A prática da Comunhão Fechada continua sendo um problema em nossa igreja confessional, a Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), especialmente a pergunta: Como administrá-la?
Aqui algumas reflexões a respeito, bem como sugestões de como administrar e anunciá-lo no culto.
Cultura pluralista
Vivemos numa sociedade pluralista. Pessoas diferentes, com idéias, religiões, costumes e opiniões diferentes, vivendo lado a lado, cada um com suas opiniões e pontos de vista, sem impor ou forçar outros às mesmas convicções. Pois, o que importa é a liberdade e a tolerância. Assim, mesmo que algumas igrejas luteranas, anglicanas e outras ainda têm suas confissões, na prática, no entanto, a maioria já não as segue. São livres para pensar e ensinar o que desejam[1].
O que significa, então, ser luterano confessional numa sociedade pluralista? Para muitos, ser luterano significa simplesmente ser cristão. E o que significa ser cristão em nossa sociedade? Para muitos significa ser uma pessoa de bem, honesta, filiada a uma igreja cristã, independente de sua confessionalidade. Pois hoje, de modo geral, doutrina não interessa. Mesmo membros de uma igreja confessional, na grande maioria já não conhecem a confissão de sua igreja e as congregações são livres para confessar e praticar o que querem. O que interessa é que cada um tenha a liberdade de se filiar à igreja que mais lhe convém, agrada e onde se sente bem, podendo mudar tantas vezes quantas quiser, e afirmam: Que bom que o fanatismo religioso passou.
Em si, nossa sociedade conhece somente três grupos religiosos: católicos, protestantes e espíritas. Sob protestantes entende todos os grupos evangélicos: Metodistas, Adventistas, Presbiterianos, Assembléia de Deus, Pentecostais, etc. Também nós somos incluídos no grupo dos protestantes, mesmo que não concordamos com isto. Mas, qual é nossa identificação como luteranos nesse conjunto de religiões ou em nossa sociedade? Isto deveria se mostrar, especialmente, em nossos cultos[2] e na celebração da Santa ceia.
O que acontece em nossos cultos? Cremos que Deus vem a nós por sua Palavra, por este meio ele nos fala, não por revelações especiais ou sentimentais. Por este meio, o Espírito Santo opera poderosamente e chama ao arrependimento, consola com o evangelho, a mensagem da morte expiatória de Cristo em favor da humanidade. Pelo pregador perdoa os pecados a todos que se arrependem, crêem na graça de Cristo e querem corrigir sua vida pecaminosa. Pelos seus sacramentos, ele age em nós. Pelo batismo opera a fé, no caso de crianças, no caso de adultos, sela a fé. Na Santa Ceia todos os que participam em nossos altares, quer creiam ou não, recebem em, com e sob o pão e o vinho o verdadeiro corpo e sangue de Cristo, dados e derramados por nós para remissão dos pecados, para selar o perdão e serem fortalecidos na fé nesta graça de Cristo; mas quem não crê na presença real do corpo e sangue de Cristo na Santa Ceia, recebe o corpo e sangue de Cristo para sua condenação, enquanto disso não se arrepender. É da responsabilidade dos que a administram, como bons mordomos de Cristo, zelarem para que ninguém vá inadvertidamente à Ceia do Senhor. (1 Co 4.11)
Quando expomos a doutrina bíblica, em especialmente a doutrina da Santa Ceia, o impacto é grande. Ouvimos comentários como: Os luteranos são muito rigorosos, são fechados, são muito duros, acham que só eles são os únicos donos da verdade. Falta-lhes o verdadeiro amor, etc. Em si, esses comentários não são novos. Os profetas e mesmo Jesus já os ouviram e experimentaram[3]. O que fazer? Mudar ou ser fiel ao nosso Senhor Jesus Cristo? Não pode nem deve haver dúvidas quanto a isso. Queremos continuar fiéis a Cristo, nosso Senhor.
