O Senhor Jesus, quando instituiu a sua Igreja aqui na terra, nos ordenou para nos reunirmos em torno da Palavra e sacramentos, mas não nos deu regras de como conduzir a forma do culto. O NT no máximo recomenda que "tudo seja feito com decência e ordem" (1Co 14.40). A forma do culto, portanto está ancorada no princípio da liberdade cristã. No entanto, não estamos livres para ignorar a forma tradicional do culto e nem para conduzir o culto como cada um entender melhor. A liturgia é de propriedade da igreja do Senhor, está fundamentada na Palavra de Deus e é obra do Espírito Santo. Qualquer mudança deve visar o enriquecimento da adoração e beneficio do povo de Deus.
Quando firmadas na Palavra de Deus e tendo o objetivo de edificar a igreja do Senhor, as reformas e inovações podem trazer muito crescimento. Sob este prisma são bem-vindas. Afinal o culto é o momento onde o Senhor e a sua igreja se encontram. É como um casamento. É natural que este casamento esteja recheado de beleza, dignidade e reverência. Convocar a Deus e os fiéis para este encontro e depois apresentar uma festa pobre, sem alegria, onde tudo é sempre a mesma coisa, é questionável. Como povo de Deus somos chamados a servir ao Senhor não apenas com o melhor da vida, mas também de forma alegre e criativa. A obra do Senhor em nosso favor deve nos encorajar a evitar a monotonia e criar novas expressões de fé e adoração.
Partindo do princípio de que toda reforma e criatividade do culto quer visar a glória do Senhor e a edificação do povo de Deus, é preciso perguntar: Até que ponto cultos alternativos são possíveis e quais os critérios que deveriam norteá-los?
Primeiro: Mudanças litúrgicas não resolvem todos os problemas da igreja, pois inovar nem sempre significa enriquecer. Por trás do entusiasmo e vibração de um culto pode estar um conteúdo pobre com distorção de Lei e Evangelho, desprovido da graça e amor de Deus. Variedades litúrgicas, quando usadas apenas para inovar, em lugar de edificar podem confundir as pessoas. O foco central do culto não está na variedade litúrgica nem no fato de o culto ser uma cerimônia simples ou bem elaborada. O ponto fundamental é que todas as formas de culto, rito e cerimônias apontem Cristo como Salvador, mostrem a sua obra em favor do pecador e estejam fielmente firmadas nas Escrituras Sagradas. Toda reforma cúltica, variedade e inovação, que não visam este princípio, não passam de mero atrativo humano.
Está aí um dos grandes perigos da igreja atual. Ao querer agradar aos mais diversos sentimentos, pode-se cair na tentação de promover uma reforma sem conteúdo e uma inovação, cujo centro é o sentimento humano.
Segundo: Todo culto, seja do tipo tradicional ou num estilo mais espontâneo, precisa ter algum tipo de ordem. Do contrário, corre-se o perigo de valorizar um aspecto e outro menos ou até nada. Desde o início, dois momentos principais ocuparam o centro da liturgia do culto, a leitura e proclamação da Palavra, também chamada de culto da Palavra e a celebração da Santa Ceia, também chamado de culto da Eucaristia. São dois momentos que formam uma unidade, cujo grande objetivo é mostrar a obra de Deus por meio de Jesus Cristo. Sabemos que na igreja do Novo Testamento a Santa Ceia era parte imprescindível do culto. Os primeiros cristãos não se reuniam para ir à pregação, mas "com o fim de partir o pão" (At 20.7). Qualquer culto para ser culto cristão verdadeiro, precisa estar centralizado nos meios da graça, pois estes são os elementos que o Senhor instituiu para o culto.
Terceiro: A igreja é um conjunto de congregações. Uma certa uniformidade litúrgica, é saudável e sempre será uma boa forma de caracterizar a identidade e unidade da igreja.. A igreja passa a ser conhecida pela sua maneira de conduzir o culto. Se cada congregação estabelecer uma forma diferente, a igreja perde este vínculo de comunicação. Além disso, quando ela está unida na sua forma de culto, a igreja terá o seu jeito próprio de comunicar o Evangelho.
Quarto: Culto é o momento e o lugar de encontro entre Deus e seu povo. É a reunião dominical que celebra em conjunto a morte e a ressurreição de Jesus. O objetivo básico do culto é centralizar a nossa vida espiritual em Deus e Deus em nós e nos unir como irmãos na fé. É dar a oportunidade para que a igreja se volte a Deus. Esta união, no entanto, só é possível porque Deus se dá a nós através da sua Palavra e dos sacramentos e por meio de Cristo nos reconcilia consigo. Tudo o que for pregado, dito, ensinado e realizado, precisa ser de Deus e visar nossa comunhão e crescimento para com Deus e nossa resposta ao seu amor. Cada culto é a recapitulação da história da salvação. Cada culto lembra e resume a obra que Cristo realizou e aponta para o futuro, para a volta de Cristo. Assim, cada culto, oferece um tema Cristocêntrico e impede que assuntos sociais, éticos ou seculares se tornem o conteúdo principal do culto.
