. É preciso não dar ouvidos à razão, mas ouvir a palavra de Deus. Diante da luz celestial (1 Co 13:12), a desarmonia desaparece. 

39 Por outro, pela doutrina da eleição da graça, a Escritura não está ensinando que, conforme uma parte do conselho de Deus da salvação, ele quer recebe no céu aqueles que perseveraram na fé até ao fim; mas, pelo contrário, a Escritura ensina, que Deus, antes da fundação do mundo, por pura graça, por causa da redenção de Cristo, escolheu para si um número definido para trazê-los, por palavra e sacramento, à fé e salvação.

40 Os cristãos podem e devem estar certos de sua eleição eterna. Isto é evidente do fato de que a Escritura endereça a doutrina da eleição aos eleitos para confortá-los com esta doutrina, Ef 1:4; 2 Ts 2:13. Esta certeza da própria eleição da graça brota unicamente da fé no evangelho, a certeza de "que Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça mas tenha a vida eterna" (Jo 3:16). Porque Deus não enviou o seu Filho para julgar o mundo, pelo contrário, para salvá-lo por seu sofrer e morrer, pelo qual reconciliou completamente o mundo consigo mesmo. Confiança nesta verdade não deixa espaço para medo de que Deus continua a nos julgar e condenar por sua lei. A Escritura afirma: "Aquele que não poupou a seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura não nos dará graciosamente com ele todas as cousas. Quem intentará acusação contra os eleitos de Deus? É Deus quem os justifica" (Rm 8:32,33). Lutero, firmado na Escritura, recomenda em seu sermão: "Fixe seus olhos sobre as feridas e o sangue de Cristo e sua predestinação brilhará forte (St. Louis Ed. II.181; on Gn 26:9). Que os cristãos adquirem esta certeza pessoal de sua eleição eterna por este caminho, também é mostrado por nossas Confissões: "Disso não devemos julgar de acordo com nossa razão, nem segundo a lei ou por qualquer aparência exterior. Também não devemos atrever-nos a investigar  o abismo secreto e oculto da predestinação divina, mas devemos atentar na vontade revelada de Deus. Pois Ele nos revelou e "desvendou o mistério da sua vontade" e o manifestou por Cristo, para que fosse pregado Ef 1:9,10; 2 Tm 1:9-11 (FC, DS Art. XI.26). A fim de nos assegurar um método apropriado de ver a eterna eleição da graça e a certeza cristã com respeito a ela, as Confissões Luteranas colocam uma série de princípios: "Essa eterna ou ordenação de Deus para a vida eterna também não deve ser considerada no conselho secreto e inescrutável de Deus tão nuamente como se nada mais compreendesse, ou como se nada mais a ela pertencesse, e nada mais houvesse de ser considerado nela, senão isso que Deus previu quem e quantos deveriam ser salvos, quem e quantos deveriam ser condenados, ou que apenas passou em revista assim: Este deve ser salvo; aquele, não; este há de perseverar; aquele, não." (FC, DS Art. XI.9). Mas, continuam as Confissões: "A essa fantasia é pensamento errôneo deve contrapor-se este fundamento claro, que é certo e não pode falhar: uma vez que "toda Escritura é inspirada por Deus" e se destina a servir não para segurança e impenitência, mas "para a repreensão, para correção, para a educação na justiça" (2 Tm 3:16); igualmente, visto que tudo na palavra de Deus nos foi prescrito não para que fôssemos com isto levados ao desespero, mas "a fim de que, pela paciência, e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança" (Rm 15:4). Por isso, sem sobra de dúvida, o entendimento são ou o uso correto da doutrina da eterna presciência de Deus de modo nenhum é que por ela se cause ou fortaleça impenitência ou desespero. Assim também a Escritura de outro modo não propõe essa doutrina senão de forma que por ela nos remete à palavra Ef 1:13; 1Co 1:21,30,31; exorta-nos ao arrependimento 2 Tm 3:16; insta por vida piedosa Ef 1:15ss; Jo 15:3,4,10,12,16,17; fortalece a fé e torna-nos certos de nossa salvação Ef 1:9,13,14; Jo 10:27-30; 2 Ts 2:13-15". (FC, DS Art. XI.12). Para resumir, assim como Deus no tempo atrai os cristãos a si pelo evangelho, assim ele já, em sua eterna eleição, lhe concedeu "para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade" (2 Ts 2:13). Por isso: Se, pela graça de Deus, você crê no evangelho do perdão de seus pecados pela graça de Cristo, você deve estar certo que você pertence ao número dos eleitos de Deus, conforme a Escritura 2 Ts 2:13, endereçada aos fiéis de Tessalônica como eleitos de Deus que louvam a Deus pela eleição.

Rev. Horst Kuchenbecker  - São Leopoldo - RS

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