A Comunhão Fechada
O termo Comunhão Fechada é talvez mais conhecido pelo pastores e menos entre nossos próprios membros luteranos. E onde é conhecido, frequentemente não é bem compreendido; sim, até questionado. Alguns membros até dizem: Que direito vocês pastores se arrogam em julgar a fé de outros cristãos? Ou então: Vocês não têm o direito de impedir alguém que deseja participar da Santa Ceia, que deseja o perdão de Cristo e quer participar dignamente dela, de julgar sua dignidade e impedi-lo a participar, só porque pertence a uma outra denominação religiosa. Isto são duas impressões erradas a respeito da Comunhão Fechada. Não julgamos a fé, nem queremos impedir alguém que conhece os principais ensinos da Escritura e os ensinos de Jesus sobre a Santa Ceia e quer participar dela dignamente. Vejamos, portanto, o que é a Comunhão fechada[4].
O termo provém da igreja antiga. O culto antigo tinha duas partes: a primeira parte era aberta a todos: crianças, jovens, catecúmenos, adultos, visitantes. Nesta parte havia cantos, orações, leituras da palavra de Deus e exposição da palavra de Deus, sermão. Após essa parte, crianças, catecúmenos e visitantes eram convidados a sair e irem para outras salas, e quem quisesse, poderia ir para casa. Somente os comungantes (aqueles que foram instruídos nas principais verdades cristãs, fizeram sua profissão de fé e estavam filiados à comunidade, ou tinham sua devida recomendação de outras comunidades irmãs) ficavam para a celebração da Santa Ceia. As portas eram fechadas, - daí o termo Comunhão Fechada[5], - então a Santa Ceia era celebrada. Essa prática durou 19 séculos. Com o surgimento do calvinismo e seu ensino de que a Santa Ceia não é um meio da graça, um sacramento, mas somente uma celebração de comunhão fraternal, e a expansão da igreja reformada, a prática da Comunhão Fechada começou a ser questionada.
Alguns tentaram a amenizar o nome. Em nossa igreja mãe a Lutheran Church Synod Missouri (LCSM) o termo Closed Communio (Comunhão Fechada), foi considerado muito duro e alguns o substituíram por Close Communion (Termo procedente da Igreja Batista. Comunhão próxima, íntima; em nosso meio por comunhão restrita). Muitos mantiveram o significado, como: Os que comungam juntos estão unidos na mesma fé e doutrina, os que se reconhecem como membros do corpo de Cristo[6]. Outros o diluíram, aceitando à mesa qualquer pessoa que ao ouvir o convite: Quem estiver arrependido e quer o perdão de Cristo, está convidado.
Em si, mudar o nome não é o caminho. Precisamos compreender o que significa Comunhão Fechada, isto é, por que fechada? Fechada a quem e até quando? Etc.
Para analisar a questão, precisamos perguntar em primeiro lugar: O que é a Santa ceia?
O que é a Sana Ceia?
Cear com alguém tem sido desde tempos antigos uma expressão de comunhão e amizade. Convidar alguém para a ceia é expressar que amamos a pessoa, nos sentimos unidos a ela. Recusar cear com alguém é expressão de separação, se rejeição e até de inimizade. Assim, por exemplo, os judeus jamais se sentariam à mesa com samaritanos.