Quinto: Os luteranos formam uma igreja confessional e essencialmente litúrgica, que tem normas e elementos que caracterizam e orientam o seu culto. Um dos elementos que caracteriza o culto luterano é a sua própria liturgia. O culto segue uma estrutura herdada desde a igreja primitiva. E basicamente esta liturgia compreende a confissão e perdão de pecados, leitura da Palavra e a sua exposição, confissão de fé, orações, ofertas, hinos e cânticos, consagração e distribuição da Santa Ceia e a bênção.
Um culto luterano é aquele que está firmado na justificação pela graça de Deus, mediante a fé. Qualquer atividade cúltica precisa estar firmada no fato de que Deus, por sua graça e pela obra de Cristo veio ao nosso encontro para nos reconciliar consigo (2 Co 5.18-20). E esta graça é recebida pela fé. Para os luteranos, o centro do culto é Cristo o Senhor e este culto prega a vida e obra de Cristo em favor do pecador, como único caminho para a salvação. A nossa teologia de culto está firmada sobre o Evangelho do Senhor e sobre os Sacramentos. E o Evangelho e os Sacramentos são imutáveis, pois são estabelecidos pelo Senhor Jesus. O culto precisa estar em harmonia com a doutrina que confessamos. Sem esta base, é fácil de ser atingido por todo vento de doutrinas.
Por partes
Confissão de Pecados
Na confissão nos confessamos culpados de todos os pecados e merecedores da condenação eterna. A expressão "Senhor tu sabes que sou pecador", pode não expressar com integridade esta verdade. Da mesma forma, a enumeração de pecados, pode dar à entender que somos culpados só destes ou daqueles pecados.
Na confissão confessamos especialmente a nossa fé na graça de Cristo, e suplicamos o perdão a Deus por amor a Cristo em quem cremos. E como resposta da fé prometemos corrigir a nossa vida.
A Oração do Dia
É uma oração breve, concisa e própria para o dia. Ela tem a função de preparar corações e mentes para as leituras e o tema do dia. É também chamada de "coleta", porque ela reúne as principais necessidades da congregação em torno da temática do dia e as entrega a Deus para que ele as acolha em nome de Jesus. Aqui não é lugar para uma oração longa que abrange assuntos gerais. Estes são abordados na oração geral.
Leituras
A leitura da Palavra de Deus no culto, junto com a Santa Ceia é o momento de maior dignidade do culto, pois nada é mais importante do que aquilo que Deus tem a nos dizer e nos oferecer. É nas leituras que Deus fala de si mesmo e de como quer que nos relacionemos com ele e com o próximo.
O que se espera de quem vai ler a Palavra no culto é que a leia forma de clara, audível e compreensível, sem tropeços e gaguejos, porque é a palavra de Deus que está sendo lida. O leitor deve visar que, através da Palavra, o ouvinte conheça melhor a Deus e seus propósitos. Com algum treinamento, é possível desenvolver uma boa leitura. Ninguém deveria ser pego de supetão para fazer uma leitura no culto. É aconselhável que o leitor saiba com antecedência que vai ler no culto. Assim deveria fazer uma leitura prévia em casa, se possível em voz alta e várias vezes para quebrar todos os tropeços.
Fundamental é também observar a pontuação, a entonação e o lugar certo para respirar.
Oração Geral da Igreja
O propósito da oração geral é orar por tudo e por todos, é orar pelo povo de Deus e pelas necessidades da igreja e do mundo. Ela vai além das necessidades da congregação. Ela não deveria ser uma mera repetição da temática do culto. É fundamental que, para cada culto seja preparada uma oração. Não é conveniente o uso de orações livres, pois elas podem facilmente tornar-se repetitivas e podem fugir do propósito da oração geral.
Muitas vezes a oração geral tem sido uma recitação de nomes de doentes, enlutados e aniversariantes com a petição de que o Senhor "esteja" com eles. É bom lembrar que Deus ESTÁ sempre com eles, oremos nós ou não. É melhor orar para que eles "sintam" completamente a presença de Deus, ou que "reconheçam completamente" sua misericórdia e cuidado amoroso ou que Deus mova a NÓS para mostrar-lhes o amor de Cristo.
Cuidar para que o tópico "doentes e os que sofrem" não ofusque outros tópicos dignos de petição. No Pai Nosso, das sete petições, só há uma que pede por necessidades físicas ("O pão nosso de cada dia nos dá hoje"). As outras seis petições são todas sobre nossas necessidades espirituais ou sobre o Reino e a glória de Deus.
A ênfase deveria estar no evangelho e não na lei.
É natural que a oração geral tenha ênfase nas petições. Elas fazem parte do orar por tudo e por todos.
Ela é o momento adequado para agradecimentos. O tópico "doentes e os que sofrem" às vezes deixa a impressão de que ninguém na congregação melhorou de saúde ou estão todos ainda no hospital e ninguém está recebendo conforto ou encorajamento ou estão todos definhando em seus leitos de desespero.
Uma boa maneira de planejar as orações para os cultos do fim de semana seria estar com a Bíblia em uma mão e o jornal local na outra, com as necessidades espirituais e o avanço do Reino de Deus em nossa comunidade e nação como os tópicos primários de nossa lista.
(Rev. David Karnopp -Vacaria - RS)
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