A Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB) afirma em seus Estatutos, Artigo 3, que "aceita todos os livros canônicos das Escrituras Sagradas, do Antigo e do Novo Testamento, como palavra infalível, revelada por Deus. Como única exposição correta da Escritura Sagrada, aceita os livros simbólicos da Igreja Evangélica Luterana, reunidos no Livro de Concórdia, de 1580, e não admitirá alteração alguma desta norma."
Com isto nós nos consideramos verdadeiros herdeiros da Reforma. Somos gratos a Deus e o louvamos por ter dado e preservado esta verdade em nosso meio.
Para que esta verdade não seja somente uma confissão no papel e de nossos lábios, mas do coração, vamos rever os três pilares da Reforma e qual o nosso compromisso com estas verdades.
I - Parte
Os três pilares da Reforma são: Somente a Escritura, somente por graça, somente pela fé.
A doutrina luterana e sua confissão não contêm, em si, novidades ou coisas bem especiais inventadas por Lutero. Novidades podemos encontraremos em outras religiões ou seitas.
A doutrina luterana tem sua base na Escritura Sagrada. Dai o primeiro pilar: Somente a Escritura. Só e unicamente a Escritura, a palavra escrita de Deus é a única norma para a fé e a vida. Isto precisou ser reafirmado, pois a Igreja Católica na época e ainda hoje, mesmo afirmando ser a Bíblia a palavra de Deus, afirmam que somente o Papa de Roma e os Concílios têm a autoridade para interpretá-la corretamente. Assim acrescentam suas tradições à Bíblia. Lutero mostrou que Papas e Concílios têm errado. Por isso Lutero afirmou em Worms diante do Imperador, príncipes e Cardeais: "A não ser que eu seja convencido pela Escritura, não posso revogar."
Poucos anos depois surgiu outra luta. O pregador suíço, Zwinglio, que no início concordou com Lutero, mas depois se desviou da verdade. Lutero notou com espanto e tristeza que Zwinglio colocou a razão humana como juiz supremo sobre a Bíblia. No ano de 1629, os dois se encontraram em Marburgo para um debate. O mesmo girou em torno da pergunta: Podemos confiar nas palavras de Jesus: "Isto é o meu corpo, isto é o meu sangue, dado e derramado por vós para remissão dos pecados." ou devemos interpretá-las simbolicamente? Porque a razão humana não pode compreender como o verdadeiro corpo de Cristo pode estar presente em todo o mundo na celebração da Santa Ceia. Lutero defendeu que a razão humana não é juiz da Palavra é soberana e confiável, quer eu a compreenda ou não.
Após diversas lutas o pilar da Reforma foi firmado e estabelecido: Só e unicamente a Palavra é norma na igreja para a fé e vida.
O segundo pilar é: Somente por graça, isto é, somos salvos somente pela graça de Cristo sem as obras da lei. Isto porque a igreja Católica na época e ainda hoje, ensina que Cristo fez a sua parte e nós temos que fazer a nossa parte, completar a salvação por nossas obras. Somos salvos pelos méritos de Cristo e nossos. Lutero mostrou que nossas obras, por mais nobres que sejam, são todas imperfeitas e não subsistem diante do tribunal de Deus, se não forem purificadas pelo sangue de Cristo.
Cristo, como substituto de toda a humanidade, cumpriu a lei perfeitamente, por seu sofrer e morrer na cruz, pagou pelos pecados de toda a humanidade, e ao ressuscitar dos mortos, o Pai demonstrou que aceitou o sacrifício de Cristo, e que Cristo triunfou sobre nossos inimigos: pecado, morte e Satanás. Com isto estava firmado o segundo Pilar: Somente pela graça de Cristo, baseados nas seguintes afirmações da Escritura:
- Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. (João 3.16 RA)
- Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie. (Efésios 2.8-9 RA)
- Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões, e nos confiou a palavra da reconciliação. (2 Coríntios 5.19 RA)
O terceiro pilar trata da fé. Somente pela fé. Os entusiastas da época e ainda hoje, ensinam que a Escritura é a palavra de Deus e que somos salvos pela graça de Cristo por fé. Mas quanto à fé, eles ensinam que ela é uma decisão da pessoa, um decidir-se por Cristo, uma ação humana e com isto uma boa obra. Eles fazem a salvação depender desta obra da decisão. E por a salvação depender da ação humana, negam o batismo de crianças.