Na multiplicação dos pães, (Jo 6) por exemplo, Jesus serviu pão a todos, mas ao instituir e celebrar a Santa Ceia não convidou todos seguidores em Jerusalém, mas somente seus discípulos que ele instruiu durante três anos, que haviam confessamos sua fé nele. Nestes termos o apóstolo Paulo também admoesta os fiéis em Corinto: Porventura o cálice da bênção que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? O pão que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo, porque todos participamos do único pão. (1 Co 10.16,17) E: Examine-se, pois o homem a si mesmo, e assim coma do pão e beba do cálice, pois, quem come e bebe, sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. (1 Co 11.28,29) [7]
Portanto, a Santa Ceia não é para a conversão de uma pessoa, mas para os convertidos, os que realmente são cristãos; "não para levar alguém ao arrependimento e à fé, mas para fortalecê-lo nisso; pela Santa Ceia a pessoa não é levado à graça para tornar-se cristão, mas para selar a graça que ela alcançou pela Palavra e na qual crê.. Não é como um remédio que tomado age, mas é como uma sala de tesouros, cujos tesouros só podem ser recebidos, tomados e segurados pela mão da fé[8]". Se alguém vem à ceia, ele precisa ser perguntado: O que você crê? Não podemos olhar seu coração, mas aceitamos sua confissão. A não ser que sua vida contradiz abertamente sua confissão. Quando tal pessoa vive em vícios, desonestidade, inimizades e é irreconciliável, etc. Aqueles que tornam claro por palavras e atos que não se arrependem e seus pecados e não crêem em Cristo, nem se importam com seu relacionamento com Deus, sendo impenitentes. Também aqueles que estão filiados a igrejas que professam doutrinas falas e não aceitam a doutrina da presença real de que recebemos o corpo e o sangue de Cristo com o pão e com o vinho, como as igrejas reformadas[9]. Mesmo que Calvino e seus seguidores dizem: Cristo está presente, mas negam a presença do seu corpo e sangue na Santa Ceia, pois para eles o corpo humano de Cristo está nos céus e Cristo está aqui só com sua divindade. Entre as pessoas nessas igrejas, há sem dúvida cristãos que, por terem sido erradamente instruídos e/ou por fraqueza de fé, são membros ali. Diante disso precisamos lembrar: Quem vai à Santa Ceia e não está arrependido de seus pecados, não crê que ali ele recebe pela boca, o pão o verdadeiro corpo e sangue de Cristo, dados e derramados para remissão dos pecados, como e bebe juízo para si. Portanto, quem participa da Santa Ceia sem a verdadeira fé é indigno e não recebe a graça de Cristo, mas em vez da graça recebe a ira, em vez da vida, a morte, em vez da bênção, a maldição. Ele se torna réu do corpo e do sangue de Cristo.
Dentro dessa discussão levantou-se a pergunta: Será que alguém que está no culto, ouve as leituras da palavra de Deus, o sermão e as palavras da instituição, não poderia tal pessoa chegar naquele momento à fé? Isto até pode ser possível, mas precisamos respeitar a praxe e ordem cristã. E a ordem é: Examine-se, pois, o homem... Portanto, o pastor precisa conhecer a confissão da pessoa antes da distribuição da Santa Ceia.
Aqui precisamos lembrar a Confissão de Augsburgo, artigo VII: Porque para a verdadeira unidade da igreja cristã é suficiente que o evangelho seja pregado unanimemente de acordo com a reta compreensão dele e os sacramentos sejam administrados em conformidade com a palavra de Deus. O Dr. Hermann Sasse lembra num artigo que isto significa a subscrição da Fórmula de Concórdia[10]. Pois reconhecemos que nossas Confissões são a única exposição correta das Escrituras.
Na Santa Ceia, em nossos altares, todas as pessoas recebem com o pão o verdadeiro corpo de Cristo e com o vinho, o verdadeiro sangue de Cristo, dado e derramado por nós para remissão dos pecados. Quem come e bebe, sem discernir o corpo, como e bebe juízo para si. (1Co 11.29)
Esta união sacramental é um mistério sobrenatural, incompreensível e indefinível, mas real, como as palavras o dizem. Negamos que seja um símbolo, uma transubstanciação, uma consubstanciação ou impanação.
Reformados ensinam uma presença só espiritual, recebida pela fé. Se queres saber se recebes a Cristo, precisas ver se crês. Neste caso a certeza está baseada na fé e não nas palavras de Cristo às quais a fé se apega. Aqui se levantou a pergunta: Deveria Lutero ter quebrado a paz por causa desta doutrina, uma vez que os reformados acreditam que Cristo está presente? Lutero não quebrou a paz, mas eles. A doutrina não é nossa. Não se trata de um simples jogo de palavras, mas da ordem clara de Cristo. Por isso Lutero disse: Tendes outro espírito. Não nos deixemos enganar pela aparência. A consagração litúrgica nas igrejas reformados e a mesma, mas eles colocam outro sentido nas palavras[11].
No tempo de Lutero, na cidade de Frankfurt am Main, luteranos e reformados celebraram a Santa Ceia junto. Ao ouvir isso, Lutero lhes escreveu uma carta na qual lhes diz:
Eu fiquei chocado ao ouvir que em uma e outra de vossas igrejas, em um e o mesmo altar, os dois grupos estão recebendo o mesmo sacramento. Uns acreditam que recebem somente o pão e vinho, enquanto outros crêem que recebem o corpo e sangue de Cristo. Como pode um pastor e cura de almas ser tão insensível e malicioso e não dizer nada sobre isso, deixando ambos irem seu caminho e cada um receber o sacramento conforme sua fé? Se tal pessoa existe, ela deve ter um coração mais duro que pedra, aço ou diamante. Ele precisa de fato ser um apóstolo da ira. (What Luther Says. Vol II, pág. 813)
Alguns acham estas palavras de útero bastante duras, pois hoje estamos acostumados a isso e até usamos palavras bonitas como: Hospitalidade Eucarística, julgando ser isto um ato de amor.
Importa lembrar que as palavras da instituição são palavras testamentais de Cristo. Não temos direito nem poder de mudá-las, sem cair sob o juízo de Cristo. Vamos lembrar a pergunta em nosso Catecismo, exposição de Schwahn:
A quem se não deve dar a Sana Ceia? A Santa ceia não deve ser dada:
1. aos ímpios e impenitentes manifestos;
2. aos hereges, pois a Santa Ceia é uma confissão de unidade de fé;
3. aos que deram escândalo e ainda não o removeram;
4. aos que não se podem examinar a si mesmos, como por exemplo, crianças e pessoas sem sentidos. (Cf.: Mt 7.6; 1 Co 11.29; At 2.42; Rm 16.17; Mt 5.23,24; 1 Co 11.28)
Isto inclui também igrejas que, mesmo confessando a presença real de Cristo na Santa ceia, mas que diferem em outras partes doutrinárias importantes, pois ao comungar num altar, eu endosso a doutrina daquela igreja. Cito aqui como exemplo a IECLB[12]. A Bíblia nos proíbe seguir falsos profetas[13]. A Santa Ceia é um testemunho de fé, da unidade de fé. Pois na Santa Ceia entramos na mais íntima comunhão com nosso Senhor Jesus Cristo, como membros do seu corpo[14]. Ouvimos também alegações como a seguinte: Bem, minha igreja ensina isso, mas eu não concordo, eu penso diferente, eu concordo mais com vocês? Isto pode ser possível, mas preciso julgar uma igreja não pelo que os membros julgam aceitar, mas por sua confissão básica escrita. E enquanto uma pessoa pertence a tal igreja, ela consciente ou inconsciente está assinando aquela doutrina, mesmo não concordando com ela na íntegra. Não praticamos a comunhão seletiva, isto é, aceitamos pastores, pessoas e congregações integradas numa igreja, pelo que elas particularmente aceitam ou crêem.
Não somos separatistas, nem nos arvoramos a julgar a fé nos corações, mas agimos em verdadeiro amor para com nosso salvador Jesus e as pessoas em nosso derredor, conforme as Escrituras. Quem age de forma diferente é um administrador infiel[15]. (At 20.28; 1 Co 4.1)
Lei e evangelho na prática da Comunhão Fechada
Alguns afirmam que a prática da Comunhão Fechada é confusão de Lei e Evangelho. Pois, essa prática torna o puro evangelho em lei. Ou, dizendo-o de outra forma: A administração da Santa Ceia é puro Evangelho, mas a prática da Comunhão Fechada a transforma em lei. Isto não é verdade. Quando refutamos comungar com alguém que não crê na presença real do corpo e do sangue de Cristo na Santa Ceia e com aqueles que não têm unidade confessional conosco, na verdade estamos aplicando a lei a essas pessoas, conforme a ordem de Cristo, para que se arrependam e então venham comungar conosco.