Firmado na Bíblia, Lutero ensinou claramente que somos espiritualmente cegos, mortos e inimigos de Deus. Ninguém pode crer por própria força. Por isso confessamos com Lutero na explicação do terceiro artigo do Credo: Creio que por minha própria razão ou força não posso crer em Jesus Cristo meu, senhor nem vir a ele. Mas o Espírito Santo me chamou, iluminou com seus dons e me conserva na única fé verdadeira. (1Co 2.14; Ef 21.5; Rm 8.7; 1Co 12.3)
Assim foi firmado o terceiro pilar: Somente por fé que o Espírito Santo opera, gera, cria e mantém pelos meios da graça, Palavra e sacramentos: batismo e santa ceia.
Sobre estes três pilares repousa a doutrina da Reforma Luterana, firmados unicamente na Escritura.
Nesta doutrina remos verdadeiro consolo na aflição. Ela enche nosso coração de paz e esperança da vida eterna.
II - Parte
E agora? Qual é o nosso compromisso com esta verdade?
O apóstolo Judas Tadeu escreve em sua carta: Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos. (Judas 1.3 RA)
Judas nos exorta a "batalharmos diligentemente pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos."
Por que esta admoestação? Isto porque a palavra de Deus, como no tempo de Jesus e dos apóstolo, já foi considerada loucura e escândalo, assim o é ainda hoje. Hoje a mensagem da cruz está sendo atacada e criticada fortamente por pessoas que se chama cristãos. Eles a questionam, distorcem com armentos dos mais variados. Um dos principais é: Vivemos em outro tempo. Hoje não podemos mais aceitar esta palavra como ela. Não nos deixaos enganar Importa vigiar e orar.
Como se faz isto? Em primeiro lugar importa conhecendo bem esta verdade. Isto requer a leitura da Bíblia, a leitura de nosso Catecismo e se possível da Confissão de Augsburgo e da Fórmula de Concórdia, para nosso próprio consolo e para podermos testemunhar a outros, neste mundo em trevas e confusão.
Em segundo, importa lutarmos tanto interna como externamente por esta verdade doutrinária. Vocês vão ouvir muitas vozes, até em nosso meio, que querem nos desencorajar nesta luta. Eles dizem: No tempo de Lutero isto foi necessário, mas hoje vivemos em outros tempos. Tempo de paz e amor. Temos que deixar esta luta que só traz mais e mais divisões. Basta alguém conhecer o amor de Cristo, as outras doutrinas são de pouca importância, e assim por diante. Não. O apóstolo Judas nos mostra que a fé (a doutrina) nos foi entregue. A nós cabe administrá-la como bons mordomos de Cristo. Não temos o direito de abrir mão desta ou daquela doutrina. Não nos deixemos enganar.
Por isso o próprio Jesus nos diz: Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa. (Apocalipse 3.11 RA) Queremos batalhar com fidelidade pela doutrina que Deus nos deu e conservou em nosso meio através de nossos pais.
Apegar-nos a ela para nosso consolo. Ensiná-la em nossa família e zelar para que em nossa congregação ela seja claramente ensinada para bênção de nossos filhos, netos e bisnetos, sim até a vinda de Cristo.
Neste espírito queremos festejar a Reforma luterana, com júbilo, gratidão e renovado apega à verdade e fiel testemunho. Amém
São Leopoldo, 27/10/2008
Horst R. Kuchenbecker
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