Por outro, quando não damos a Santa Ceia a alguém que não está unido conosco na fé e doutrina, condenamos o seu pecado como qualquer outro pecado ou heresia que deve ser condenada, para que a pessoa reconheça seu erro, se arrependa e busque a graça do perdão. Se isto não acontecer, não há unidade, e não adianta fingi-la. O apóstolo Paulo não admoesta os fiéis a criarem a unidade, mas preservaram a unidade do Espírito. (Ef 4.3) Para isso lembramos ainda o seguinte: Ao negarmos a alguém participar em nossa mesa da Santa Ceia, não estamos dizendo que essa pessoa não seja cristã, que ela não tenha fé. Sabemos que nas denominações heterodoxas ainda há suficiente palavra de Deus para que uma pessoa possa chegar à fé em Cristo. Pela fé são nossos irmãos em Cristo. Deus que conhece os corações sabe que é e quem não é cristão. A Santa Ceia, no entanto, requer unidade confessional na doutrina. Esta é a ordem de Jesus. (1 Co 10.16,17)
De nossa parte, todo o esforço deve ser feito para mostrar pela Escritura o correto uso do sacramento. Em muitos casos teremos ótimo efeito, mas nem sempre a palavra de Deus é aceita.
Comunhão Fechada e a cruz
Se a comunhão fechada é o caminho verdadeiramente bíblico para administrar o mistério do sacramento da Santa Ceia – e eu creio que o é – então devemos praticá-lo com toda a firmeza e amor. Se alguém se choca e ofende com a correta e apropriada forma de administrar o sacramento, cabe nos carregar o fardo, sem afligir nossa consciência. Isto faz parte do escândalo da cruz.
O confessionalismo decidido choca e traz o desprezo. A prática da Comunhão Fechada é um dos assuntos pelo qual nós luteranos ortodoxos ferimos a face da teologia do relativismo e do moderno ecumenismo. Não podemos fugir dessa luta ou deixar de carregar o peso dessa cruz. Antes queremos de forma clara, humilde, firme amorosa proclamar a palavra de Deus. Grande será o galardão daqueles que permanecerem fiéis até ao fim.
Aplicação prática da Comunhão Fechada
Como praticar hoje a Comunhão Fechada? Vimos que nos primeiros séculos crianças, catecúmenos e visitantes eram convidados para sair do recinto. A Santa Ceia era celebrada somente pelos comungantes com portas fechadas. Quando o cristianismo se expandiu, formando grandes congregações que construíram suas catedrais, surgiu o ato penitencial. Este, infelizmente, se corrompeu cedo, sendo considerado uma obra meritória. A Reforma Luterana corrigiu esse erro. Ela não aboliu a confissão, mas continuou a recomendá-la, não mais como lei ou ato meritório, mas como uma bênção do evangelho. Ela introduziu também a confissão corporativa, que foi depois incluída no culto. Lemos na Confissão de Augsburgo:
Os nossos pregadores não aboliram a confissão. Pois conserva-se entre nós o costume de não dar o sacramento àqueles que não foram previamente examinados e absolvidos...
E da confissão se ensina assim: que ninguém deve ser constrangido a contar os pecados designadamente. Porque isso é impossível, conforme diz o Salmo: Quem conhece os delitos?...
Os nossos pregadores, todavia, ensinam diligentemente que a confissão deve ser conservada por cauda da absolvição – que é sua parte principal e mais importante - , para consolo das consciências aterrorizadas, e ainda por algumas outras razões. (CA XXV,1,7,8.13)
Com isso foi introduzida a confissão e absolvição corporativa, que com grupos menores, os chamados cultos confessionais, antes do culpo principal e também como introdução ao culto principal, como o conhecemos hoje, com a primeira parte do culto: Mensagem confessional, confissão e absolvição. E para fazer jus à afirmação da Confissão: Ninguém é admitido ao sacramento sem previamente examinados, foi introduzida a inscrição para a Santa Ceia junto ao pastor, por vezes em horários especiais, ou antes do culto.
E hoje, qual a prática? A inscrição para a Santa Ceia é reduzida a um livro na entrada da igreja, onde as pessoas podem se inscrever, mais para um fim de estatística[16]. O pastor ao distribuir a Santa ceia, na verdade, não tem a mínima noção de quem e quantos virão. Em várias congregações não há mais o sermão confessional, em vez disso a confissão é reescrita e alongada, bem como a absolvição. Infelizmente, muitas vezes confusa, ou em tom de um universalismo assustador. Neste mesmo tom o convite para a Santa Ceia é feito.
O que dizer de tudo isso? Há uma urgente necessidade de a IELB elaborar diversos folhetos sobre o assunto:
a) Folheto, estudo. Expondo a doutrina da Santa Ceia de forma clara para nossos membros, com um convite e incentivo á participação. Justificando a Comunhão Fechada, para que saibam explicá-la a seus parentes e visitantes.
b) Inscrição. Voltar à boa prática da Inscrição para a Santa ceia junto ao pastor[17].
c) Sermão Confessional. Voltar ao sermão confessional, com um programa bem elaborado sobre temas doutrinários como arrependimento, fé, vida santificada.
d) Cultos evangelísticos. Onde há dois cultos no domingo, que um seja sem Santa Ceia, como culto evangelístico. E onde há cultos dominicais, que haja pelo menos um culto sem Santa ceia, para que os membros possam convidar amigos e interessados especialmente para estes culto. Neste culto deveriam ser feitos também os batismos, o que evitaria muitos constrangimentos e o alongamento do culto, com dois sacramentos.
Comunicando nossa praxe da Comunhão Fechada
Há uma necessidade de, constantemente, instruir nossos membros a respeito, a fim de evitar que o pastor faça o aviso sobre a Comunhão Fechada nos cultos, mas nossos membros não o compreendendo, nem concordam, digam a seus parentes: Isto é mania de nosso pastor, que eu acho um absurdo.
Como, porém, comunicá-lo oralmente bem como por escrito em nossos boletins, para que os visitantes o possam compreender razoavelmente? Eis aqui algumas sugestões:
1. Ao celebrarmos a Santa ceia, lembramos o seguinte: A Igreja Evangélica Luterana do Brasil (IELB), à qual nossa congregação está filiada, pratica a Comunhão Fechada. Isto significa que ao irmos à Santa Ceia, damos testemunho e enfatizamos nossa unidade confessional de fé. Nós cremos que na Santa Ceia recebemos junto com o pão e o vinho o verdadeiro corpo e sangue de Cristo, dados e derramados para remissão de nossos pecados, e quem não o crê, recebe a Cristo para juízo. Por isso admitimos aos nossos altares somente
- membros confirmados em nossas congregações, ou igrejas com as quais mantemos comunhão de púlpito e altar.
- Visitantes ou membros de outras denominações religiosas, que gostariam de no futuro comungar conosco, solicitamos que falem, após o culto, com nossos pastores, para receberem a devida orientação.
2. Ao nos preparamos para esta segunda parte do culto, a celebração da Santa ceia, ouvimos por vezes a pergunta: Por que a Igreja Luterana só convida seus próprios membros comungantes e não a todos para a Santa Ceia? Isto porque o apóstolo Paulo adverte: Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. (1 Coríntios 11.28-29 RA) Por isso admitimos somente pessoas que foram corretamente instruídos, fizeram profissão de sua fé e estão filiados à nossa Igreja. Visitantes que gostariam de no futuro comungar conosco, convidamos para falaram com nossos pastores, após o culto. Obrigado pela compreensão.
3. Ao celebrarmos a Santa Ceia neste culto, convidamos para a mesma somente os membros comungantes da Igreja Ev. Luterana, que estão arrependidos de seus pecados, crêem na graça de Cristo e querem sinceramente corrigir sua vida pelo auxílio do Espírito Santo. Por ser uma confissão de plena unidade de fé, pedimos aos visitantes e membros de outras igrejas que, se desejarem no futuro comungar conosco, falem primeiro, após o culto, com nossos pastores.
4. O apóstolo Paulo nos admoesta dizendo: Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice; pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si. (1 Coríntios 11.28-29 RA) A Ceia é como um remédio que deve ser administrado corretamente e para o propósito certo, para que faça o bem e não seja prejudicial. Por essa razão, pedimos aos visitantes que não pertencem à nossa Igreja que, se desejarem no futuro comungar conosco, falem primeiro, após o culto, com nossos pastores.
5. A primeira vez que Jesus distribuiu a Santa Ceia, ele não a distribuiu a todos como na multiplicação dos pães, mas de forma reservada a seus discípulos, aos quais ele havia instruído. Por essa razão, damos a Ceia a pessoas instruídas em nossa igreja e que estão em unidade de fé conosco. Visitantes que gostariam de no futuro comungar conosco, convidamos para falarem primeiro, após o culto, com nossos pastores.
6. Em acordo com a doutrina bíblica e praxe da Igreja Ev. Luterana, praticamos a Comunhão Fechada, praticada pela Igreja Cristã desde o seu início. Por não conhecermos o coração de alguém, precisamos seguir a prática de nosso Salvador que distribuiu a Ceia somente a seus discípulos, que confessaram sua fé. A prática é fruto de amor ao Salvador e aos irmãos. Pessoas que no futuro gostariam de comungar conosco, solicitamos que falem com nossos pastores após o culto. Agradecemos pela compreensão.
7. Em nossa Comunidade, a Santa Ceia é oferecida somente a membros comungantes de Igreja Ev. Luterana do Brasil, mediante prévia inscrição antes do culto. Aos membros que estão arrependidos de seus pecados, que crêem nas palavras de Deus: Tomai e comei, isto é o meu corpo, que é dado por vos... Bebei dele todos; porque este cálice é a nova aliança no meu sangue, dado e derramado em favor de vós para remissão dos pecados. Ao participarem testemunham da unidade de fé com os irmãos. – Pessoas de outras igrejas que no futuro gostariam de comungar conosco, por favor, falem com nossos pastores sobre o assunto, após oculto. Teremos prazer de expor a doutrina para tornar sua participação possível e uma bênção como irmãos na fé. Obrigado pela compreensão.
Conclusão
Isto são algumas observações e sugestões. Importa estudar esse assunto em primeira mão com a diretoria da Comunidade. Após concordância dela, nos departamentos e estudos bíblicos e dispor de folhetos sobre o assunto para toda a Comunidade.
Pastor Horst R. Kuchenbecker – São Leopoldo (RS), 2009
[1] Sasse, Hermann. Isto é o meu Corpo. Casa publicadora Concórdia, Porto Alegre, 1970, pág158.
[2] Mostrar-se no culto, isto é, em toda a estrutura, ambiente, liturgia, hinologia, sermões, etc. Por exemplo, nós temos a cruz, quer na lateral ou na torre, internamente o crucifixo sobre o altar. A cruz vazia procede dos Reformados com sua teologia da glória, que infelizmente está invadindo nossos templos também. Temos as vetes talares, para indicar que o pastor está falando não simplesmente como algum, mas como servo de Cristo, chamado e instalado. Isto tudo não são simples tradições, mas tem a ver com nossa teologia confessional.
[3] Muitos dos seus discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir? (João 6.60 RA)
[4] Dogmática de John T. Mueller (pág. 502) usa o termo "privativa". Sumário da Doutrina Cristã, (pág. 167) usa o termo "comunhão fechada".
[5] Um termo usado em todas as Igrejas Luteranas Confessionais do mundo.
[6] - Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão. (1 Coríntios 10.17 RA)
- Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz; (Efésios 4.3 RA)
- E perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações. (Atos 2.42 RA)
[7] O que recebemos na Santa ceia? Não devemos ir além das palavras da instituição: Isto é meu corpo, isto é meu sangue, dado e derramado por vós para remissão dos pecados." Portanto, a pessoa de Cristo sem dúvida está presente na ceia do Senhor, como está em toda a parte. Mas o que constitui o elemento celeste não é o Cristo todo inteiro, corpo e alma, humanidade e divindade, como Roma declara, mas apenas o corpo e o sangue de Cristo, preço de nossa salvação. Lemos na Dogmática de Mueller: O "Cristo inteiro" ou "a pessoa de Cisto" (calvinistas, romanistas, alguns teólogos luteranos modernos), porquanto Cristo nos oferece expressamente o seu corpo e sangue para ser comido e bebido. Além das palavras da instituição não devemos levar a argumentação com respeito a qualquer presença sacramento de Cristo. Somente seu corpo e sangue estão unidos aos elementos e são recebidos oralmente. (Luthardt). O corpo glorificado de Cristo ou o Cristo glorificado, segundo alegam Calvino e alguns teólogos modernos, uma vez que nosso Senhor designou como tais unicamente o corpo que foi dado e o sangue que foi derramado. A glorificação de Cristo nada tem a ver com a presença real na Santa Comunhão, a qual se baseia inteiramente a) em sua divina promessa: "Tomai, comei, isto é o meu corpo"; b) no fato da união pessoal, pela qual a natureza humana de Cristo recebeu, em verdade, atributos divinos (onipresença); de forma a poder estar realmente presente na Santa Ceia. Em outras palavras, a presença real fundamenta-se no fato de o corpo de Cristo ser o corpo do Filho de Deus. (idem págs. 492, 493)
[8] Pieper, Franz. Christilicje Dogmatik. Concórdia Publishing House, St. Louis, 1920, vol. III, p. 445
[9] Estas palavras: em, com e sob o pão e o vinho não estão nas Escrituras. Lutero as colocou para combater o erros dos Reformados e deixar claro que recebemos o corpo e o sangue de Cristo pela boca.
[10] Perguntamos: A Fórmula de Concórdia ainda está sendo estudada em nossas congregações? Temos o excelente livro do prof. Dr. Otto A. Goerl: Cremos por isso também Falamos. Nem sei se ainda está à disposição na Concórdia. Se não, deveria ser urgentemente reeditado, para poder se estudado em nossos estudos bíblicos e departamentos.
[11] Confere: Fórmla de Concórdia Dec. Sol., VII, 85; Mueller, Dogmática Cristã, págs. 492, 493. Pastorale de Walter, p. 181. Christiliche Dogmatik, Franz Pieper, vol. III, pág. 340ss.
[12] Nós temos muitas coisas em comum com a IECLB, mas divergimos também em muitas coisas. Por exemplo: Eles não tem unidade confessional (na doutrina). Eles tem o ministério feminino. Eles tem comunhão de púlpito e altar com igrejas reformadas, etc.
[13] Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes: afastai-vos deles. Rm 15.17.
[14] Porque nós, embora muitos, somos unicamente um pão, um só corpo; porque todos participamos do único pão. 1 Co 10.17. Esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz: Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos. Ef 4.3-6.
[15] Tendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue. At 20.28. Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados. Ef 4.1.
[16] Em algumas congregações, especialmente de nossa igreja irmã, a LCMS, há o cartão que o comungante preenche, o qual é recolhido junto com as ofertas ou após a oração geral.
[17] Em congregações maiores, onde há mais do que um pastor e onde membros da diretoria ajudam na inscrição, um dos pastores deveria estar na mesa de inscrição para poder falar com os que se inscrevem, ou, onde necessário orientar algum visitante.
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